Para quem tivesse dúvidas ficou clara a existências de fortes interesses no rápido lançamento da obra (desde os ligados aos sectores da construção e obras públicas até aos que desesperam pela chegada de mais fundos comunitários), bem como na forma quase empírica como a mesma vai ser iniciada.
Seguro, é que este governo (como os seus antecessores) se prepara para nos lançar a todos num novo vórtice de investimento irreflectido (continuamos sem ter aprendido as lições de Sines e de outros “elefantes brancos”), que parte significativa dos técnicos ontem envolvidos no debate duvidam da respectiva eficácia e que a RTP prestou um grande serviço a José Sócrates (e a quem o apoia/pressiona na solução Ota) quando excluiu do debate questões tão importantes como a ausência de uma política integrada de transportes (ligação entre transportes aéreo e ferroviário), uma correcta avaliação custo-benefício da obra, e ainda a opinião de especialistas em questões aeronáuticas e em economia.
A questão da necessidade, ou não, de um novo aeroporto esteve quase ausente do debate, não fora uma breve intervenção do Bastonário da Ordem dos Engenheiros referir a necessidade de qualquer estudo fidedigno dever considerar a chamada opção zero (ou seja não construir o aeroporto) e ela nem teria merecido referência.
Quando tudo (e todos) parecem cada vez mais empenhados em empurrar-nos para uma nova megalomania é cada vez mais importante que se ergam as vozes daqueles que, melhor que eu, podem (e devem) bater-se contra esta insanidade geral.
Nunca, tenham decorrido trinta, quarenta ou cem anos desde que se começou a falar na necessidade de um novo aeroporto, se deveria dar início a uma obra desta dimensão e custo sem que:
1 - a sua necessidade esteja inequivocamente demonstrada;
2 - a opção escolhida reflicta uma relação custo-benefício favorável;
3 - não exista, durante a primeira fase de estudos, a possibilidade de a abandonar a qualquer momento.
Depois de um longo arrastar de tempo, a urgência agora anunciada parece mais orientada para ocultar as fragilidades da opção escolhida e quiçá resultante de outros compromissos já assumidos, senão veja-se a notícia do DIÁRIO ECONÓMICO de hoje, que sob o título «Novo aeroporto deve avançar já» dá particularmente voz aos empresários com profundos interesses no projecto, revelando parte do grande negócio que está por detrás do novo aeroporto e da privatização da ANA.
Se a todas as dúvidas já referidas somarmos ainda o quase total desconhecimento das origens do financiamento necessário à obra (fala-se em fundos comunitários, em receitas provenientes da venda da ANA, mas tudo sem a indispensável quantificação) fica completo o cenário para podermos pensar que do “negócio” da Ota ainda só estaremos a vislumbrar uma ínfima parcela.