sábado, 4 de março de 2006

PARADISE NOW

A instabilidade que se vive um pouco por todo o mundo, começa a marcar de forma crescente a sociedade em que vivemos.

Já não são apenas as notícias sobre invasões e ocupações militares, sobre catástrofes naturais, sobre conflitos étnicos, religiosos ou raciais que surgem nos meios de comunicação, as manifestações muçulmanas contra os “cartoons” de Maomé parece que fizeram história e estão a dar lugar a novas manifestações de intolerância e a um clima em que cada qual se julga detentor do direito de determinar o que é certo e o que é errado.

Vem tudo isto a propósito de uma notícia que ontem deu conta da existência de movimentos que pretendem ver exercidas novas formas de censura. Um grupo de judeus, familiares de vítimas de atentados palestinianos pretende ver excluído da “corrida” aos Óscares um filme palestiniano, intitulado “PARADISE NOW”, sob o argumento de que o seu conteúdo é uma glorificação ao terrorismo e à violência.
A obra em causa, da autoria de um cineasta árabe israelita (Hany Abu-Assad é natural de Nazaré), aborda as dúvidas e inquietações de dois jovens palestinianos que se preparam para realizar um atentado suicida em Tel-Aviv. Longe de um trabalho onde impera uma violência gratuita, não deixa de colocar perante os espectadores vivências e ambientes próprios de uma região em estado de guerra.

O mais interessante desta situação é que ao mesmo concurso apresenta-se um outro filme, “MUNICH”com realização de Steven Spielberg, que tem por tema central a actuação dos serviços secretos israelitas numa acção desencadeada para “vingar” o atentado, realizado pelo grupo Setembro Negro durante os Jogos Olímpicos realizados em 1972 na cidade alemã de Munique, do qual resultou a morte de onze atletas judeus. Que me conste ninguém, em Israel, nos territórios palestinianos ocupados, ou noutro lugar levantou a voz para reclamar contra um filme que visivelmente apela ao exercício da vingança.

Se não fosse triste seria seguramente risível a argumentação dos grupos judaicos que defendem que o filme despreza o sofrimento das vítimas dos ataques suicidas e apenas encoraja a sua continuação, como se os constantes ataques israelitas na Cisjordânia e na Faixa de Gaza fossem algo de justificável, ou houvesse distinção entre terrorismo independentista e terrorismo de estado.

Não sendo de esperar que a pressão dos lobis judaicos (o próprio governo israelita se tem mostrado empenhado nesta questão) exerça influência sobre a Academia Americana do Cinema, nem por isso deixa de ser importante reflectir sobre o assunto e ponderar das razões que levam a que cada vez mais nos interroguemos sobre a dualidade de critérios com que é encarado tudo o que directa, ou indirectamente, toca com Israel e os judeus.

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