A reduzida
dimensão ética da generalidade dos governantes, além de crescentemente evidente,
começa cada vez mais a surgir nos meios de informação. Exemplo disso é a
publicação na última edição da revista grega HOT
DOC duma lista de cidadãos gregos que “prudentemente” colocaram as suas
fortunas a salvo em contas bancárias sediadas na confiável Suíça, a que se
seguiu a notícia que foi «Detido
jornalista que revelou lista de gregos com contas na Suíça».
A lista,
composta por mais de 2.000 nomes integra, segundo notícia
do LE MONDE, «… os nomes de numerosos
homens de negócios, cirurgiões, dentistas e de alguns políticos, entre os quais
um ministro do governo conservador de Costas Karamanlis (2004-2009)…», ou
segundo esta notícia
do PUBLICO, «…inclui
empresários, advogados, armadores, médicos, antigos políticos e próximos deles,
mas também “donas de casa” ou pessoas cujos nomes não são acompanhados de
nenhuma situação profissional»;
em resumo, nada de espantoso, salvo o facto da sua existência ser do
conhecimento público desde 2010, ano em que a então ministra das finanças
francesa, Christine Lagarde, a fez chegar às mãos do seu homólogo grego, George
Papaconstantinou, que assegura desconhecer o que terá
sucedido ao original.
Conhecida a
possibilidade da sua divulgação pública a comunidade política reagiu de pronto
e, segundo aquela notícia do PUBLICO,
antecipou-se à publicação fazendo saber que o «…actual ministro das Finanças, Yannis
Stournaras, disse ter pedido a França que envie uma cópia…»,
posição que contraria a inicialmente anunciada de «…afastar a possibilidade de agir
judicialmente contra as pessoas que constam da lista, por evasão fiscal,
alegando que ela foi obtida ilegalmente…» e que deverá ser resultado da «…indignação de muitos gregos com o que
consideraram ser uma tentativa de encobrimento do caso…».
Além da óbvia
desproporção na acção (enquanto o responsável pela publicação da informação foi
detido sob a acusação de violação da lei de protecção de dados privados, o
desvanecimento da lista dos faltosos não mereceu a menor reacção), pode-se
concluir que a par com uma conveniente conivência entre o poder estabelecido e
as grandes fortunas existe uma clara intenção de silenciar a verdade, fenómeno
ainda mais evidente quando são conhecidos outros episódios que podem configurar
claras tentativas de manipulação e silenciamento da informação.
A
extraordinariamente rápida acção judicial contra Kostas Vaxevanis (o jornalista
responsável pelo quinzenário HOT DOC)
poderá ser apenas mais um sinal dum clima de intimidação que já registou, entre
outros, o cancelamento do programa de televisão Proiní Enimerosi (emitido no canal de televisão
pública ERT) que denunciou um episódio de tortura policial, mas que também
estará a gerar reacções inesperadas, como seja o facto do Ta Nea
(diário de centro-esquerda) ter dedicado grande parte da edição de hoje à lista
que se procura manter secreta, evidenciando que a sanha dos poderosos contra a
informação que não consigam controlar está para durar.