Esta chamada de atenção parece-me amplamente justificada porque nem a situação dos mercados imobiliários nacional e americano é comparável, nem a informação disponibilizada pelo INE permite concluir que aquele mercado nacional esteja a recuperar.
E as razões para isso são múltiplas.
Primeiro; o indicador fornecido pelo INE revela apenas que os bancos estarão a subir os valores de avaliação que praticam, o que não significa que o valor das habitações esteja a subir, nem que aquele valor de referência possa e deva ser utilizado como tal pelos agentes do mercado. O valor de avaliação por m2 praticado pelos bancos que deveria reflectir um valor justo (de equilíbrio entre oferta e procura) para o imobiliário, reflecte normalmente uma de duas realidades: o anseio de ver aumentados os montantes do crédito contratado (por via do acrescido valor da garantia – o imóvel – a ele associado) ou o receio de ver o valor dos bens executados insuficiente para a cobertura dos créditos malparados.
Segundo; ao contrário do que ocorreu com o mercado imobiliário norte-americano, que desde 2006 já registou uma quebra nos preços superior a 30%, no mercado nacional (cuja crise é anterior à crise iniciada com o “subprime” e deriva de um claro desajustamento entre a quantidade oferecida e a procurada) a descida nos preços, se a houve, passou quase despercebida, pelo que o indispensável ajustamento entre a oferta em excesso e uma procura descapitalizada continua por alcançar.
Terceiro; a razão para a aparente melhoria deriva, principalmente, da necessidade do sector financeiro nacional apresentar um melhor rácio de cobertura para o crescente crédito malparado e assim reduzir as necessidades de mais capital para provisionar aqueles riscos.
Uma primeira conclusão que se pode tirar de tudo isto é que a imprensa económica precisará de notícias animadoras! Mas será só isso? ou as notícias são afinal mais um sinal do grande estado depressivo da nossa economia e da ineficácia das políticas de recuperação ensaidas?
É óbvio que existem múltiplos e poderosos interesses em ver reanimar o sector da construção civil, a começar pelas próprias empresas do sector – que além dos problemas criados pela estagnação do mercado poderão ainda vir a enfrentar os resultantes do abrandamento das promessas das grandes obras públicas – continuando pelos sectores económicos mais ligado ao imobiliário – nomeadamente o da banca – e concluindo com o partido no governo que além do mais enfrenta eleições para breve.
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1 Entre outras destaquem-se esta do THE NEW YORK TIMES ou esta do WASHINGTON POST que davam conta de sinais de retoma no mercado imobiliário norte-americano.