A sempre latente crise financeira, a criação de um novo sistema monetário
mundial, a divisão do mundo entre a China e os Estados Unidos, a retirada
militar norte-americana, o deslocamento europeu, as guerras civis e as tensões
fronteiriças, a reorganização do mapa mundial... tantos são os problemas e os
focos de tensão que não teremos mãos a medir na colossal remodelação global em curso.
O ponto comum de tudo isto é, naturalmente, a natureza caótica do processo que envolve
inúmeros actores nacionais, internacionais, globais, privados, públicos e
comunitários, que procuram aproveitar o período instável para marcar as suas
posições, flutuando entre alianças que têm tanto de improváveis como de fugazes.
A haver alguma vantagem seria a da formação de novas visões do futuro, mas o que
sobreleva é a desvantagem da existência de muitas, heterogéneas e conflituantes.
As eleições europeias, que já estão em curso, revelarão esta diversidade numa
campanha eleitoral onde até se poderão ter enunciado, pela primeira vez, algumas
vantagens da Europa, mas terminará, como é hábito, numa competição de
concepções nacionais que poderá estabelecer – ou não – a base de funcionamento
da UE para os próximos anos.
Neste período deveremos assistir à formação das condições ideais para uma
perfeita tempestade político-militar no Médio Oriente que assegure o nascimento
oficial da Grande Israel e a sentença final para a nação palestiniana; a uma possível
reforma do sistema monetário impulsionada pelo desejo chinês de qualquer como
um padrão SDR-ouro (afastando definitivamente o dólar da função de exclusiva moeda
de pagamentos internacionais e usando a moeda escritural do FMI – os SDR ou
Special Drawing Right – onde o seu yuan já é a terceira moeda mais importante) e
a estabilidade cambial que provavelmente oferecerá.
Outra importante vertente será a definição dos novos projectos de
tributação da GAFAM (acrónimo dos gigantes da Web, Google,
Apple, Facebook, Amazon e Microsoft, as cinco grandes empresas dos EUA que
dominam o mercado digital), que para o melhor ou o pior deverá definir os
princípios da governança supranacional no século XXI.
Em resumo, 2019 poderá ficar marcado como um ano determinante na formação
de um cenário completamente diferente que emerge dos escombros do modelo
anterior.