sábado, 29 de setembro de 2012

CONTRA OS MANDÕES, MANIFESTAR! MANIFESTAR!


Antecipando novas manifestações de contestação, Passos Coelho parece ter optado por uma estratégia de escalada na confrontação que o opõe aos cidadãos cujos destinos foi encarregue de governar, mas que cada vez mais trata como descartáveis.


Talvez sentindo-se respaldado pelo apoio de Belém e pela reconquistada fidelidade do parceiro Paulo Portas, depois do já desgastado discurso do “andámos a viver acima das nossa posses” – com o qual, apesar dos resultados práticos a demonstrarem desastrosa, ainda vão tentando justificar a política da “austeridade expansionista” – eis que somos agora mimoseados com a última pérola do dislate; na linha das declarações proferidas no início do mês pelos representantes do FMI, Comissão Europeia e BCE deixando claro que a «“Troika” culpa governo português por falhanço do programa» de que foram autores, é natural que agora o “bom aluno” Passos Coelho descarte as suas responsabilidades em ombros alheios e afirme que «“Se isto vai tudo correr bem ou tudo correr mal depende muito da nossa vontade colectiva”».

O clamor dos protestos e a contínua contestação e enxovalho a que os diferentes membros do Governo são regularmente sujeitos continuam sem receber destes a correcta interpretação e, a julgar pelos antecedentes, nem mesmo quando se ouve dizer do interior do PSD que «"Um dia destes os portugueses não terão paciência para ver a cara de Passos"» (como se essa não fosse já uma realidade), fará Passos Coelho afastar-se duma estratégia autista à realidade e insensível à faceta social que o acto de governar exige.

Entre omissões, meias verdades e mentiras, depois do completo “flop” político que foi a proposta de alteração da TSU, o Passos Coelho e Vítor Gaspar continuam a fugir duma explicação completa sobre as alternativas, enquanto Paulo Portas finge não perceber a nova vaga de aumentos nos impostos. Usando a estratégia de referir uma medida aqui, um aumento ali ou sugerir um corte acolá, ao sabor dos ventos e da audiência do momento mas sem nunca demonstrar uma coerência e uma fundamentação aceitável, esperará sobreviver ao temporal político que desencadeou escondendo-se atrás dos habituais “opinion makers” e do espantalho da crise política (que importa que o Governo aplique descaradamente um programa diferente daquele que submeteu a sufrágio), quiçá disfarçado numa remodelação que enxote as figuras mais controversas para que tudo possa continuar na mesma…

Aos que começaram por ser apelidados de piegas, aos que depois foi aconselhado o abandono da zona de conforto e recomendado que emigrassem, a todos os que se têm sentido insultados pelo arrivismo e pela demagogia de quem nos governa, até aos que da dignidade já se vêem esbulhados, resta proceder como recomenda o verso de Henrique Lopes de Mendonça e contra os mandões, manifestar! manifestar!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

RESPOSTA ÀS IDEIAS FEITAS


Alguns dias depois das manifestações contestando as políticas de austeridade (incluindo a peregrina ideia de alteração na TSU, convertendo-a numa clara e directa transferência de rendimentos dos assalariados para as empresas) que trouxeram para as ruas do país (literalmente, pois estas decorreram um pouco por todo o território nacional) mais de meio milhão de pessoas e doutra importante manifestação enquanto decorria um improcedente Conselho de Estado, eis que surgiu o anúncio pelo governo de Passos Coelho de que um «Agravamento do IRS para todos substitui abandono da TSU».


A decisão, perfeitamente integrada na sua linha de pensamento neoliberal a que nos habituou, representa afinal mais do mesmo (contínua redução dos rendimentos de quem trabalha enquanto os rendimentos do capital continuam praticamente isentos ou sujeitos a muito reduzidos agravamentos fiscais), pelo que de modo algum se pode aceitar sem repúdio comentários como o do ex-líder do PSD e conselheiro de Estado, Luis Filipe Menezes, que afirmou que «Recuo na TSU é sinal de “humildade democrática”». Como habitual os “homens fortes da política nacional” escondem-se e protegem-se uns aos outros atrás de afirmações sonantes mas absolutamente falsas. Nem a solução alternativa constitui qualquer recuo na política de destruição social nem revela a menor humildade, porque não reconhece os erros cometidos nem sugere a menor alteração ao modelo gizado: o do saque dos rendimentos do trabalho (englobando aqui os trabalhadores por conta doutrem, os pensionistas e os pequenos empresários cuja actividade depende exclusivamente do mercado doméstico). Este facto foi aliás reconhecido pelo próprio Conselho de Económico e Social ao afirmar que a «Austeridade atingiu sobretudo trabalhadores e pensionistas em 2011».

O pretenso recuo de Passos Coelho constitui apenas o mais recente episódio no crescente divórcio entre governantes e cidadãos – nada de novo nem inédito no plano nacional e internacional (veja-se o que sucede na vizinha Espanha, onde ontem se reuniram «Milhares de pessoas junto ao Congresso de Deputados em Madrid», ou na Grécia onde o «Governo de coligação da Grécia enfrenta hoje primeira greve geral») para contestarem as sucessivas políticas de austeridade) – e além de demagógico e prejudicial ao País é ainda absolutamente antidemocrático, pelo que a única resposta que merece é novas e maiores manifestações populares.

O próximo Sábado, data para a qual a CGTP convocou uma acção de rua contra as medidas de austeridade, constituirá mais uma oportunidade para confirmar a mobilização e a resistência do que o diário espanhol El Pais designa como a «Rebelião portuguesa», podendo mesmo marcar mais um dia de clara oposição às políticas que estão a conduzir os países periféricos da Zona Euro e a UE a afundar-se numa crise de origens espúrias.

domingo, 23 de setembro de 2012

ENTERRADOS EM TODAS AS FRENTES


Absorvidos que temos estado com as manobras do governo de Passos Coelho e a importância da clara resposta popular a uma política não orientada para a resolução dos problemas do endividamento e do défice, corremos o risco de deixar passar alguns acontecimentos no cenário europeu que, esses sim poderão representar um primeiro passo no sentido duma solução.

Enquanto em Lisboa, reunia sob a égide de Cavaco Silva um Conselho de Estado que o mesmo tornara redundante face às declarações proferidas nessa mesma manhã e que mais não fez que confirmar o enterro anunciado da amplamente contestada proposta de revisão da TSU...


...em Itália, «Monti recebe em Roma os primeiros-ministros da Grécia, Irlanda e Espanha», ou seja, os países mais afectados pela chamada crise da dívida da Zona Euro.

Mesmo ignorando-se se Passos Coelho foi ou não convidado a marcar presença – a imprensa não se fez eco da situação – a avaliar pela ausência concreta de qualquer vislumbre de política europeia no programa e na estratégia do actual governo, o mais certo é que Passos Coelho tenha preferido não marcar presença numa reunião que de algum modo poderia beliscar as posições da Alemanha e que afinal se saldou por pouco mais que a reafirmação de que «Samaras, Monti e Rajoy pedem “mais solidariedade na Zona Euro”» e de que «Monti defende maior partilha de soberania».

Posições que, há semelhança do ocorrido dias antes com o discurso onde «Durão Barroso defende “um novo rumo” para uma “federação de Estados-nação”» e com a anunciada iniciativa do BCE,que através do seu presidente «Mário Draghi lança novo programa de compra de dívida», permitem vislumbrar sinais duma tentativa de construção duma resposta política a uma questão que apenas marginalmente é de natureza económica.

O triste, é que ainda e sempre graças a um governo inepto, continuamos afastados dos centros onde, bem ou mal, se começam a desenhar as estratégias de recuperação europeia; no exterior a voz do país apenas se houve para mendigar compradores para as empresas públicas que ainda nos restam, pelo que uma vez mais ficaremos afastados de contribuir para a construção duma solução que obviamente servirá em primeiro lugar aos seus arquitectos.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

TSU (TODOS SABIAMENTE UNIDOS)


O sucesso da iniciativa “QUE SE LIXE A TROIKA! QUEREMOS AS NOSSAS VIDAS!” só poderá ter espantado os mais distraídos ou os mais incautos e reduzi-lo à contestação à redução da TSU (Taxa Social Única), suavizá-lo, como ensaia Vítor Gaspar quando afirma que «Manifestação “não foi de ruptura foi de força de carácter”», ou tentar esvaziá-lo, como o fez Pires de Lima ao afirmar que «Não é verdade que a maioria dos portugueses esteja contra a austeridade», são tentativas que além de canhestras revelam a verdadeira dimensão de autores e apoiantes das políticas finalmente contestadas na rua.


É óbvio que a principal preocupação da elite dirigente se centra agora na formulação da melhor via para ultrapassar as dificuldades que um governo inepto criou e que foram alimentadas e ampliadas por um Presidente da República temeroso e intelectualmente mumificado; a prova está na demorada convocação do Conselho de Estado e no tempo que aos conselheiros tem sido proporcionado para trocarem “mensagens” e “recados” através da comunicação social.

Nada de especial se atentarmos no que PSD, CDS e PS têm feito. À imagem e semelhança do anedótico governo de Santana Lopes, também agora Paulo Portas procura afanosamente escapar à derrocada sem mácula e com condições para enfrentar a remota opção de eleições antecipadas, enquanto os barões do PSD seguram Passos Coelho fingindo que o empurram (ou vice versa) e o PS proclama que só voltará ao governo com novas eleições.

No seu conjunto todos parecem interessados em desvalorizar a reacção popular, pois a forma frontal e categórica como se gritou nas ruas do país contra as políticas de austeridade (elo comum aos três principais partidos) limita profundamente a sua capacidade de manobra. O resultado da reunião magna (que segundo Daniel Oliveira deverá passar por um de «Os cinco cenários» ou por apenas três, como sugere Viriato Soromenho-Marques em «Cenários e sombras»), onde a grande disputa se deverá centrar entre a remodelação ou a formação dum novo governo nunca terá em conta o desejo de termos a vida de volta; o que dela resultar – seja uma simples e rapidamente ineficaz remodelação governamental ou um novo governo liderado por um tecnocrata (atenção a António Borges, ex-Goldman Sachs como o italiano Monti…) – será um claro sinal da habitual manipulação da vontade popular ignorando a mais importante conclusão das manifestações: o descrédito duma solução apresentada como inevitável e dos políticos incapazes de admitirem a existência de alternativas.

Como se não bastasse a disparidade de indicadores proporcionados pelas reuniões do conselho nacional do CDS e da comissão política do PSD (reunida para analisar as conclusões do conclave centrista), com a primeira a dar inquietantes sinais de incómodo na coligação e a segunda a apelar à reconciliação dos compartes, ou, no dizer de Vasco Graça Moura, a «Um entendimento elementar», e as já referidas opiniões públicas dalguns conselheiros (das quais destaco aquela em que Mário «Soares sugere nomeação de novo governo sem eleições»), há ainda que adicionar as habituais tergiversações de Cavaco Silva para ficarmos com a convicção que tudo será tentado para que nada mude…

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

UMA NOVA HISTÓRIA


Existe apenas uma forma adequada para responder a uma velha história: com uma nova história!

É que à velha história de como a República, com a sucessão de governos e de má gestão, conduziu o País à bancarrota e um singelo professor de Coimbra o reconduziu à abastança tem muito mais que contar que o que o professor João César das Neves deixa transparecer na sua crónica semanal no DN.

Primeiro; as origens do défice da I República não se devem apenas aos desmandos de sucessivos governos mas também da dívida acumulada dos tempos da monarquia e da que resultou do envolvimento na I Guerra Mundial e na manutenção das colónias africanas, e principalmente da desastrosa política de concessão de monopólios, mecanismo que remontava aos tempos da monarquia e através do qual se “taparam” sucessivos buracos orçamentais, para o agravar nos anos seguintes.

Segundo, o trabalho mirífico de Oliveira Salazar no «acerto das contas» não se resumiu às medidas más e muito más que implementou pela força duma ditadura, pois parte significativa do milagre passou por um processo de reestruturação da dívida. Na prática boa parte desta foi convertida (à força) num empréstimo perpétuo, ou seja, o Estado Novo recusou-se a amortizar o capital, algo que hoje, como o prof. César das Neves bem sabe, é considerado um incidente de crédito pelas omnipresentes agências de notação e uma solução que os políticos do arco do poder nem querem ouvir falar.

Tanto assim é que, não vá alguém lembrar-se da miraculosa solução de Salazar, o articulista nem sequer refere aquele acontecimento...

É claro que a História é uma importante fonte de lições que, por manifesta sobranceria ou evidente ignorância, muitos hoje esquecem, preferindo o discurso da inevitabilidade ou da ausência de alternativas e o grave é que neologismos como o da velha história (segundo César das Neves) apenas justificam a ignorância dos governantes enquanto tentam dar lições aos governados.

Quando após um ano de programa de assistência financeira se constata que o PIB desceu mais de 3%, o défice estimado em mais de 6% não se aproxima minimamente dos anunciados 4,5%, em vez de regredir a dívida pública cresceu mais de 26 mil milhões de euros e, para concluir, os números oficiais do desemprego já ultrapassam os 15%, só com muito boa vontade se poderia continuar a aceitar o retórico discurso da “austeridade expansionista” e admitir que o fracasso das políticas de austeridade será ultrapassado com... mais austeridade!


Há pois que construir uma nova história; recordar ensinamentos e erros anteriores, avaliá-los e construir uma alternativa onde o dogma do equilíbrio orçamental a qualquer custo seja substituído pelo da justiça social.

Para isso o primeiro passo deverá passar por uma auditoria à dívida, expurgando-a de toda aquela que esteja ferida de manifesta ilegalidade (i.e. a que resulte de obras não autorizadas, de obras cujo valor final ultrapassou os valores de adjudicação, de contratos que não tenham acautelado devidamente o interesse público, etc.); ao valor remanescente assim estimado, equivalente a uma redução da dívida com a significativa vantagem do novo valor não resultar dum cálculo arbitrário, deverá se objecto duma adequada renegociação de prazos e taxas que se ajustem à capacidade de crescimento e de criação de riqueza dos Estados.

Esta abordagem, do âmbito de cada Estado, deverá ser acompanhda, no caso europeu, duma outra de âmbito comunitário: o regresso à esfera pública do poder de criação de moeda. Por outras palavras, no caso da UE e do euro, significará que o financiamento público deverá ser assegurado pelo BCE em condições iguais (no mínimo) às que pratica para o financiamento do sector bancário. Este mecanismo além de reduzir substancialmente as pressões especulativas tem ainda a virtualidade de assegurar que o financiamento não será realizado a preços especulativos mas a uma taxa adequada. Para evitar um recurso desmedido ao endividamento deverão ser desenvolvidos mecanismos de controlo comunitário os quais poderão passar pela aplicação de taxas diferenciadas em função dos níveis de endividamento de cada Estado, mecanismo que, a par doutros de natureza orçamental, contribuirá ainda para reduzir riscos de natureza inflaccionista que só poderão ocorrer na circunstância dos Estados se endividarem acima das necessidades das respectivas economias. 

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

E AGORA, COMO FAÇO?


Conhecidas as últimas medidas do governo de Passos Coelho e sabido que no Parlamento Vítor «Gaspar reconhece que défice real ultrapassa os 6%», de pronto o mesmo «Gaspar confirma mais medidas extra para cumprir o défice» que afinal não deverá ser de 4,5% como prometido aos credores (FMI, BCE e UE) nem de 5%, como estes benemeritamente “autorizaram”.

Passado o choque inicial instala-se a dúvida… e agora, o que se seguirá?


Deixando de lado as tradicionais hesitações de personagens como o que raramente tem dúvidas e nunca se engana[1], daqueles cuja única dúvida consiste na escolha da melhor via para fugir ao fisco, dos que se preocupam com pouco mais que a sua popularidade (e a natural reeleição) e daqueles cujo grande objectivo na vida terá sido a dum bem remunerado emprego como cobrador de dívidas, responderei aos que se interrogam sobre a forma como irão sobreviver depois de mais alguns considerandos sobre a dura realidade que vivemos.

Provado que ficou que a política de austeridade, receitada pelo FMI e demais representantes de credores, não consegue atingir o propalado objectivo da redução dos défices e quando o próprio «CES alerta para o efeito negativo da austeridade na economia e na dívida pública», não podem restar quaisquer dúvidas que existe uma inconfessável agenda político-económica que norteia as opções dos responsáveis políticos. A famigerada austeridade expansionista defendida por Passos Coelho não passa afinal de mais uma estratégia que visa a aterrorização da população com o objectivo de alcançar uma alteração profunda ao modelo de distribuição da riqueza em claro benefício do factor capital, tanto mais que feitas algumas contas sobre as estimativas do encaixe com as novas medidas de austeridade facilmente se conclui «Gaspar pediu seis vezes mais do que precisa cortar para a nova meta do défice» ou seja, porque é que o governo que prometeu falar verdade (e fez disso “leitmotiv” da última campanha eleitoral) mente com a mesma regularidade e a mesma gravidade que os anteriores.

Não bastando já as reduções salariais resultantes da estagnação dos salários, as pressões criadas pela redução salarial imposta aos trabalhadores da função pública e do sector empresarial do estado, o agravamento superior a 60% dos descontos para a Segurança Social em benefício da redução da componente que era suportada pelas empresas (Taxa Social Única) só pode cumprir o mero objectivo de aumentar os resultados das empresas, com a agravante dos maiores beneficiados serem as grandes empresas e não as famosas PME que pomposamente figuram nos discursos de todo o político que se preze.

Se algum mérito se pode reconhecer nestas políticas é o de aproximar cada vez mais os interesses de camadas da população cujas aparentes divergências têm até agora sido exploradas até à exaustão pelos tradicionais candidatos a governantes. Perante um cenário de ainda maior retracção na economia interna, que há dias levou analistas do BNP Paribas a antever que o «Défice deste ano ficará nos 6% e recessão em 2013 será ainda mas severa», até os pequenos empresários começam a fazer coro com os assalariados e os pensionistas e assim sindicatos e confederações patronais já se pronunciaram em desacordo com esta nova vaga de medidas de austeridade.

O coro de contestação, que une assalariados, pensionistas e pequenos empresários, extravasou já para a própria área dos partidos da coligação PSD/CDS, a ponto de já ter sido noticiado que durante uma reunião dos deputados da maioria com o ministro das finanças, o «Porta-voz do CDS ataca Gaspar»; até notáveis do PSD e do CDS, como o moderado Marcelo Rebelo de Sousa que classificou o primeiro-ministro de “impreparado” (e terá até estado à beira de lhe chamar incompetente), Manuela Ferreira Leite (porta-voz ressabiado da facção cavaquista) que afirmou que «“Ninguém consegue engolir a segunda dose de xarope”» ou o ex-líder do CDS, Ribeiro e Castro, que numa entrevista à RDP afirmou que ““É preciso saltar a pés juntos” sobre as rendas excessivas e sobre os “interesses instalados””, já expressaram o seu desacordo às propostas, deixando pairar a dúvida sobre futuros desenvolvimentos e explicando porque é que na sua mais recente reunião «Vítor Gaspar disse ao Eurogrupo que novas medidas intensificaram debate político».

Reduzidas as reacções dos “notáveis” à sua justa dimensão (um Marcelo Rebelo de Sousa que visa manter a sua aura de “fazedor de reis”, uma Manuela Ferreira Leite que terá aceite o papel de porta-voz agitador da facção cavaquista e um Ribeiro e Castro que lá pôs o dedo na ferida) e mantendo vivo o princípio que o verdadeiro poder apenas pode advir do povo, respondo de forma simples e directa aos que se interrogam sobre a forma como irão sobreviver às medidas anunciadas: convertam a vossa agonia num claro e audível grito de revolta e deixem bem claro que ao contrário do que afirmam a maioria dos partidos políticos existem alternativas às políticas do FMI.



[1] Mas que, pelo sim pelo não, na qualidade de «Presidente da República convoca o Conselho de Estado e Vítor Gaspar».

terça-feira, 11 de setembro de 2012

A PROPÓSITO DO 11 DE SETEMBRO


Assinala-se hoje mais um aniversário, o décimo primeiro, sobre o atentado de Nova York que os americanos prontamente atribuíram aos radicais islâmicos da Al-Qaeda e que serviu para justificar as invasões do Afeganistão e do Iraque.

Como se tornou hábito, não têm por estes dias faltado na imprensa nacional e estrangeira reminiscências e evocações sobre os acontecimentos, embora continue por explicar cabalmente o que de facto aconteceu e quem nele esteve (ou não) envolvido.


Incrível ou não, a principal democracia planetária continua sem produzir uma explicação que não insulte a inteligência dos seus ouvintes; mas não é sobre isso que hoje me proponho reflectir[1], antes sobre dois artigos/notícias que duma forma ou doutra remetem para consequências do 11 de Setembro. Um, assinado por Maria João Tomás, foi publicado há dias no DN sob o sugestivo título de «A ASCENSÃO DOS SALAFITAS, 11 ANOS APÓS O 11 DE SETEMBRO» e levanta a interessante questão do actual sucesso do movimento religioso (salafismo) que esteve na origem da Al-Qaeda; o outro encontrei-o na página internet ALTER INFO, sob o título «AUX USA ON A DÉJÀ PRÉVU UN MOYEN ORIENT SANS ISRAEL», cuja tradução aqui deixo por constituir uma importante peça jornalística sobre as relações de Israel com o Médio Oriente e o seu fundamental aliado, os EUA:
«Nos EUA já se previu um Médio Oriente sem Israel

Enquanto Paris, Londres e Berlim tomam estupidamente os seus desejos como realidade e planificam uma Síria pós-Assad, em Washington já se começou a antever o depois de Israel, num relatório intitulado "Preparing For A Post Israel Middle East" (Preparando-se para um Oriente Médio Pós Israel). Esta análise em 82 páginas, foi realizada a pedido da comunidade de informações dos EUA que consiste em nada menos que 16 agências cujo orçamento anual superior a 70 mil milhões de dólares. O que demonstra que o desaparecimento do regime judeu-sionista está a ser seriamente ponderado em Washington e não apenas em Teerão.

Este documento "Preparing For A Post Israel Middle East", concluiu que os interesses nacionais dos EUA e de Israel diferem profundamente. Os autores do relatório afirmam que Israel é actualmente a maior ameaça aos interesses nacionais dos Estados Unidos porque a sua natureza e as suas acções impedem relações normais entre os Estados Unidos e os países árabes e muçulmanos, e de forma crescente com a comunidade internacional. Este estudo foi realizado a pedido da comunidade de informações dos EUA que inclui 16 agências com um orçamento anual de 70 mil milhões de dólares. A comunidade de informações inclui os Departamentos da Marinha, do Exército, e da Força Aérea, o corpo de fuzileiros, a Guarda Costeira, o Departamento de Defesa e as agências de informações, os departamentos de Energia, Segurança Interna, do Tesouro, a agência anti-drogas, o FBI, a Agência de Segurança Nacional, a agência de informações geo-especial, a agência de reconhecimento nacional e a CIA.

Entre as conclusões deste relatório contam-se:
·      Israel, dada a sua beligerância e a ocupação brutal, não pode ser salvo, como o não pode o regime do apartheid na África do Sul, mesmo quando Israel foi o único país "Ocidental " a manter relações diplomáticas com a África do Sul e o último país a aderir ao boicote antes do regime entrar em colapso em 1987.
·           A liderança israelita está cada vez mais afastada das realidades políticas, militares e económicas do Médio Oriente ao aumentar o seu apoio aos 700.000 colonos ilegais que vivem na Cisjordânia ocupada.
·           A coligação de governo pós-trabalhista do Likud, cúmplice e fortemente influenciada pelo poder político e financeiro dos colonos, irá enfrentar mais e mais manifestações civis internas, situação com a qual o governo dos Estados Unidos não se deve envolver.
·          A Primavera Árabe e o despertar islâmico lançou em grande medida muitos dos 1,2 mil milhões de muçulmanos e árabes a lutar contra o que uma larga maioria considera uma ilegal imoral e insustentável ocupação europeia da Palestina e da população indígena.
·      O poder árabe e muçulmano que se expande rapidamente na região, como é evidenciado pela Primavera Árabe, o despertar islâmico e a ascensão do Irão, ocorre simultaneamente – ainda que pré-existente – com o declínio do poder e da influência norte-americana e apoio dos Estados Unidos a um Israel belicoso e opressivo torna-se impossível de defender ou implementar, face aos interesses nacionais dos Estados Unidos, incluindo a normalização das relações com 57 países islâmicos.
·   A massiva interferência israelita nos assuntos internos dos Estados Unidos por meios de espionagem e de transferências ilegais de armas e que inclui o apoio a mais de 60 organizações "maiores" e a cerca de 7.500 funcionários americanos que obedecem às ordens de Israel e tentam intimidar a impresna e organizações do governo dos EUA, e não deve ser tolerada.
·     O Governo dos Estados Unidos já não têm os recursos financeiros nem apoio popular para continuar a financiar Israel. Já não é possível aumentar os mais de 3 biliões de dólares de dinheiro dos contribuintes, directa e indirectamente pagos a Israel desde 1967, quando aqueles já não apoiam o envolvimento militar dos EUA no Médio Oriente. O público americano já não apoia o financiamento e as guerras dos EUA amplamente entendidas como ilegais e em nome de Israel. Esta visão é cada vez mais comum na Europa, na Ásia e na generalidade da opinião pública internacional.
·       As infra-estruturas de ocupação segregacionista de Israel são a prova de discriminação legalizada e de sistemas de justiça cada vez mais distintos e desiguais, que não devem ser directa ou indirectamente financiados pelos contribuintes norte-americanos ou ignorados pelos governos dos Estados Unidos Estados.
·       Israel falhou como o Estado democrático proclamado e o apoio financeiro e político dos EUA não vai mudar a sua deriva como um estado pária internacional.
·    Apoiados pelo governo de Israel, que se tornou seu protector e parceiro, os colonos judeus manifestam um racismo cada vez mais violento desenfreado na Cisjordânia.
·     É cada vez maior o número de judeus americanos que são contra o sionismo e as práticas israelitas, incluindo assassinatos e brutalidade contra os palestinos que vivem sob ocupação, vendo-os como uma violação flagrante do direito americano e internacional e levantando questões no seio da comunidade judaica americana tendo em conta a responsabilidade de proteger os civis inocentes que vivem sob ocupação.
·         Oposição internacional a um regime cada vez mais separatista sustenta-se na defesa dos valores humanitários americanos ou no âmbito das relações bilaterais dos Estados Unidos com 193 países membros da ONU.

O relatório conclui com a recomendação de evitar alianças estreitas a que se opõe a maioria do mundo e que condenam os cidadãos americanos a arcar com as consequências.

Obviamente Israel apressar-se-á a denunciar o relatório cuja publicação está para breve e colocar pressão sobre os dois candidatos na eleição presidencial americana, Obama e Romney, para ver qual dos dois minimizará mais aquelas conclusões, ou prometerá o arquivá-lo e aumentar a ajuda financeira e militar à entidade colonial judaico-sionista que será o coveiro do Império Americano.
Mireille Delamarre»

e por proporcionar uma outra visão do pós 11 de Setembro de 2001, num mundo onde as cicatrizes continuam abertas e quando poderemos vir a assistir a uma completa invesão duma realidade que se insiste em dar por garantida.



[1] Quem ainda o não tenha feito, ou se sinta com disposição ou curiosidade, pode, a título de exemplo, recordar alguns dos “posts” antigos que dediquei ao assunto e dos quais destaco: «NINE ELEVEN – PARTE I», «NINE ELEVEN – PARTE II», «NINE ELEVEN – PARTE III», publicados em Setembro de 2006 e «11 DE SETEMBRO DE 2001» publicado um ano depois.

sábado, 8 de setembro de 2012

O PACTO


Depois das notícias que circularam nas últimas semanas em torno da situação económica nacional, conhecido que é o desvio registado nas receitas estimadas e sabido que o «Governo assume que défice de 4,5% é inalcançável sem mais medidas», só poderá classificar de espantoso saber-se que a «‘Troika’ culpa Governo Português por falhanço do programa» quem já esqueceu que foi o próprio primeiro-ministro que anunciou estar a aplicar medidas que iam além das exigências dos credores?


Este problema não se reduz ao acordo assinado entre FMI, BCE e FEEF e os partidos da área do poder (PS, PSD e CDS), antes se estende a todo o tipo de pactos mefistofélicos, ou será que o “ingénuo” Passos Coelho alguma vez acreditou que ao assumir o papel de “bom aluno” – não aquele que obtém bons resultados em consequência do seu trabalho, antes aquele que bajula o avaliador para disso extrair vantagens – isso o colocaria ao abrigo da derrocada que alguns lhe vaticinaram?

Cada vez mais à semelhança do antecessor que tanto vilipendiou, Passos Coelho e o seu governo desdobram-se já em manobras mais próprias de contorcionistas de circo que de políticos hábeis, conscientes das necessidades públicas e estribados em bem alicerçados princípios ideológicos. No desgastante afã de agradarem aos credores multiplicam declarações cada vez mais vazias enquanto se agarram desesperadamente à repetição do mantra salvador do primado dos “mercados” e da “livre iniciativa”.

Quem pouco ou nada esperou deste governo (há semelhança dos anteriores) não se sentirá tão defraudado, ainda que isso represente pouco consolo quando se continua a assistir à repetição dos erros e da estratégia que nos conduziram ao ponto em que estamos.

A inépcia dos políticos que conduzem os destinos nacionais e europeus (para nos limitarmos a um espaço mais próximo) além de se revelar cada vez mais evidente continua a empurrar-nos para um beco sem saída e não dá sinais da mínima inversão; isso mesmo é confirmado pela mais recente decisão do BCE, prontamente anunciada como a revolução salvadora, de avançar com a compra de dívida soberana, se necessário até em substituição da própria banca, dos países que se submetam a programas de ajustamento macroeconómico (vulgo, medidas de austeridade). Pena foi que nem Mario Draghi nem nenhum dos jornalistas que entusiasticamente noticiaram a decisão tenham explicado em que é que esta “revolução” difere da situação actual (o BCE há muito que vem comprando dívida pública dos estados mais fragilizados no mercado secundário) nem em que medida isso reduzirá os encargos excessivos com os juros exigidos pelos “mercados” ou aliviará as depauperadas economias dos PIIGS, pois como bem o sentimos na carne (a pele já desapareceu há muito...) os eufemísticos programas de ajustamento são desenhados e estão apontados ao único objectivo de assegurar o aumento dos rendimentos do factor capital em detrimento do factor trabalho e, a par com a escassez de crédito fomentada por uma banca descapitalizada e sobrealavancada em activos financeiros de reduzido ou nulo valor real, factor determinante nos elevados níveis de desemprego que a Europa regista.

O fracasso destas políticas que se dizem orientadas para o bem-estar comum é cada vez mais evidente e, para quem a explicação de natureza económica possa parecer complicada, sempre recordo que até na literatura se encontra registo do desfecho anunciado: quem vende a alma ao Diabo acaba sempre por se ver queimado...

terça-feira, 4 de setembro de 2012

CRISE ALIMENTAR E ESPECULAÇÃO


Retomo hoje um tema referido de vez em quando na imprensa – o da subida dos preços dos bens alimentares, que para uns é fruto das condições globais dos mercados e para outros consequência da sua conversão em objectos de especulação financeira – e hoje relembrado quando «Três agências da ONU pedem combate à subida dos preços dos alimentos».


É evidente que a crescente industrialização da produção agro-alimentar, em especial o reforço da tendência para a concentração fundiária e o regresso aos processos de monocultura, pode ser apontado como uma primeira causa para o encarecimento do seu produto final, por concentrar num número cada vez mais reduzido de produtores o poder de formação do preço, mas importa não esquecer também o fenómeno da conversão das produções agro-alimentares para a produção de biocombustíveis e o efeito que também isso acarreta na subida dos preços.

Preferia, porém, centrar a minha apreciação na segunda parte do problema: a conversão dos bens alimentares em objecto de especulação financeira. Tal como sucedeu com os produtos financeiros, também no caso das mercadorias agrícolas se corre o risco de as ver acabar aprisionadas numa bem urdida teia de interesses especulativos da qual apenas pode resultar um efeito: o encarecimento final dos produtos e o aumento do número dos famintos.

Os claros sinais, que já hoje muitos denunciam, deveriam servir para uma reflexão sobre o fenómeno e para a elaboração duma estratégia para a sua abordagem. Admitindo que a actividade especulativa é fruto de perspectivas e expectativas sobre uma realidade comum e, consequentemente, parte activa e relevante no processo da formação dos preços e impossível de eliminar, restará então um processo de regulamentação que a enquadre e que vise minimizar os efeitos perniciosos intrínsecos.

Dito por outras palavras, é indispensável que o volume de contratos seja indexado ao volume dos activos subjacentes (ou, no caso dos bens agrícolas e minerais, a uma expectativa aceitável de produção), que estes apenas possam ser transaccionados em mercados regulados (leia-se bolsas organizadas), que, no caso das mercadorias o processo de compensação não se possa reduzir em termos financeiros e que as mais-valias resultantes de contratos puramente especulativos (não orientados para a cobertura de risco) sejam objecto dum elevado nível de taxação fiscal.