terça-feira, 28 de março de 2006

CUIDADO COM OS VENCIMENTOS DOS ADMINISTRADORES

O JORNAL DE NEGÓCIOS noticiou hoje que os administradores da PORTUGAL TELECOM viram as suas remunerações acrescidas em 18% no último ano.

Para o cidadão comum (e distraído...) que terá visto o seu salário aumentado de uns míseros 2%, poderá parecer difícil de entender esta notícia sem uma completa leitura da mesma.
Continuando a ler, ficar-se-á a saber que na realidade os administradores da PT apenas foram aumentados 2% (como qualquer outro cidadão nacional respeitador dos princípios de equilíbrio orçamental e combate contra a inflação, determinados pelo governo); porém além do vencimento “normal” aqueles gestores de topo (e que topo) são ainda remunerados numa percentagem dos dividendos, ou seja dos lucros da empresa.

Assim, nada mais natural que serem recompensados pelos bons resultados obtidos e verem a componente variável dos seus vencimentos aumentada em 37%.

Independentemente da inegável valia e da respectiva capacidade de organização e liderança da empresa que os administradores (veja aqui quem são) possam revelar, certo é que quem na realidade gerou aqueles lucros foram: 1) os consumidores dos serviços de comunicação (telefone fixo, móvel, internet, TV por cabo, etc.) que pagam cada vez mais caros os respectivos serviços e 2) os trabalhadores das empresas do grupo PT que asseguram com os seus baixos salários funções que nos restantes países da EU são remuneradas por valores muito superiores.

Além desta questão de natureza moral (que os trabalhadores da PT sentem mensalmente nos bolsos) existe ainda uma outra razão para manifestar a minha indignação perante o conteúdo da notícia.

Quem não se lembra do que aconteceu em finais de 2001 nos EUA com uma empresa de distribuição de energia eléctrica – a ENRON – cuja falência afectou milhares de trabalhadores e pequenos accionistas e que aconteceu tão-somente por durante vários anos os seus administradores terem falsificado as contas de exploração de forma a aumentarem os lucros da actividade e as respectivas remunerações a eles indexadas.

Governos houve, incluindo o americano, que na altura manifestaram a necessidade de introdução de novas regras de forma a evitar este tipo de situações, porém, entre nós tudo continua como se nunca nada tivesse acontecido e enquanto estes senhores continuam a viver cada vez melhor, nós vemos acrescido o risco de qualquer dia constatarmos que se calhar a PT não vale o pouco que a SONAE se propõe pagar por ela.

Este exemplo hoje relatado pela imprensa económica nacional recorda-me um outro, também publicitado na época, quando em 2004 foi noticiado um aumento da ordem dos 38% sobre os custos que a CGD (empresa de capitais públicos) suportava com os seus órgãos sociais (veja aqui quem são), chegando mesmo a referir-se o facto de um dos administradores recentemente nomeado (ex-ministro) vir a receber mensalmente mais do dobro do que auferia na anterior função.

Sem comentários: