segunda-feira, 6 de março de 2006

PORQUE VAI MAL PORTUGAL?

Há vários anos que muito boa gente neste país tem adiantado explicações para a degradação da situação económica nacional; os sucessivos governos imputam a responsabilidade à fraca produtividade nacional (leia-se dos trabalhadores nacionais), as associações empresariais e patronais apontam a responsabilidade à falta de flexibilidade das leis de trabalho e aos elevados salários (para estes como para os primeiros a responsabilidade também é dos trabalhadores) e outros à incapacidade de definição de uma correcta estratégia de desenvolvimento (falta de orientação política e de investimento em sectores competitivos).

Óbvio contributo para esta questão surgiu hoje com a notícia da divulgação em Bruxelas de um estudo, realizado pelo BRUEGEL (Laboratório de Economia Europeia e Global de Bruxelas) que se debruçou sobre os resultados da adopção do Euro.

Aquele organismo que é conhecido como um círculo de reflexão europeu, de iniciativa franco-germânica e especializado em questões de economia internacional, veio revelar algo que todos nós em Portugal já tínhamos consciência – a entrada do nosso país no Euro foi prejudicial à economia nacional.

Os autores do relatório vão mais longe e estabelecendo comparações entre diferentes economias comunitárias acabam por concluir que a principal razão para a deterioração da economia portuguesa foi a divergência entre as taxas de inflação e de crescimento económico face aos outros estados-membros da União Económica e Monetária. Enquanto a taxa de inflação portuguesa não deixou de subir (entre 1999 e 2005 variou entre 2,3% e 4,4%) o crescimento económico apresentou uma variação inversa, o que determinou uma degradação da competitividade das exportações (o estudo refere que em termos reais a “taxa de câmbio” portuguesa subiu 30%, o que em linguagem comum significa que no período em análise as exportações passaram a valer cerca de 2/3 do seu valor anterior).

Contrariamente a países como a Irlanda, que também registaram uma tendência inflacionista mas compensaram-na com o aumento da produtividade e uma melhor escolha dos sectores exportadores (produtos de tecnologia mais avançada e com maior valor acrescentado), Portugal reduzido à produção de têxteis, vestuário e calçado, sofreu ainda a forte concorrência de economias emergentes como a chinesa.

Para agravar ainda mais este cenário os governos do PS e PSD, chefiados por António Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes e José Sócrates, contribuíram com uma sucessão de más escolhas políticas, quando, mantendo a aposta no modelo de crescimento por via das exportações não conseguiram (ou não quiseram) perceber a fragilidade dos sectores exportadores nacionais, nem controlar o deficit orçamental.

Concluem os autores do relatório que o resultado da entrada do Euro foi desigual entre os diferentes países da UEM por via de:
- o desequilíbrio entre o apertado controle das políticas monetárias, fruto do pacto de estabilidade e crescimento;
- o laxismo das políticas económicas nacionalmente definidas e aplicadas;
e que o critério a aplicar aos novos candidatos (e que deveria ter sido aplicado aos actuais membros) deverá privilegiar a convergência real em detrimento dos desnecessários e insuficientes critérios de Maastricht.

Estarão agora entendidas as razões para o nosso fracasso?

Ou será que os nossos governantes (e os senhores que eles servem) vão ter o desplante de continuar a persistir em culpar os agentes económicos que mais têm sofrido com a situação e menos têm contribuído para ela?

Não sou eu quem o diz, são os economistas do BRUEGEL!

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