sexta-feira, 29 de setembro de 2006

NOVO ANO ESCOLAR?

O mês de Setembro voltou a registar, como vem sendo ultimamente hábito, mais um início de ano lectivo.

Apesar das tentativas de múltiplos governos (e ainda maior número de Ministros da Educação) continuam a repetir-se as situações de carência de professores (por evidente falta de organização e previsão) e de instalações, esta última agravada pela recente decisão do governo de alargar o horário escolar e o número de actividades extracurriculares no 1º ciclo do ensino básico.

Um pouco por todo o lado vemos surgirem barracões pré-fabricados (eufemisticamente designados por pavilhões climatizados) para suprirem a necessidade de espaços resultante daquelas alterações. Mesmo admitindo que fosse impossível resolver em tempo útil todas as novas necessidades é, de todo em todo, incompreensível o número de escolas forçadas a recorrer a soluções provisórias (e todos bem sabemos como no nosso país o provisório tende rapidamente a definitivo) agravando o sentimento de que pouco trabalho (ou mesmo muito pouco) terá sido feito durante o período das férias escolares, para assegurar um arranque condigno ao novo ano escolar.

A par com esta situação há ainda que referir a incerteza, registada na data de abertura oficial, sobre o número de estabelecimentos de ensino do 1º ciclo que seriam encerrados. Mesmo que não fosse discutível a opção tomada pelo governo (e se não o for no plano pedagógico pode sempre sê-lo no plano social e da segurança dos jovens) é inadmissível que todo o processo administrativo para o acolhimento dos alunos deslocados não estivesse pronto a tempo e horas (facto que aumenta as dúvidas sobre as reais razões para a medida).

Os muitos problemas que se registam no arranque de cada novo ano escolar em Portugal persistem em repetir-se. Hoje mesmo o DIÁRIO DE NOTÍCIAS, sob o título «Alunos em Oeiras almoçam no ginásio», referiu a situação que vive uma escola básica daquele concelho limítrofe de Lisboa.
Mas, para terminar, gostava de deixar aqui a referência a uma notícia que li no COURRIER INTERNATIONAL, segundo a qual as autoridades escolares no Reino Unido se debatem com crescentes dificuldades para controlarem o fenómeno da disseminação do uso das novas tecnologias para “copiar” nos exames.

Parece assim evidente que, lá como cá, a educação regista uma evidente crise de valores. E lembrar-me eu que nos meus tempos de liceu se dizia ser impensável um aluno inglês “copiar” num exame...

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

PARA CONSPIRAR É PRECISO SABER

Foi com o habitual interesse, mas acrescida curiosidade, que na passada segunda-feira li a habitual crónica do Prof João César das Neves no DIÁRIO DE NOTÍCAS; intitulada «As conspirações e o exílio da verdade», começava assim:

«
Em 2003 e 2005, a área ardida em Portugal foi muito acima dos 300 mil hectares, quando em todos os outros anos, incluindo o actual, nunca chegou aos 200 mil. Quem tinha motivo, meios e oportunidade para isto? Salta à vista que os dois anos referidos antecedem e sucedem o Governo de Pedro Santana Lopes. Este antigo autarca tem naturais relações privilegiadas com bombeiros e pessoal florestal e viu no seu mandato arderem menos de 130 mil hectares. Estudos dizem que só cerca de 20% dos fogos são de origem criminosa. Mas é aí que entra o LENS.

O que é o LENS? O European Laboratory for Non-linear Spectroscopy é um dos mais respeitados laboratórios europeus, com a mais avançada tecnologia laser no mundo. Naturalmente, os lasers são uma forma excelente de criar fogo sem deixar pistas. Esta tecnologia de ponta situa-se na universidade de Florença, Itália, que à data dos fogos era governada por Silvio Berlusconi, grande amigo de Santana Lopes. Múltiplas testemunhas viram carrinhas azuis, cor simbólica do LENS, perto das matas a arder, mas as autoridades ignoraram e os jornais silenciaram essas informações."

Os dois parágrafos anteriores podem parecer a alguns um chorrilho de disparates, por uma simples razão: são mesmo!

Os factos são verdadeiros e os dados, reais, mas a composição é tolice, manipulação, calúnia. Ela foi concebida num estilo hoje florescente que, à falta de melhor, se pode denominar "teoria da conspiração"...»

Genial! César das Neves, teria conseguido no seu estilo simples e directo demonstrar o que até esta data o mais poderoso governo do mundo (porque detentor do exército mais moderno) não conseguiu. Não fora um pequeno lapso...

Talvez os seus múltiplos e complicados afazeres sempre o tenham afastado de leituras simples (daquelas que qualquer um de nós já fez pelo menos uma vez) como a de livros do género policial. Ora como todos os apreciadores do género literário (e muitos dos tais que são como todos nós) bem sabem para a construção de um bom argumento policial é indispensável que o pretenso (ou real) culpado disponha de um móbil ou razão para o crime.

O que precisamente falha na aparentemente bem urdida trama contra Santana Lopes é o tal móbil: o que teria ele a ganhar com a perpetração do crime?

Sabendo-se que Durão Barroso não “fugiu” para Bruxelas por causa dos incêndios florestais (é preciso muito mais que isso para levar qualquer político que se preze a abandonar algo tão suadamente ganho como uma posição no governo), nem Santana Lopes foi “promovido” a chefe do governo por causa do seu currículo de “bombeiro”, mantém-se em aberto a razão para a “conspiração” que César das Neves nos ofereceu.

Já no caso da administração americana e dos acontecimentos por explicar no 11 de Setembro de 2001, poucos terão qualquer dúvida das enormes vantagens que resultaram!
Este é um dado irrefutável que até ao momento ninguém conseguiu negar, bem como explicar algumas das dúvidas que têm sido levantadas:

  • o que atingiu o Pentágono?
  • se como tudo o indica não foi um Boeing da United Airlines onde está o avião e os passageiros?
  • porque é que o WTC foi o único arranha-céus no mundo a derrocar totalmente por ter sido atingido por um avião?
  • porque é que, caso inédito na história da aviação civil, nunca foram encontradas as caixas negras dos aparelhos

às quais não é admissível que a resposta sejam as convicções da administração de George W Bush nem as da comissão de inquérito que este nomeou.

Apenas a apresentação de provas que não desafiem a lógica e a inteligência poderá desfazer quaisquer dúvidas sobre o que realmente se passou naquela data.

Até lá, mesmo a justificação quase teológica de César das Neves para a formulação da dúvida, nada justifica...

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

AUMENTOS ZERO NO ESTADO PARA QUEM TIVER MAU DESEMPENHO

O título e esta notícia do DIÁRIO ECONÓMICO chamaram hoje a minha atenção:
«Os aumentos salariais da função pública devem deixar de ser automáticos para passarem a ser diferenciados em função dos resultados do desempenho, “indo de nulos a positivos”. Esta é uma das principais recomendações constantes do relatório da Comissão de Revisão do Sistema de Carreiras e Remunerações da Administração Pública, a que o Diário Económico teve acesso»
não tanto pelo seu conteúdo e filosofia do conceito, mas principalmente pela sua origem e aplicação prática.

Tendo partido de uma comissão oficialmente nomeada para o estudo de um problema concreto, é de supor que os seus membros sejam pessoas com profundos conhecimentos do tema a abordar, quer na sua vertente técnica quer na sua aplicabilidade prática.

Não parecendo de contestar “a priori” o princípio da adequação da remuneração à qualidade do trabalho desenvolvido, já o mesmo não poderá ser sustentado numa área como a da Administração Pública. Não deriva esta asserção de qualquer princípio de privilégio daqueles trabalhadores, mas tão-somente do facto deste sector apresentar uma característica muito específica: a sua elevada “dependência” do poder político.

Quem pode negar que há muitos anos a função pública (e por extensão as empresas de capitais públicos ou com forte participação destes) se encontra minada pelo mais primário clientelismo?
Mesmo quando não se trata de “agradar” ao chefe de um partido (ou ao seu representante mais próximo) trata-se de proceder da mesma forma com quem detenha um poder quase discricionário no local de trabalho. Esta cultura de subserviência tem sido incentivada desde os tempos do Estado Novo e será no futuro consolidada com a prática de políticas penalizadoras a nível financeiro.

Assim, é perfeitamente legítimo concluir-se que da aplicação das recomendações desta comissão vai resultar uma Administração Pública ainda mais subserviente, dirigida por “comissários políticos” e mantida em funcionamento por uma multidão de “yes men”, zelosamente cumpridora das orientações dos chefes, mas cada vez menos orientada para aquela que deveria ser a sua principal razão de existência: o SERVIÇO PÚBLICO.

domingo, 24 de setembro de 2006

DE MENTIRA EM MENTIRA…

Em finais de Agosto Comissão Permanente dos Serviços Secretos da Câmara dos Representantes do Senado Americano publicou um relatório sobre o Irão.

Nada de espantoso no tema nem no conteúdo do relatório, que ao longo das suas quase 30 páginas procura enumerar as vertentes em que o Irão poderá constituir uma ameaça para os EUA, centrando-se todo ele, como seria de esperar, na questão deste país poder vir a dotar-se de armamento nuclear.

Podendo-se considerar este trabalho como mais una peça no “puzzle” que a administração americana procura montar para fundamentar a sua campanha contra o programa nuclear iraniano, tanto mais oportuna quanto terminava no final desse mês o prazo fixado por americanos e europeus para a resposta iraniana a uma proposta de compensações para terminar com aquele programa, parecem-me dignas de nota duas questões:

  • o título do próprio relatório – Recognizing Iran as a Strategic Threat: An Intelligence Challenge for the US – que contrariamente à tradução proposta pelo DIÁRIO DE NOTÍCIAS na sua edição de 15 de Setembro Identificando o Irão como Ameaça Estratégica: Um Desafio para a Recolha de Informações dos EUA – não significa uma identificação clara, mas sim a necessidade dos seus argumentos serem aceites como tal;
  • a contestação, dias depois, pela AIEA de algumas das afirmações que contém.

A tradução que proponho para o título do relatório – Reconher o Irão como Ameaça Estratégica: Um Desafio para a Recolha de Informações dos EUA –, não é displicente nem inócua, na medida em que todo o texto do relatório se centra na questão fundamental de ver reconhecido o Irão como ameaça estratégica e não a da apresentação de provas conclusivas e irrefutáveis dessa mesma perigosidade.

Como muito bem assinala a AGÊNCIA INTERNACIONAL PARA A ENERGIA ATÓMICA, numa carta assinada pelo seu director para as Relações Externas e Coordenação Política, o conteúdo do relatório é enganador. Este alto responsável da agência internacional encarregue de vigiar a utilização da energia nuclear aponta o seguinte conjunto de erros e deturpações contidas no relatório:

  1. o Irão está a utilizar as suas instalações nucleares de Natanz, equipadas com 164 centrifugadoras, para a produção de urânio enriquecido para fins militares. Ora a AIEA afirma que o Irão apenas está a enriquecer urânio a 3,6%, quando o enriquecimento em urânio-235 para fins militares terá que ser da ordem dos 90%;
  2. com a cobertura da AIEA o Irão tem produzido Polónio-210, elemento utilizado em armas nucleares e em baterias para satélites. Mas a AIEA afirma que a produção daquele componente não está limitada nos termos do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, como insinua o relatório;
  3. a AIEA não pratica qualquer política de restrição de informação como afirma o relatório quando associa a demissão de um antigo membro da equipa de inspectores a declarações por ele prestadas sobre irregularidades nas práticas nucleares iranianas;
  4. em momento algum o relatório reconhece o trabalho feito pela AIEA, nem o facto do Conselho de Segurança da ONU considerar aquele trabalho como imparcial e relevante para a resolução da questão nuclear iraniana (resolução 1696);
  5. o director para as Relações Externas e Coordenação Política da AIEA termina lamentando que em momento algum os autores do relatório tenham contactado aquela agência para colher informações ou esclarecimento de dúvidas.

Perante os esclarecimentos prestados pela AIEA, mesmo admitindo que possa haver algo por explicar no afastamento da equipa de inspectores de Christopher Charlier, então inspector-chefe para o Irão, permanecem as incongruências entre aquilo que a agência afirma passar-se nas instalações nucleares iranianas e aquilo que os americanos dizem que estará a acontecer.

Não admira que se avolume a sensação de que estamos a voltar a assistir a algo de semelhante com a campanha de desinformação patrocinada pela administração de George W Bush para justificar a invasão do Iraque; tal como então afirmava que Saddam Hussein dispunha de um vasto e perigoso arsenal de armas químicas, também agora não restam quaisquer dúvidas que o Irão está prestes a produzir armas nucleares. Para os sectores mais conservadores (e belicistas) da sociedade norte-americana não se trata de produzir provas do incumprimento iraniano do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, mas tão-somente de realizar afirmações nas quais todos devem acreditar como verdade irrefutável e absoluta em si mesma.

Para servir mais directamente os interesses de grupos económicos que anseiam pela perpetuação de situações de conflito e instabilidade (grandes geradores de chorudos negócios para sectores de actividade como a produção de armamento e de toda a espécie de equipamentos, produtos e serviços militares, os sectores da segurança e da construção civil) e que alimentam:

  • os “think tank”, cada vez mais numerosos grupos de reflexão normalmente baseados em universidades;
  • as empresas de “lobby”, que se dedicam a influenciar os senadores para votarem num ou noutro sentido as propostas de lei e constituem uma verdadeira excrescência da “democracia” norte-americana;
  • uma economia em geral que desde a II Guerra Mundial se habituou a funcionar segundo os padrões e mecanismos de uma economia de guerra;

os representantes dos eleitores norte-americanos não hesitam em agitar monstros e fantasmas com os quais continuam a iludir e enganar a maioria dos que os elegeram.

Este relatório não é mais que uma peça exemplar de desinformação, mistificação e apresentação de hipóteses e/ou suspeitas como de dados seguros e irrefutáveis se tratassem.

Não encontrei nele nenhuma novidade relativamente a muitos outros ensaios, reportagens e notícias jornalísticas ou artigos de opinião que me levassem a concluir que o Irão esteja a violar os termos do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (confirmado pela própria AIEA) e tal como já o afirmei aqui, não duvido que o objectivo último de Teerão seja a produção de armamento nuclear, mas quem moralmente poderá impedi-lo?

Os países que já dispõe de idênticos arsenais, alguns dos quais nem sequer aderiram ao Tratado de Não-Proliferação (como é o caso de Israel)?

Os países que desenvolvem programas nucleares (como o Brasil e a Argentina) ou aqueles que já anunciaram a intenção de iniciar idênticos programas (como é o caso do Egipto)?

Os países que não dispõem de qualquer tecnologia nuclear?

A ausência de resposta afirmativa perante estas questões deixa antever apenas uma solução para a questão do nuclear iraniano: a negociação.

A razão para a recusa americana da solução óbvia nada tem a ver, como pretendem alguns, com a natureza teocrática e autocrática do regime iraniano, nem com razões de natureza psicológica (vingança da invasão da embaixada americana em Teerão após o derrube do Xá), como pretendem outros. Aquela hipótese, que a administração Bush tem vindo a recusar, debate-se mais do que com estes obstáculos, com as dificuldades originadas pela complexa situação naquela região do Médio Oriente (ver a propósito este “post”), para a qual a recente invasão israelita do Líbano com nada contribuiu de útil. Embora com alguns meses de data veja-se o que a este respeito escreveu o actual ministro português da Defesa – Nuno Severiano Teixeira – no DIÁRIO DE NOTÍCIAS de 13 de Maio último, e constate-se a que ponto evoluiu ou regrediu a hipótese de concertação de posições entre os países membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

Sendo a concertação de opiniões uma questão fulcral, como entender este relatório do Senado Americano senão como mais uma manobra da desastrosa política unilateralista da actual administração americana?

Quem, dispondo de um mínimo de informação e de bom senso, pode deixar de estabelecer um paralelismo entre a arrogância desta política externa e a posição norte-americana face a uma questão tão importante quanto a ambiental. Até quando iremos todos nós, cidadãos do Mundo, permitir que governos como o dos EUA continuem a praticar políticas suicidas como a da recusa no reconhecimento do Protocolo de Quioto?

Sabendo-se que um dos sectores económicos que mais tem combatido a aplicação daquele Protocolo é o petrolífero, que a família Bush (pai e filho) têm importantes ligações àquele sector de actividade, que o Médio Oriente constitui, ainda, a principal fonte de exploração (e de reservas) de hidrocarbonetos a nível mundial, como não ligar todas estas “pontas” e perceber que o que realmente tem estado em causa no “modus operandi” da administração Bush é apenas a preservação de uns quantos interesses corporativos e nunca (como bem se viu nos acontecimentos que sucederam ao furacão Katrina) a aplicação de uma política de interesse geral das populações americanas.

Pior ainda, qual o significado de apresentar na capa do relatório uma fotografia do presidente iraniano – Mahmoud Ahmadinejad – discursando durante a conferência 'The World without Zionism' que teve lugar em Outubro de 2005 em Teerão?

Manobras tão primitivas e infantis para “diabolizar” o Irão poderão funcionar entre uma população americana habituada a acreditar em tudo o que vê reflectido nos écrans de televisão, mas dificilmente conhecerão o mesmo tipo de sucesso junto dos europeus, cada vez mais cansados deste clima de permanente insegurança e ameaça que alguns persistem em querer perpetuar.

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

SOBRE O SECTOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL

A propósito da análise da evolução da economia portuguesa, escreveu há uns dias António Perez Metelo no DIÁRIO DE NOTÍCIAS sobre a situação do sector da construção civil: «...a história da construção desde 2001 tem sido a de uma queda progressiva, que ainda não tocou no fundo. A sua produção actual, em volume, recuou 26,8% face ao valor de há cinco anos!». Mas ainda mais grave é, como o próprio refere, a existência de um elevado número de fogos não ocupados (mais de cem mil só na região de Lisboa) e a ausência de medidas efectivas para contrariar esta situação.

Segundo um estudo do Instituto Superior de Estatística e Gestão de Informação (ISEGI), no período de 15 anos que mediaram entre 1985 e 2000, a área construída no território nacional aumentou 42%, valor que não se deverá continuar a registar nos anos mais próximos uma vez que já em 2001 o sector da construção civil começava a apresentar os primeiros sinais da crise que ainda atravessa.

Mesmo com uma situação comprovada de quebra no número de obras - licenciadas e concluídas - continua a manter-se a situação de excesso de oferta, agravada ainda pelo clima recessivo da economia e pelo agravamento do desemprego que também têm vindo a condicionar (no sentido da retracção) a procura de novas habitações por parte das famílias.

Perante um cenário desta natureza seria de esperar que o reequilíbrio se começasse a construir por uma acentuada redução dos preços. Ora, como muito bem assinala aquele economista, o que temos assistido é à estratégia de «...aguentar os custos da sobrecapacidade o tempo que for preciso (e que um sistema fiscal tolerante permitir), até que a procura se torne de novo solvente aos preços que, entretanto, pouco desceram».

Em minha opinião parece mais realista referir que os preços têm registado uma ligeira subida (inferior ao que era habitual e determinada pela taxa de inflação e pelo agravamento dos custos dos capitais alheios) e que esta estratégia tem sido possível não apenas pela tolerância de um sistema fiscal que não penaliza a existência de imóveis para venda desocupados, mas também pela passividade do sistema bancário que não exige o cumprimento dos prazos inicialmente acordados nos financiamentos à construção. Mesmo admitindo o princípio, tão caro aos banqueiros, de que é preferível um mau acordo a uma boa demanda, apenas consigo explicar esta opção pelo facto de cada vez mais as empresas financeiras estarem a ser geridas por uma racionalidade meramente comercial, onde o fundamental deixou de ser os resultados originados numa rotação acelerada dos capitais emprestados.

Assim, enquanto prevalecer o conceito de que o sector da construção civil é o motor da economia e os poderes estabelecidos entenderem que àquele sector de actividade tudo (ou quase tudo) tem que ser permitido, dificilmente se assistirá a:

  • a eliminação das empresas que apresentam deficientes condições técnicas e de capital;
  • a moralização de um sector que ao longo do tempo tem vindo a acumular sobrelucros, inicialmente originados pela pressão da procura e posteriormente alimentados pela regular subfacturação das vendas;
  • a recuperação que todos dizem desejar para bem da economia nacional.

Igualmente importante para a revitalização do sector parece-me ser a actuação dos poderes autárquicos. Se estes podem ser menos efectivos nos grandes centros urbanos, já nas áreas populacionais de menores dimensões e que disponham de condições naturais adequadas a sua actuação no sentido da limitação da volumetria e da implementação de políticas de incentivo e apoio à recuperação habitacional, poderão constituir outro importante factor para a recuperação do sector da construção civil.

terça-feira, 19 de setembro de 2006

QUE FUTURO PARA O MOVIMENTO NÃO-ALINHADO?

Terminou no passado fim-de-semana em Havana mais uma Cimeira dos Países Não-Alinhados.
Mais importantes que os títulos dos jornais que noticiaram o evento, com quase todos a referirem o clima de crítica generalizada à política norte-americana, parecem-me ser os seguintes factos:

· a realização da própria cimeira e o nível de participação (mais de uma centena de estados se fizeram representar, metade dos quais pelos próprios chefes de estado ou de governo);
· a ausência de acordo formal sobre o modelo de reorganização da ONU e sobre quem apoiar entre os países não-alinhados para integrar um novo Conselho de Segurança alargado.

Para melhor se entenderem estas questões, recorde-se que o movimento dos não-alinhados nasceu durante a Guerra Fria, em resultado da acção de estadistas como o indiano Nehru, o egípcio Nasser, o indonésio Sukarno e o jugoslavo Tito, tendo como objectivo criar um caminho independente no campo das relações internacionais que permitisse aos seus membros não se envolverem no confronto entre as duas grandes potências. Contando com a participação de quase todos os estados africanos, grande número dos sul americanos, do médio-oriente e do sul da Ásia e do Sudoeste Asiático (que no conjunto representam 2/3 dos países membros da ONU e mais de 50% da população mundial), batem-se após a queda do Muro de Berlim e o fim do confronto Leste-Oeste pelo reconhecimento do seu “peso” no seio da ONU e contra a política unilateralista que os EUA têm vindo a aplicar.

Maioritariamente constituída por países em vias de desenvolvimento (eufemismo para designar as economias mais pobres do planeta) o Movimento dos Não-Alinhados vem-se debatendo com crescentes dificuldades para encontrar o ponto de equilíbrio entre os seus membros mais combativos (os que rejeitam com maior frontalidade a situação de dominância económica americana) e os que por terem optado por soluções político-económicas de cariz mais liberal encontram crescentes dificuldades em afrontar directamente a potência dominante. Prova desta dualidade é o próprio texto da declaração, assinada no final da cimeira, onde consta o unânime desacordo pelo embargo israelita ao Líbano, a ocupação dos territórios palestinianos, a chacina de civis pelo uso indiscriminado da força e ainda o apoio ao Irão, à Venezuela e à Bolívia, mas de forma suficientemente branda para não inviabilizar a aceitação por unanimidade.

Sendo de salientar o elevado nível de participação e a habilidade e bom senso das diferentes delegações para a produção de um texto comum, ficou por alcançar um acordo quanto ao modelo de reforma da ONU a defender pelos Não-Alinhados. Apesar do importante peso que representam no seio daquela organização o modelo actualmente em vigor, que centraliza as principais questões e resoluções no Conselho de Segurança (órgão mais restrito e no qual apenas têm assento de forma permanente as principais potências – EUA, França, Reino Unido, Rússia e China únicas com direito a veto – e mais dez outros estados de forma rotativa) afasta-os das principais decisões, tanto mais que estão excluídos do direito de veto.

Na ausência de acordo sobre a importante questão do alargamento do Conselho de Segurança e sobre quem entre os Países Não-Alinhados o deverá integrar, soa a muito pouco a decisão de criar um secretariado do Movimento Não-Alinhado junto da sede da ONU.

domingo, 17 de setembro de 2006

O SAQUE DAS REFERÊNCIAS CULTURAIS

Ninguém, com um mínimo de formação cívica e ética, discordará do princípio de que é fundamental a preservação das raízes históricas e culturais de qualquer povo para assegurar a sua continuidade e a preservação das suas características próprias.

Vem esta introdução a propósito de um tema que há muito gostava de aqui abordar e para o qual tenho vindo a recolher a informação possível – a pilhagem de obras de arte.

Sendo históricas as pilhagens de bens em períodos de guerra, são-no igualmente a destruição e o roubo de objectos de arte. Os meios de comunicação recordam-nos regularmente as práticas do regime nazi nos territórios ocupados durante a II Guerra Mundial e mais recentemente fizeram eco dos saques realizados em museus iraquianos, com particular destaque para o Museu Nacional do Iraque, logo após a entrada das tropas americanas em Bagdad. Além deste museu que continha a maior colecção conhecida de materiais pertencentes às antigas culturas do berço civilizacional mesopotâmico, foi ainda saqueada a Biblioteca Nacional do Iraque, donde desapareceram manuscritos e tabuinhas cuneiformes de valor incalculável, e a Escola de Estudos Islâmicos e o Ministério dos Assuntos Religiosos, onde existia uma colecção única de edições do Corão.

As primeiras notícias que davam conta do desaparecimento de mais de uma centena de milhar de peças arqueológicas foram sendo “suavizadas” ao longo do tempo, ficando sempre a dúvida sobre a realidade do prejuízo (incalculável quer do ponto de vista monetário, quer do cultural) e sobre a autoria material dos actos.

Entre mais antigas as peças desaparecidas (datadas de 2000 AC) encontram-se: uma harpa em ouro maciço; uma escultura de cabeça feminina de Ur, uma das principais cidades sumérias e uma colecção de jóias constituída por colares, pulseiras e brincos das dinastias sumérias.

Após numa primeira fase os actos de vandalismo terem sido atribuídos à própria população iraquiana parecem agora prevalecer duas teses:

  • a primeira delas atribui os roubos aos antigos membros do governo de Saddam Hussein, que nas horas que antecederam a queda do regime terão aproveitado para pilhar o que puderam;
  • a segunda defende que a pilhagem foi organizada por especialista no comércio internacional de objectos de arte que, como forma de disfarçar a sua actuação, organizaram as pilhagens e a destruição que se lhe seguiram.

De uma forma ou outra parece um dado assente que as galerias e os cofres do Museu Nacional do Iraque, bem como outros situados noutras cidades, viram os seus acervos e registos pilhados e destruídos e que o estado em que estes ficaram pode bem resultar quer da acção de ex-membros do governo de Saddam quer do inqualificável desleixo das forças de ocupação, que apesar de terem abandonado à sua sorte o espólio museológico de artefactos de civilizações com mais 4.000 anos de existência, por alegada falta de meios para assegurar a respectiva protecção, dispunham dos meios necessários para proteger os Ministérios do Petróleo e do Interior (seguramente por estes disporem, respectivamente, de informação estratégica sobre os poços petrolíferos existentes, a localização das reservas conhecidas e de informação de segurança interna), os únicos edifícios públicos que não foram alvo de qualquer acção de pilhagem.

Apesar dos esforços realizados por organizações como o MIDLE EAST FORUM para lançar a responsabilidade pelo saque sobre o regime de Saddam Hussein, recorrendo entre outros argumentos a uma táctica de desacreditação dos arqueólogos ocidentais que têm denunciado a situação, acusando-os de terem colaborado com aquele regime durante o período em que os EUA decretaram sanções comerciais e económicas ao governo iraquiano, estou em crer que a realidade andará mais próxima daquela que Júlia Navarro ficcionou na sua obra a «A Bíblia de Barro», que se inspira em muito do que se terá passado.

A tese da participação de elementos de topo da hierarquia do partido Baath é perfeitamente verosímil, até pelo facto de muitos responsáveis do Museu Nacional terem declarado que boa parte das obras mais valiosas se encontrava guardada em cofres e das respectivas portas se mostrarem arrombadas (algo particularmente difícil de executar por um “bando” de pilhadores), tal como a da operação ter sido organizada no exterior (forma mais óbvia e simples de assegurar que as obras roubadas chegassem rapidamente aos potenciais compradores).

Há muito que em defesa desta tese o meio académico se vem interrogando sobre o papel que poderá ter desempenhado o AMERICAN COUNCIL FOR CULTURAL POLICY (ACCP), associação norte-americana, fundada com o objectivo de influenciar a suavização das futuras leis iraquianas de protecção da exportação de antiguidades. De acordo com a jornalista Sonja Zekri, do jornal alemão SÜDDEUTSCHE ZEITUNG, será a legalização da pilhagem da cultura mesopotâmica pelos americanos.

Esta asserção é parcialmente confirmada por declarações de responsáveis por aquela associação, que não escondem o seu interesse em que as leis do novo Iraque permitam a exportação de obras de arte antigas. Não é por isso estranho que para muitos o ACCP seja entendido com um grupo de influentes comerciantes que preconizam a abrandamento das apertadas restrições que o Iraque impunha sobre a propriedade e a exportação de peças arqueológicas. Entre os principais críticos da ACCP encontra-se Patty Gerstenblith, presidente do ARCHAEOLOGICAL INSTITUTE OF AMERICA (AIA), que acusa frontalmente aquele grupo de pretender estimular a criação de colecções de artefactos arqueológicos através da eliminação dos entraves criados pelos estados donde estas são originárias, bem como a sua classificação como propriedade pública para melhor permitir a sua exportação para os países ricos.

A realidade é que contrariamente ao que aconteceu durante a II Guerra Mundial, em que o avanço dos exércitos americanos pela Europa foi acompanhado por equipas de especialistas em arte afim de assegurar a preservação de locais e obras encontradas, no recente caso da invasão do Iraque tal não aconteceu.

Sabendo-se que o número de potenciais adquirentes das peças saqueadas do Iraque não deve ultrapassar a meia centena de pessoas (que além da característica de disporem de muito dinheiro aceitarão nunca poderem exibir as peças obtidas por aquela via) é de esperar que muitas das peças desaparecidas nunca apareçam no mercado para venda, tornando assim muito mais difícil a sua localização.

O reduzido número de “interessados” e a sua enorme capacidade financeira permitem a elaboração de um cenário para a operação particularmente rebuscado, mas não inverosímil de todo. Assim, pode bem ter sido elaborado um acordo com as altas esferas norte-americanas que planearam a invasão do Iraque, no sentido da obtenção de informação privilegiada sobre o início da campanha militar bem como a “indisponibilidade” para as tropas no terreno assegurarem a protecção dos principais museus.

Assegurada a participação de alguns altos responsáveis iraquianos as peças mais valiosas de locais como o Museu Nacional do Iraque, terão sido enviadas para fora do território nas primeiras horas da invasão. Na euforia da chegada das primeiras tropas americanas as populações terão sido instrumentalizadas para uma acção de saque aos museus, perante a passividade das tropas invasoras.

Com esta acção assegurava-se a destruição de muitas provas do saque organizado e dificultar-se-ia a rápida identificação das peças desaparecidas.

Um cenário desta natureza não parece difícil de imaginar e ainda menos de concretizar.

As imagens dão bem conta do estado de destruição das próprias áreas de armazenamento de obras e pior, a confirmar-se que se tratou de uma acção planificada e executada com verdadeira precisão militar, dificilmente as obras voltarão a aparecer nos anos mais próximos.

A coberto da sua posição de dominância os autores deste roubo dificilmente virão a ser conhecidos e a suportar qualquer sanção pelos actos praticados.

Além da barbaridade que é o roubo de peças com o valor histórico destas, a elaboração de um plano desta natureza pressupõe a existência de pessoas sem quaisquer escrúpulos morais e ainda de um grupo que poderá ter participado neste plano com o simples objectivo de ver destruído (ou desaparecido) tudo o que possa constituir elemento de agregação civilizacional, para melhor obter o resultado do desmembramento do Iraque enquanto nação.

Organizações insuspeitas, como a UNESCO, já reconheceram a existência de planificação neste processo de saque às riquezas artísticas do Iraque, recentemente agravada pela demissão do presidente da Comissão Iraquiana de Antiguidades e Património, fundamentada nas seguintes razões:

  • a comissão está cada vez mais influenciada por militantes do partido xiita de Moqtada Al-Sadr;
  • é crescente a predominância de um ponto de vista islamista em detrimento das culturas mais antigas do Iraque;
  • os contactos com os representantes americanos e estrangeiros em geral é desencorajado;
  • a partir de Setembro não haverá disponibilidades para continuar a pagar aos cerca de 1400 membros da força local de segurança e protecção;

o que leva a antever ainda maiores dificuldades na prossecução de uma política de protecção e preservação do património histórico daquela região e de todos nós.



quinta-feira, 14 de setembro de 2006

COM ISSO NÃO SE BRINCA

À primeira vista não poderia concordar mais com o título do editorial do dia 12 de Setembro do DIÁRIO ECONÓMICO, assinado por Martim Avillez Figueiredo.

Infelizmente não posso dizer o mesmo do seu conteúdo. Que o autor aceite como profissão de fé que tudo o que ocorreu no dia 11 de Setembro de 2001 se passou conforme a administração americana o descreve, é um problema seu com o qual não me preocupo. Mas considerar que quem (e são muitos como as sondagens norte americanas comprovam) formula dúvidas e questões à interpretação oficial, como Dylan Avery (o autor do documentário LOOSE CHANGE exibido pela RTP), «...deveria ser repreendido, não ouvido» equivale a exercer uma forma de censura que seguramente não gostaria que lhe fosse aplicada.

Que o director do DIÁRIO ECONÓMICO goste mais de ver difundidas as imagens de sofrimento e miséria humana (algumas ficcionadas como aconteceu no documentário exibido pela RTP1 na noite do dia 10) que acompanharam o ataque ao World Trade Center (e que ainda hoje são utilizadas para fomentar um apoio a um governo norte-americano cada vez mais descredibilizado) é a atitude normal de quem abdica da sua própria capacidade de raciocínio e análise para se converter num mero mecanismo de repetição da “voz do dono”.

É óbvio que esta característica é tanto mais grave e condenável quanto a função de um director de um jornal deve ser a de informar e esclarecer os seus leitores, fornecendo-lhes os meios para a formulação das suas próprias opiniões e convicções e não a de se desdobrar em tentativas para explicar o inexplicável. É verdade que Zeca Afonso tinha (tem) razão e que há coisas (como as armas) com as quais não se deve brincar, mas não é menos verdade que «...não há machado que corte a raiz ao pensamento...»

Tal como Martim Avillez Figueiredo fez no seu jornal, também Pacheco Pereira na última edição do programa PRÓS E CONTRAS (RTP1), emitido na noite de 11 de Setembro, se esforçou por desacreditar as dúvidas que rodeiam o 11 de Setembro. Também este se desdobrou na tentativa e, inevitavelmente, na falta de melhores argumentos acabou por associar quem põe em dúvida a versão oficial americana ao desgastado estigma do comunismo.

No afã de silenciar argumentos, Pacheco Pereira chegou ao absurdo de dizer que são utilizadas afirmações sem comprovação científica para contradizer a versão oficial, esquecendo (porque não acredito que ignore o conteúdo de ambas as versões) que, entre outras, nem o governo americano, nem a comissão Kean (nomeada por aquele) alguma vês produziram prova irrefutável do embate de um Boeing 757 contra o Pentágono.

Mesmo correndo o risco de não ser inovador nesta apreciação, julgo que o grande problema dos actuais defensores indefectíveis da “praxis” norte-americana é que, na ânsia de quererem contribuir para apresentar uma inimigo para os EUA e de com ele tudo justificarem, há muito perderam o mais elementar sentido crítico, incluindo o do seu próprio ridículo. Depois de confirmada a mentira que foram as armas de destruição em massa de Saddam Hussein (justificação repetida até à exaustão por todos os apologistas da invasão do Iraque), a assim continuar ainda corremos o risco de vir a ouvir (ou ler) Pacheco Pereira a corroborar qualquer iminente invasão de “aliens” para justificar a necessidade de total subordinação do mundo aos desígnios americanos.


terça-feira, 12 de setembro de 2006

NINE ELEVEN - PARTE III

POLÍTICA E SONDAGENS NOS EUA

Numa sociedade do tipo ocidental dita democrática existem mecanismos que permitem aferir da validade e receptividade das populações a problemas como o que está em análise.

Sondagens realizadas ao longo do ano junto da população americana dão uma ideia de como estará a evoluir a percepção dos acontecimentos do 11 de Setembro.

De acordo com um trabalho conjunto da Scripps Howard e da Universidade do Ohio, sobre os polémicos pormenores do 11 de Setembro de 2001, constata-se que:

  • 12% da população revela-se convicta que o Pentágono não foi atingido por um avião comercial, mas sim por um míssil;
  • 16% são de opinião que a derrocada das torres do World Trade Center não resultou do embate das aeronaves, mas sim da utilização de explosivos;
  • 36% declaram que a administração Bush está implicada, de forma activa ou passiva, na realização dos atentados.

Um outro estudo, realizado pela Zogby International, entre 12 e 16 de Maio de 2006, conclui que:

  • 42% dos americanos não estão convencidos pelas conclusões do relatório da Comissão Kean;
  • 44% pensam que George W Bush instrumentalizou os atentados para justificar a guerra;
  • 45% gostavam de ver reaberto o inquérito ao 11 de Setembro.

Estes resultados ganham outra dimensão quando se pediu às pessoas sondadas indicações sobre a opinião de pessoas das suas relações; desta formalização, que permite recolher sensibilidades e simultaneamente ultrapassar barreiras psicológicas associadas à delicadeza das questões, resultou um crescimento de cerca de 20% nas distribuições iniciais, fazendo com que aqueles valores passem a situar-se acima dos 50%.

Analisando com maior pormenor algumas das questões do inquérito:

  • Bush explorou os ataques do 11 de Setembro para justificar a invasão do Iraque?
  • Pensa que o governo dos EUA e a comissão de inquérito sobre o 11 de Setembro conduziram uma operação de dissimulação?
  • Tem conhecimento do colapso da Torre 7 do WTC e se sim acha que a comissão de inquérito também o devia ter estudado?
  • Os ataques do 11 de Setembro foram suficientemente estudados ou acha preciso reabrir o inquérito?

e a distribuição das respectivas respostas:

constata-se uma distribuição equilibrada sendo apenas de destacar a desproporção entre os que contestam a ligeireza do relatório apresentado pela Comissão Kean quanto às causas da derrocada da Torre 7. Esta distribuição repete-se quando analisados os resultados em função da distribuição por segmentos de rendimento, da etnia e do local de residência dos inquiridos, embora pareça prevalecer uma tendência para que os americanos com maiores rendimentos, os que habitam as regiões menos industrializadas e os que aspiram a integrar a elite governativa sejam os que manifestam menores dúvidas e discordâncias.

Paralelamente foi ainda avaliada a qualidade do trabalho informativos dos meios de comunicação a respeito do 11 de Setembro

constatando-se que 55% dos inquiridos classificam aquele trabalho como sofrível ou mau. Este resultado poderá reflectir o facto de muitos dos que aceitam as conclusões da Comissão Kean não encontrarem na imprensa a capacidade para se contrapor de forma eficaz às dúvidas que têm vindo a surgir.

Estes resultados não diferem muito dos obtidos noutras sondagens concretizadas em momentos diferentes. Assim, segundo um estudo da Opinion Dynamics, realizado em Janeiro de 2006 para a Fox News, 30% dos americanos atribuem nota negativa à actuação do Supremo Tribunal de Justiça. Outra, realizada pela Gallup em Abril do mesmo ano para o USA Today, conclui que 56% dos americanos consideram que o seu presidente é desonesto e que a actual administração foi formada entre “amiguinhos” e, pior ainda, 61% são de opinião que o seu governo não se preocupa com eles e 83% afirmam que o Congresso, no seu conjunto, é mais ou menos corrupto. Estes dados são corroborados por uma sondagem realizada em Fevereiro pelo Pew Research Center e pelo Princeton Survey Research Associates, segundo a qual 41% dos eleitores americanos afirmam que o seu representante ou o senador são corruptos; a já referida da Gallup assegura que 76% consideram o Congresso como pouco digno de confiança.

Estes resultados não são extraordinariamente diferentes dos que se registam noutros países ocidentais e permitem estabelecer um quadro da situação que torna particularmente importante a avaliação de um outro dado: a informação.

O TERRORRISMO E A IMPORTÂNCIA DA INFORMAÇÃO

Após o alerta lançado no início de Agosto deste ano pelos serviços de segurança ingleses, segundo o qual um grupo terrorista se preparava para fazer explodir aviões mediante o recurso a explosivos líquidos e cujo resultado mais visível foram os enormes atrasos sofridos pelas ligações aéreas com partidas e destinos para aquele país, voltou no início de Setembro a ser notícia o desmantelamento de mais uma rede terrorista a operar num estado europeu.

Os meios de comunicação desdobraram-se em ávidas entrevistas a responsáveis governativos e de segurança, bem como a outras personalidades influentes na opinião pública.

Em termos práticos os diferentes aparelhos policiais detiveram mais umas dezenas de cidadãos islâmicos, encontraram durante os processos de busca agendas de contactos com outros operacionais da Al-Qaeda (mortos, detidos ou em liberdade) e assim fundamentaram a necessidade de intervenção para garantir a segurança dos respectivos cidadãos. Após a Espanha, o Reino Unido, a França e a Alemanha, eis que o último país atingido pelo frenesi securitário é a Dinamarca; já anteriormente sujeito a polémica por via dos célebres “cartoons” que os muçulmanos classificaram de blasfemos, surge agora como mais um ponto no mapa das intentonas terroristas e a prova viva de que a «luta contra o terror», tal como a enunciou e tem vindo a praticar a administração norte-americana, terá que continuar a constituir o “leit motiv” dos estados verdadeiramente preocupados com a defesa da civilização ocidental.

Não pretendo defender a ideia que os estados abdiquem da sua própria segurança interna (e da dos seus cidadãos), mas não posso deixar de manifestar a minha estranheza pelo facto dos meios ocidentais de comunicação se apressarem a noticiar as detenções e as provas incriminatórias encontradas, mas raramente tenham revelado a mesma rapidez, sagacidade e justiça informativa sempre que os diferentes tribunais a que os alegados terroristas são apresentados determinam a respectiva libertação por insuficiência de provas ou simples condenações por delitos de direito comum ou actos não relacionáveis com uma rede global de terrorismo. Esta forma enviesada de informação, além de pouco contribuir para o esclarecimento do público, apenas serve para alimentar o medo que justifica os atropelos às liberdades individuais que interna e externamente continuam a ser praticados sobre comunidades como a islâmica.

Os mesmos meios de comunicação que tanto têm feito para difundir os libelos acusatórios da administração Bush e dos seus apoiantes, a par com os anátemas que Bin Laden e os seus anunciados acólitos regularmente lançam sobre o ocidente, poucas ou nenhumas oportunidades têm proporcionado, idênticas em espaço e tempo, aos muitos que pugnam pelo entendimento e pela difusão do conhecimento cultural e intelectual “dos outros”.

Integrados numa estratégia concertada de desinformação, ou fruto da pressão das tiragens e das sondagens, os meios de comunicação ocidentais têm participado alegremente numa campanha de ocultação e escamoteamento de indícios e factos que possam contradizer as teses mais belicistas. De que outra forma se pode entender a o silenciamento de factos tão preocupantes como a ausência de formalização de acusações judiciais à maioria dos detidos nas constantes acções policiais, a divulgação em grandes parangonas de aviões obrigados a aterragens forçadas motivadas por suspeitas entre os passageiros, que mais tarde se revelam infundadas e, por último, da enorme falta de isenção com que a generalidade dos órgãos de informação ocidental cobriu a recente invasão israelita do Líbano, bem como das causas que a antecederam.

Mesmo sem querer entrar na polémica do muito que culturalmente separa o ocidente judaico-cristão do oriente muçulmano, continuo convicto que, extremistas à parte, muito existe de comum entre povos que partilham uma raiz religiosa e cultural do tipo monoteísta. O sentimento de medo que de forma persistente e sistemática tem vindo a ser instilado nas populações ocidentais apenas terá igual na forma como os muçulmanos radicais assimilam tudo o que for ocidental a blasfemo. É óbvio que o ainda bem presente sentimento anticolonial dos povos islâmicos face ao ocidente constitui um bom argumento para uma campanha de diabolização deste, mas também não é menos verdade que apenas uma reiterada prática de diálogo e respeito entre povos, culturas e valores dissipará este sentimento.

Ora o que temos vindo a assistir (salvo raras e honrosas excepções) tem sido precisamente o inverso; em lugar da construção de pontes de diálogo e de entendimento têm-se erguido barreiras de ódio e incompreensão. A generalidade dos governos ocidentais se não tem alinhado na política belicista americana pouco ou nada tem feito para se lhe opor com eficácia e assim temos assistido desde o 11 de Setembro de 2001 a um crescendo de conflitos internacionais – as invasões do Afeganistão e do Iraque – e locais – o ataque israelita ao Líbano – que além de apresentarem uma muito duvidosa ligação com a luta contra o terrorismo ainda resultaram numa evidente degradação da situação das respectivas populações, no fortalecimento dos incitadores contra o ocidente e no aumento do número de potenciais perpetradores de futuros atentados.

O exclusivo recurso a uma política de violência e destruição e a ausência de uma política de aproximação e de intercâmbio de conhecimentos (com vista à redução de receios e diferendos) tem conduzido a que o elo mais fraco desta cadeia (as populações muçulmanas) esteja cada vez mais a ser condicionado a reagir da forma pretendida – transformando-se em bombista suicida. Esta forma perversa de designar o culpado e actuar de modo premeditado para o condicionar a reagir como desejado e assim justificando a acusação inicial, se não prefigura qualquer figura jurídica englobável no conceito de crime, constitui seguramente uma via não ética de fazer política.

Pior do que ignorar ou escamotear as razões que possam assistir para fundamentar um crescente sentimento anti-ocidental entre as populações muçulmanas é estimulá-lo mediante políticas e acções meramente provocatórias que em caso algum poderão conduzir a outro cenário que o do agravamento das tensões.

Enquanto os esforços isolados das vozes que de uma parte e da outra se erguem para desmontar estes, e outros, argumentos falaciosos e apelar à necessidade de diálogo continuarem a ser ignoradas pelos poderes estabelecidos e pelos meios de comunicação que estes controlam – em países como os EUA questionar abertamente as razões das acções militares contra os países islâmicos é na generalidade apelidado como traição – dificilmente se poderá esperar uma evolução no sentido da normalização das relações entre os povos. E o mais curioso de tudo isto é que esta paranóia colectiva se tem vindo a desenvolver principalmente nos países europeus onde é forte e antiga a presença de comunidades islâmicas, mas também crescente a actividade de movimentos de cariz nacionalista e xenófobo.

CONCLUSÃO

As circunstâncias por explicar que rodeiam os acontecimento de 11 de Setembro de 2001, a fragilidade de muitas das tentativas oficiais de explicação, a crescente pressão a que os contestatários internos estão a ser alvo nos EUA, a coincidência entre as datas de outros atentados atribuídos a grupos radicais islâmicos e importantes acontecimentos a nível mundial ou local, justificam que nesta data a opinião pública faça sentir, a par com o repúdio pelo acto e pelo número de vidas humanas sacrificadas, a necessidade de esclarecimento total dos acontecimentos e apuramento das respectivas responsabilidades.

Mesmo que não venham a confirmar-se na íntegra as alegadas motivações económicas para o 11 de Setembro que foram recentemente divulgadas num documentário, que a própria estação rotulou de polémico, exibido há uns dias na RTP2 (possível de ver ou rever aqui), algumas das vantagens já concretizadas, e aqui enunciadas, poderão ser suficientes para o justificar.

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

NINE ELEVEN - PARTE II

O QUE VIMOS NO DIA 11 DE SETEMBRO DE 2001

Demonstradas as mentiras em torno do atentado ao Pentágono porque não verificar as condições de ocorrência dos ataques ao World Trade Center?

Se parece não existirem dúvidas sobre o tipo de aeronave que o atingiu, já o desenrolar e conclusão da acção levanta dúvidas. O embate de aeronaves com arranha-céus não constitui, infelizmente, facto inédito, este foi porém o único do qual resultou a total destruição dos edifícios.

Inicialmente explicada pelo facto dos incêndios gerados ter provocado uma debilitação catastrófica da respectiva estrutura, esta tese viria a ser contestada por análises posteriores às imagens da queda das torres, aos materiais utilizados na construção e à derrocada de um terceiro edifício do complexo algumas horas depois. Um director de projecto do World Trade Center declararia algum tempo depois que os edifícios foram planeados e construídos para resistir a impactos daquela natureza.

Investigações posteriormente desenvolvidas sobre a derrocada das torres do World Trade Center podem ser resumidas da seguinte forma:

  1. a temperatura que o incêndio teria atingido (a temperatura de um fogo alimentado por hidrocarbonetos atinge cerca de 1.000ºC) é insuficiente para provocar a fusão do aço, que apenas o corre a uma temperatura de 1.600ºC; o metal utilizado naqueles edifícios foi testado e aprovado para resistir a temperaturas de aproximadamente 1.100ºC durante seis horas;
  2. como sabemos as torres ruíram muito antes de concluído esse tempo; a própria forma como a derrocada se registou em nada se assemelhou ao que seria expectável, se a sua estrutura tivesse cedido ao efeito do calor deveríamos ter assistido a uma derrocada lenta dos andares acima do fogo e nunca à totalidade do edifício e de uma forma tão abrupta;
  3. a apocalítica imagem da queda das torres apenas parece explicável por um processo de implosão, o que só seria possível mediante uma destruição planeada e executada por especialistas. Comprovando esta hipótese, semanas depois foram encontradas manchas de metal fundido nos níveis abaixo do solo que em momento algum foram atingidos pelo fogo;
  4. por último temos a estranha derrocada doutro edifício do complexo (uma torre com 47 andares) que não foi atingida por qualquer avião, nem apresentou sinais de qualquer incêndio prévio;

A todas estas dúvidas há ainda que acrescentar a muito pouco plausível tese sobre a queda do avião que se dirigiria para a Casa Branca. Conhecido como o voo 93, este aparelho terá caído na Pensilvânia por acção heróica dos seus passageiros que impediram os “terroristas” de alcançar o objectivo. Há muito duvidosa tese da revolta dos passageiros (fazendo fé no conteúdo atemorizado das gravações dos telefonemas por eles efectuados) acresce o facto do local mostrado à imprensa não revelar o aspecto normal resultante da queda de uma aeronave daquelas características (os destroços estão demasiado fragmentados e carbonizados).

Por todas estas razões muitas são as pessoas (caso do multimilionário americano, Jimmy Walter, que mantém em vigor um prémio de um milhão de dólares a que demonstre cientificamente a versão oficial do desmoronamento do World Trade Center) e os grupos que mantém um importante processo de investigação sobre os acontecimentos; nos próprios EUA muitos são os sítios na Internet consagrados a este tema (verdade seja dita que vários acontecimentos na história americana recente se têm revelado envoltos em enormes polémicas, caso dos assassinatos de John F Kennedy, Malcom X e Robert Kennedy); entre outros e enquanto fonte complementar de informação aconselho a consulta de: 911TRUTH.ORG e REOPEN911.ORG.

AS LIGAÇÕES ENTRE OS EUA E OS “TERRORISTAS”

Se estes factos apontam para a evidência das mentiras propaladas pela administração de George W Bush, que dizer de outras como:

  • a descoberta de um passaporte quase intacto em nome de um dos “terroristas” (que repito não consta na lista de passageiros);
  • a posterior confirmação de que alguns dos alegados “terroristas” se encontravam vivos e a desenvolver as suas normais ocupações;
  • a página do FBI sobre Bin Laden que não inclui a acusação de envolvimento no 11 de Setembro, situação que aquela agência oficial justifica por não dispor de provas suficientes para tal;

Estas e muitas outras questões têm sido tratadas pelos defensores das teses oficiais como mais uma “teoria da conspiração”, mas o facto é que não param de surgir novas questões e potenciais ligações entre a administração Bush (recorde-se a tese adiantada pelo escritor e cineasta norte-americano, Michael Moore, no seu filme Fahrenheit 9/11, sobre as ligações económicas entre as famílias Bush e Bin Laden), o grupo dos neoconservadores, integrado por actuais e anteriores membros daquela administração, e agências oficiais norte-americanas, como a CIA.

A chamada de Bin Laden à primeira linha dos “terroristas” é por si só uma forte prova, uma vez que as suas ligações à CIA estão sobejamente documentadas desde os tempos em que este participou na luta dos afegãos contra a invasão soviética daquele território. Segundo um artigo recentemente publicado por Michel Chossudovsky, nas vésperas do próprio 11 de Setembro Bin Laden, então já procurado pela justiça americana, encontrava-se hospitalizado numa base militar em Rawalpindi, no Paquistão, para receber tratamento hepático; a sua presença naquele local, sob protecção do exército paquistanês (a cujos altos comandos são conhecidas fortes ligações ao Pentágono) e do ISI (o serviço secreto paquistanês, há muito dado como estreitamente ligado à CIA) é apenas mais um indício de que a sua actuação poderá estar a ser orquestrada a partir de território norte-americano.

A IMPORTÂNCIA DO 11 DE SETEMBRO

Com todos os indícios a apontarem para a existência de um nível de planeamento bem diverso do grupo de Bin Laden e com evidentes cumplicidades na administração norte-americana, torna-se premente a necessidade de o porquê da concretização do ataque ao World Trade Center.

Que em diferentes momentos da sua história sucessivos governos americanos, ou altos responsáveis de agências dele dependentes, ponderaram a simulação de atentados para justificarem acções militares são factos publicamente conhecidos e amplamente documentados. Assim, não deverá merecer particular estranheza que também este o possa ter sido, tanto mais que o número de baixas registado não parece tão importante quando se constata que este não representa mais de 0,001% da sua população actual e as vantagens a retirar podem ser significativamente recompensadoras.

De imediato o governo de George W Bush registou um apoio massivo da população e de quase todos os países mundiais, facto que lhe permitiu endurecer as suas estratégias quer a nível interno quer externo.

A nível interno assistimos à proclamação de várias medidas legislativas fortemente limitadoras de direitos, garantias e liberdades dos cidadãos, as quais estão na origem de actos tão condenáveis quanto prisões arbitrárias e à ampliação de processos e métodos de espionagem interna (exemplos, a concentração de poderes na Casa Branca, a redução da capacidade interventiva e fiscalizadora do Congresso, o caso das escutas telefónicas sem mandato judicial e a criação de uma rede de instalações prisionais fora do território americano destinadas ao interrogatório de presumíveis terroristas) e à própria reeleição de George W Bush, enquanto a nível externo tornou justificável a invasão do Afeganistão, sob pretexto de capturar Bin Laden e com o apoio da ONU, e à substituição de um regime político que se opunha à instalação de um importante pipeline na região. O aparente sucesso deste primeiro passo (apesar de Bin Laden jamais ter sido capturado) rapidamente originou um segundo.

Sempre com a justificação da «guerra contra o terror» Bush e a sua equipa (talvez fosse mais correcto escrever os neoconservadores e a equipa de Bush) passaram a fixar como alvo o Iraque de Saddam Hussein. Acusado de todos os malefícios e barbaridades (até a de dispor de armas de destruição em massa que nunca viriam a se localizadas) rapidamente os EUA partiram para uma nova invasão, desta vez sem o apoio da comunidade internacional, a qual continua a fomentar um clima de crescente instabilidade na região do Médio Oriente.

Esta estratégia belicista norte-americana esteve seguramente na génese do recente conflito entre Israel e o Hezbollah, do qual resultou nova destruição parcial do território do Líbano. Mantendo sob mira e pressão os governos da Síria e do Irão (que mantém em aberto um outro diferendo a propósito do seu programa de produção de energia nuclear), o governo americano continua a assegurar um clima de instabilidade geopolítica que lhe é particularmente favorável.

Após a queda em 9 de Novembro de 1989 do Muro de Berlim e do posterior desagregamento da União Soviética, os EUA estavam a encontrar crescentes dificuldades na gestão de uma situação sem um inimigo visível.

CONTINUAM AS CONTRADIÇÕES E AS DÚVIDAS

Do que anteriormente deixei dito não se conclua que a situação mundial se encontra hoje mais estável que há cinco anos, bem pelo contrário.

Em 2001 os EUA debatiam-se com a dificuldade de fazer prevalecer as suas teses hegemónicas a muitos dos seus parceiros mundiais, hoje continuam a debater-se com algumas dificuldades, mas a ameaça do “terrorismo” parece revelar-se suficiente para que muitos destes parceiros abdiquem de alguma da sua resistência. Assim começa a chegar o momento de analisar e reflectir sobre a oportunidade das outras acções “terroristas” posteriormente registadas.

O atentado perpetrado nas vésperas de importantes eleições gerais em Espanha poderia ter determinado uma vitória do PP de Aznar (apoiante desde a primeira hora das invasões do Afeganistão e do Iraque e indispensável à administração Bush uma vez que eram amplamente conhecidas as posições anti-guerra do seu principal oponente, o socialista José Luís Zapatero) caso os eleitores tivessem acreditado na tese prontamente divulgada pelo governo de que o atentado era da autoria da ETA.

Demorou pouco mais que um ano até à realização de nova acção. Desta vez o local foi Londres num momento em que crescia a contestação ao apoio de Blair aos EUA e sobre a data da abertura de uma importante reunião do G8, que na Escócia iria debater a possibilidade de um perdão da dívida externa africana. Novamente voltámos a assistir ao mesmo tipo de “modus operandi” e ao mesmo tipo de resultados: o endurecimento das políticas securitárias, a redução das liberdades individuais e o aumento da popularidade interna de Blair.

Após o atentado ocorrido este ano em Bombaim, cujos autores indiciados apresentam fortes ligações directas ao ISI paquistanês e indirectas à CIA, a estratégia das acções seguintes sofreu uma notável inflexão. Agora as agências de informação e segurança começaram a emitir avisos preventivos de ataques terroristas (o melhor exemplo são os acontecimentos deste Verão em Londres), traduzidos na instalação de grandes aparatos policial e securitários no sentido de manter elevados os níveis mundiais de insegurança.

Nesta mesma linha de actuação – restrição às liberdades e à livre circulação e comércio – se pode entender a recusa decidida pelo Congresso norte-americano de ratificar um acordo comercial entre uma empresa inglesa e a outra do Dubai, segundo o qual esta passaria a deter os contratos de gestão do tráfego dos principais portos marítimos norte-americanos.

Paralelamente com uma criteriosa selecção do “timing” dos atentados, também a cada vez mais regular emissão de comunicados da Al-Qaeda e apresentação de vídeos de Bin Laden parece mais ajustada para manter em níveis elevados o clima de medo e justificar as iniciativas dos governos ocidentais mais empenhados na «guerra contra o terror» do que para cumprir uma agenda de confronto e destruição da civilização ocidental, como pretende George W Bush.

[i] Importa não esquecer toda a polémica que envolveu o processo eleitoral norte-americano em 2001, da qual resultou o facto de George W Bush ter sido nomeado presidente pelo Supremo Tribunal de Justiça, cujos membros tinham sido maioritariamente nomeados pelo pai, George Bush, quando presidente dos EUA.