Embora se possa revelar prematura a elaboração de um balanço das recentes visitas do presidente americano ao Afeganistão, Índia e Paquistão, há algo muito importante a reter de imediato – a administração americana parece ter abandonado de vez o recurso a uma prática multilateralista para o debate e resolução dos problemas internacionais.
Privilegiando uma prática de contactos unilaterais a administração americana contribui de forma decisiva para anular o papel da ONU da cena mundial e parece decidida a transformar-se no interlocutor (e decisor) único de diferendos e conflitos.
Sucede porém que os resultados conhecidos destes últimos contactos abonam muito pouco sobre a real capacidade de intervenção da diplomacia americana.
No Afeganistão George W Bush insistiu em ver um crescimento económico de que mais ninguém vislumbra a existência (salvo o “negócio” de produção de ópio, tudo o mais está parado) e em saudar os esforços de pacificação e estabilização de um presidente afegão que continua a viver barricado no “bunker” que as forças militares estrangeiras protegem.
Na visita à Índia George W Bush assinou um acordo de incidência sobre a energia nuclear, acto que implicitamente reconhece o direito deste país integrar o grupo dos que dispõem de armamento nuclear, mesmo sem subscrever o respectivo acordo internacional de não proliferação. Assim, parece consignado o apoio à Índia na sua velha disputa com o vizinho Paquistão.
Este foi o terceiro país visitado, recente aliado americano na luta contra o terrorismo, viu-se preterido à vizinha Índia na questão nuclear (ambos os estados dispõem de armamento daquele tipo) e o seu presidente (Pervez Musharraf) foi várias vezes exortado a permitir a aplicação de regras democráticas no seu país.
Em resumo George W. Bush parece-se com um elefante numa loja de porcelana, poderá ter posto em risco o papel do Paquistão na luta contra os talibã e a Al-Qaeda (mesmo que nesta matéria a sua participação seja menos que formal), desagradou aos indianos quando deixou por abordar importantes questões de natureza económica (a Índia está particularmente interessada em ver aplicadas novas regras no mercado internacional, nomeadamente na questão energética) e a passagem pelo Afeganistão nada terá contribuído para a acalmia no território.
Simultaneamente com a aprovação implícita dos programas nucleares indiano e paquistanês (mesmo sem referência específica), pretende a administração americana ver discutida, pelo Conselho de Segurança da ONU, a questão do nuclear iraniano já na próxima semana. De forma manifestamente atabalhoada a administração americana parece mais interessada em abrir nova frente de conflito no Médio Oriente (para isso já lhe serve a ONU), mesmo sabendo que dois dos seus parceiros no Conselho de Segurança (a Rússia e a China) dificilmente aceitarão, para já, a aplicação de sanções ao Irão.
Esta semana conheceremos os novos desenvolvimentos.
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