terça-feira, 23 de julho de 2019

OS TRABALHOS DE URSULA


Depois da relativa surpresa que foi o afastamento de Frans Timmermans como principal favorito na corrida à presidência da Comissão Europeia e a escolha da Ministra alemã da defesa, Ursula von der Leyen, pelo Conselho Europeu para ocupar a aquela presidência e da sua aprovação no Parlamento Europeu pela margem mais estreita em 25 anos, ficou evidente a grande divisão (mais uma) no seio da UE.


Depois do Grupo de Visegrado (aliança dita para fins de cooperação entre a Hungria, a Polónia, a República Checa e a Eslováquia, mas que se está a notabilizar principalmente como grupo de boicote) ter recusado liminarmente a candidatura do socialista holandês Frans Timmermans, a quem atribuem a responsabilidade pela proposta de sanções a alguns dos seus membros acusados de violação dos princípios do Estado de direito, o consenso alcançado determinou a exclusão de todos os favoritos em benefício de um outsider, que o Parlamento Europeu terá sancionado para evitar uma crise política.

A nova presidente da Comissão irá iniciar funções e o seu primeiro teste poderá bem ser a questão da violação do Estado de direito entre os Estados membros (o tal tema quente que levou o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, a avisar o PPE que a escolha de Timmermans seria um "erro histórico"), tema no qual são cada vez mais evidentes as dificuldades da UE em dar lições de democracia aos seus Estados membros.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

DESCOBRIR A SAÍDA


Continua a escrever-se muito (e ainda mais a falar-se) sobre a CGD, o seu crédito malparado e a comissão de inquérito à sua gestão que terminou com a provação de um relatório consensual, assim gorando o desejo do PSD de ver expressa a menção a indícios claros de gestão danosa e deixando a ideia que nada de fundamental estará errado, bastando ligeiras correcções para tudo voltar ao rumo certo.


Claro que os prejuízos acumulados em grandes operações de crédito aprovadas à revelia das mais elementares regras prudenciais são uma realidade e que os maiores terão ocorrido durante o consulado de Santos Ferreira e Armando Vara, mas não será menos verdade que sucessivos governos exerceram de forma “deficiente” o seu dever de tutela e ainda menos que a supervisão do Banco de Portugal terá sido anódina, para não dizer anedótica.

Mas o mais confrangedor nem sequer será assistirmos ao habitual jogo político do “passa culpas”, antes à completa improcedência das sucessivas comissões de inquérito sobre o sector financeiro nacional que sempre primaram por nunca apontar uma única medida de actuação prática, como se o problema alguma pudesse ser resolvido dentro do actual enquadramento político-económico de matriz neoliberal e de desregulamentação das actividades económicas. 

Sabendo-se que os prejuízos para a economia induzidos pelo sector financeiro já atingem quase os 17 mil milhões de euros e após várias comissões parlamentares de inquérito à banca era mais que tempo de serem tomadas medidas efectivas para minimizar aquele tipo de problemas. As hipóteses são conhecidas, passam por uma separação entre as actividades bancárias de natureza comercial e as de investimento e/ou especulação, a limitação à capacidade de criação de moeda pelos bancos e uma efectiva regulação pelo Banco Central, venha a vontade (ou a coragem) política para as implementar!

segunda-feira, 1 de julho de 2019

VISTAS CURTAS


A leitura da notícia que dava conta que fora um «Cartoonista dispensado após publicar desenho com Trump a jogar golfe ao pé de migrantes mortos», recordou-me o episódio ocorrido com o cartoonista nacional António, quando o NEW YORK TIMES publicou este seu trabalho:


Reacções de Donald Trump e do poderoso lóbi judaico levaram a que fosse o «Cartoon de António acusado de anti-semitismo. NYTimes pede desculpas por o publicar» e alguns dias depois ficámos a saber que «Após polémica com António, "The New York Times" elimina "cartoons"», no que poucos se lembraram de equiparar a inquisitoriais processos de censura prévia.

De nada serviu quem lembrasse que «99% do mundo concorda com o cartoon de António», ou que existe todo um mundo de diferença entre anti-semitismo e anti-sionismo. 

Mas, melhor que muitas palavras deixo aqui trabalhos de dois outros cartoonistas – o cartoonista costa-riquenho Arcadio Esquivel e a venezuelana Rayma Suprani que foi dispensada em 2014 do jornal El Universal depois de realizar um cartoon de Hugo Chavez – comentaram esta situação, com uma argúcia e uma visão própria da sua arte, onde o primeiro antecipa o epitáfio do jornal…


…e a segunda deixa uma comparação entre o 11 de Setembro e as tesouras censórias.