sexta-feira, 30 de novembro de 2018

REALPOLITIK, POR FAVOR...


As recentes notícias que reportam uma acção militar onde a «Rússia bloqueia portos ucranianos no Mar de Azov», aparentemente surgida na sequência do incidente do fim-de-semana onde «Rússia abre fogo sobre a Marinha da Ucrânia» e apresa três navios, já mereceram reacção do outro lado do Atlântico com a notícia que o presidente «Trump cancela reencontro com Putin por causa... da Ucrânia».


Do lado europeu ouvem-se os tradicionais apelos à contenção e «Berlim propõe mediação franco-alemã para tensão russo-ucraniana no mar de Azov», enquanto a Ucrânia, que ainda recentemente realizou pouco noticiados exercícios militares na costa do Mar de Azov, apela à intervenção da NATO, que em jeito de resposta pede "contenção" à Rússia e abertura à navegação do estreito de Kertch.

Ninguém ignorará que a região é foco de tensão desde 2014, quando na sequência da deposição do presidente pró-russo Viktor Yanukovych a Rússia ocupou a península da Crimeia, mas raramente se referem outras causas para esta situação e que vão desde o facto daquele território ter pertencido à Rússia até 1954, ano em que foi transferido para a Ucrânia por decisão de Nikita Khrushchev, e de nele se encontrar instalada uma base naval russa – Sebastopol –, estratégica e insubstituível por ser a de maior proximidade ao Mediterrâneo e que mantém a operacionalidade durante o Inverno.

Em resumo sendo a Crimeia e Sebastopol tão estratégicas para a Rússia como é o Canal do Panamá para os EUA alguém de bom senso esperará que algum dirigente russo dela abra mão?

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

PERDÕES...


Mesmo sabendo que pode ser invocado o pragmatismo indispensável ao normal funcionamento das relações diplomáticas ou à concretização dos grandes negócios que envolvem o “complexo militar-industrial” norte-americano, não parece de deixar de passar em claro a hipocrisia das declarações de Donald Trump depois que foi conhecido o resultado dum relatório onde a «CIA diz que príncipe saudita mandou matar jornalista Jamal Khashoggi».


Compare-se a declaração onde perante aquele resultado «Trump não exclui envolvimento de príncipe herdeiro mas reitera “relação inabalável”» com aquela outra de George W Bush assegurando que o Iraque de Saddam Hussein possuía armamento de destruição em massa, mesmo contra a opinião dos inspectores da AIEA (Agência Internacional para a Energia Atómica), para concluir que a Verdade só conta se servir os interesses instalados!

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

LEITURAS ELEITORAIS


As eleições americanas da passada semana vieram confirmar uma tradição segundo a qual os eleitores costumam preferir os candidatos da oposição. O Partido Democrata recuperou a maioria na Câmara dos Representantes enquanto o Republicano reforçou a maioria que já tinha no Senado. 


Trump, igual a si próprio, apressou-se a classificar o dia como um «tremendo sucesso», o que quer que seja que isso signifique quando a sua administração e o partido que a apoia ficou em pior posição para defender as suas medidas.

Se alguma coisa os resultados revelaram é que o país continua cada vez mais profundamente dividido e que nenhum dos lados parece capaz de algo diferente daquilo a que estamos habituados.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

NO PAÍS DAS MARAVILHAS


Com a aproximação da data para a conclusão das negociações com vista á saída da Grã-Bretanha da UE, decidida num referendo onde pontificaram quase todos os argumentos salvo os que verdadeiramente reflectiam a questão, avolumam-se as dúvidas e os receios mútuos, não sendo pois de estranhar que se voltem a fazer ouvir as opiniões mais contraditórias, como a que recentemente deu conta que “Líderes britânicos querem voltar a ouvir população sobre o Brexit” e onde apelam a que o resultado das negociações seja também ele referendado.


Claro que entre os principais signatários contam-se grande número de gestores e empresários grandemente preocupados com o futuro das relações comerciais – leia-se a continuidade dos seus negócios e lucros – com a UE. Pena é que pareçam ter esquecido as lições que deveriam ter sido extraídas do referendo sobre o Brexit e se mostrem, obviamente, mais preocupados com os seus negócios que com o futuro de ingleses e europeus.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

BRASIL, A VER VAMOS...


O recém eleito presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, escolheu como uma das suas primeiras acções pós-eleitoral uma deslocação a um templo evangélico, onde além da óbvia acção de graça pela eleição proferiu uma declaração que está a fazer furor: “Não sou o mais capacitado, mas Deus capacita os escolhidos”.

Ontem mesmo, na página online do EXPRESSO, Ricardo Costa escrevia que aquela «[p]odia ser uma frase mortal em muitos países, mas dita num culto evangélico e no Brasil é coisa pensada e certeira, para os fiéis e não só»...

Talvez, mas ainda assim a minha fraca formação teológica levou-me a recordar que o dito não se deverá aplicar com o mesmo nível de certeza ou garantia quando a escolha respeite meros critérios terrenos.


Em resumo, a ver vamos...