sábado, 30 de junho de 2012

MAIS UMA CIMEIRA


Depois de assistirmos a mais de dois anos de sucessivos anúncios de grandes medidas (que a prática revelou ineficazes ou insuficientes), bastarão as medidas aprovadas na última cimeira de chefes de estado europeus para conter a crise na Zona Euro?


Se as medidas de curto prazo que esboçam uma tentativa para conter o descalabro no sistema financeiro europeu e que levaram o EXPRESSO a escrever que «Roma e Madrid forçam Merkel a ceder» poderão representar uma certa inversão na estratégia de abordagem da crise, nem por isso se pode falar – como o fez o mesmo EXPRESSO, citando o primeiro-ministro irlandês – numa «“viragem sísmica” com recuo de MERKEL», pois no seu essencial tratam-se de “soluções” para o depauperado sistema financeiro europeu e não para o conjunto das economias da Zona Euro; mais, a solução a que a Alemanha parece ter sido forçada a aceder também contribui, e muito, para ajudar os bancos alemães.

Até mesmo o auspicioso anúncio de que «Juros aliviam em Portugal, Grécia, Itália e Espanha» não pode ainda ser entendido como uma reacção positiva dos “mercados”, tanto mais que dois dias antes se registara uma «Vaga de especulação nos mercados em vésperas de cimeira europeia».

Face ao anúncio de que «Não haverá “toika” para Itália e Espanha», talvez a única conclusão que realmente se pode extrair da reunião desta semana é a confirmação duma Europa a duas velocidades – que aplica políticas diferentes para os países ricos e os países pobres – ou que os líderes destes são muito mais fracos por não terem sabido, ou querido, enfrentar os seus parceiros mais ricos.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O CARROSSEL SÍRIO


Embora a semana se tenha iniciado com a oficialização dos pedidos de resgate espanhol e cipriota, se venha a concluir com mais uma cimeira europeia e o cenário de crise em torno da dívida pública europeia continue muito longe de augúrios positivos, talvez a situação mais preocupante ainda seja a que se vive no Médio Oriente e em especial no território que continua a ser um ponto charneira na região: a Síria.

Localizada a sul da Turquia e entre Israel e o Iraque, a Síria moderna continua a apresentar uma posição geoestratégica determinante na região do Médio Oriente. Depois de ter sido um ponto de confluência de algumas das mais importantes rotas comerciais entre o Ocidente e o Oriente e ponto central do antigo Crescente Fértil (região que se estendia desde o valo do Nilo até às bacias do Tigre e do Eufrates e que apontada como o berço da sedentarização humana viu florescer civilizações como a egípcia, a suméria, a persa) volta hoje a ser o centro de atenções das principais potências.

Enquanto no Egipto se assiste à inevitável ascensão da Irmandade Islâmica – que embora enquadrada pela superestrutura militar não deixa de causar preocupação ao vizinho Estado de Israel (embora desmentida, uma das primeiras notícias a circular após o anúncio da eleição do candidato islâmico foi que Mohamed «Morsi quer aprofundar laços com Teerão, Israel dá sinais de nervosismo») e na própria Europa os serviço de informação ingleses (MI5) não escondem os receios de que a “Primavera Árabe” constitua uma nova ameaça terrorista (a notícia publicada pelo LE MONDE pode ser lida aqui) –, na Líbia e restante região do Maghreb a “Primavera Árabe” oscila entre o esquecimento e a eclosão de novos focos de conflito, é na Síria que se desenrolam os últimos episódios da intricada relação entre as facções islâmicas (sunitas versus xiitas) e as potências como os EUA e a Rússia.

É precisamente neste contexto que se insere o incidente com o avião turco que a antiaérea síria derrubou na passada semana e que originou a notícia que «Turquia pede reunião urgente da NATO por causa de jacto abatido pela Síria» e a esperada reacção de «Com o apoio da NATO, Turquia lança aviso à Síria».

Num verdadeiro carrossel de informação e contra-informação, diz-se que a «Turquia queixa-se à ONU de “acto hostil” da Síria», embora seja do domínio público que «Ancara diz que avião militar turco poderá ter violado espaço aéreo sírio» enquanto, naturalmente, «Damasco reafirma que avião turco violou a soberania síria».

Para apimentar ainda mais a polémica (ou para melhor servir os interesses de quem incentiva a escalada de violência, questão que procurei abordar há dias no “post” «O SOFRIMENTO SÍRIO») eis que após a notícia da deserção dum piloto aviador para a Jordânia surge agora a informação que «Altas patentes do exército sírio desertaram para a Turquia», num claro prenúncio de que a abertura duma nova frente militar poderá estar para breve e numa confirmação de que os verdadeiros senhores do carrossel não serão apenas os russos…


…como quer fazer crer a imprensa ocidental, antes a potência que está em vias de perder a posição hegemónica de que tem beneficiado – os EUA – potências emergentes, como a Rússia e a China e as potências regionais – Israel, Irão e Turquia – que poderão não resistir à tentação (ou ás pressões) para despoletarem um conflito regional, tanto maiores quanto a região se localiza bem no centro da disputa pelas fontes de gás natural (sendo que o Mediterrâneo se perspectiva como uma das mais ricas) e pelas suas redes de distribuição.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

APUPOS AO PRESIDENTE


Com a popularidade presidencial em baixa, já não sequer notícias sobre os resultados das sondagens ou o facto de ter sido «Cavaco Silva apupado em Guimarães e em Castro Daire» a fazerem as manchetes dos jornais, antes um ou outro texto de opinião, dentre os quais destaco o que hoje assina Paulo Gaião no EXPRESSO.


Oportunamente intitulado «Cavaquistão apresenta factura do betão ao Senhor Aníbal», merece destaque não tanto pelo facto de apontar claramente a responsabilidade dos governos de Cavaco Silva na definição do modelo de desenvolvimento assente no sector da construção e obras públicas (já em Janeiro de 2006 e quando a dominante eram as loas à excelência da governação cavaquista, escrevi mais ou menos o mesmo no “post” «REFLEXÕES SOBRE AS PRESIDENCIAIS») mas pelo seu conteúdo constituir uma interessante réplica à crónica que o Prof João César das Neves hoje assinou no DN, onde a pretexto duma reflexão sobre «Problemas insolúveis» aproveitou para criticar os que apontam os erros sem avançar as soluções.

Da leitura dos dois textos facilmente se conclui que a solução nacional (acalmem-se que não a vou reduzir à humorística perspectiva agrícola do “excesso de nabos e falta de tomates”) terá que passar pelo afastamento dos que estiveram na origem do problema (PS, PSD e CDS, os partidos que têm partilhado o poder nas últimas décadas) e pela escolha de quem apresente soluções alternativas, porque, ao contrário do que exaustivamente se ouve repetir, existem alternativas.

sábado, 23 de junho de 2012

BOAS NOVAS?


Na semana de novas cimeiras (Rio+20 no Brasil, G20 no México e Ecofin, no Luxemburgo) saldadas, como sempre, por inabaláveis declarações de princípios (pontilhadas aqui e ali por notícias do teor da que «Quase ninguém sabe o que os governos estão a decidir no Rio+20»), e apesar da notícia de que «Ecofin: grupo restrito aceita iniciar o processo para criar taxa Tobin», o maior destaque ainda acabará por ser o resultado das eleições gregas.

No dia 17 de Junho os gregos voltaram às urnas e o resultado, apesar de semelhante ao de 6 Maio, acabou por clarificar muito da vida política europeia. E quando os políticos voltam a revelar deficiências na correcta interpretação da realidade, valham-nos os humoristas… 


… para que ninguém duvide da natureza do verdadeiro vencedor.

Graças ao recurso a todas as “armas” disponíveis (e a menor delas não foi senão a constante instilação do medo) os principais responsáveis pelas dificuldades que a população atravessa – PASOK e Nova Democracia, partidos que têm dividido o poder no país, eurocratas, como Durão Barroso e Van Rompuy, e governos conservadores, com o da Alemanha na primeira linha – asseguraram a manutenção dum “status quo” particularmente favorável.

A dúvida, a grande dúvida, é quanto tempo o medo será mais forte que a revolta que inevitavelmente se seguirá à constatação de nova desilusão, de mais um resgate e do próximo “pacote de austeridade”. Será reconfortante ler-se que a cimeira do «G20 apela a menos austeridade na Europa» enquanto se aguarda por políticas que voltem a reanimar as economias europeias, mas enquanto estas continuarem a esfumar-se no dogmatismo germânico deveremos esperar o recender das tensões sociais e políticas nas economias submetidas aos programas de recuperação financeira.

Que esta não é uma hipótese espúria veja-se que no rescaldo da cimeira do México, o presidente russo afirmou-se «mais preocupado com o dólar americano que com o euro», tanto mais que também os americanos terão ainda este ano eleições presidenciais.

Aliás, não foi apenas Putin a colocar questões além da preocupação europeia, pois durante a reunião ficou claro que os «BRIC querem mais poder de voto para aumentarem as contribuições para o FMI», condição para reforçar a capacidade financeira do organismo que tem sido um dos principais pilares do modelo da globalização e que assim arrisca deixar de ser o porta-bandeira dos interesses ocidentais.

Quando parece cada vez mais adquirida a noção que travessamos um período de elevada incerteza, a ponto de até já Durão Barroso classificar a crise em curso como uma crise sistémica (veja-se esta notícia do PUBLICO), a única certeza continua a ser a evidente inoperância e incapacidade dos políticos para enfrentarem uma situação – tão evidente que nem o primeiro-ministro italiano se coíbe de afirmar que «Temos uma semana par salvar a Zona Euro» – que evidencia claros sinais de deterioração «Enquanto a economia alemã arrefece, Itália receia contágio da crise».

quarta-feira, 20 de junho de 2012

LEI NOVA… PRÁTICAS ANTIGAS


A notícia de que «Cavaco Silva promulga alterações ao Código do Trabalho e pede "estabilidade" legislativa» revela bem o anacronismo e a mais completa insensibilidade de quem nos governa.

Não só continua por demonstrar que o problema do desemprego se situe no que os autores de mais esta revisão apelidam de rigidez laboral, como associar mais uma revisão à necessidade da estabilidade do quadro legal é dum cinismo tal que raia o insulto…


…semelhante ao proferido pelos membros do governo que advogaram a emigração de jovens e desempregados como forma de resolução duma crise de que eles são actores de relevo, ou quando afirmam pretender combater o desemprego entre os mais jovens através da “subsidiação” de estágios semestrais que mais não são que formas de reduzir temporariamente os dados estatísticos enquanto se contribui activamente para o aumento do lucro das empresas.

Mas o embuste e a hipocrisia dos que elegemos para nos governarem está cada vez mais difícil de disfarçar, pois quase simultaneamente com o apelo presidencial foi dado a conhecer que estarão na forja mais alterações; não contente com os resultados alcançados e em mais um flagrante atropelo moral, o «FMI quer cortar indemnizações no despedimento ilícito», revelando de forma cada vez mais clara que a crise está a ser mantida enquanto estratégia para desequilibrar ainda mais o modelo de distribuição de riqueza em benefício do factor capital.