Conhecidos os resultados e as primeiras reacções às eleições legislativas em Israel, é chegado o momento de confirmar o que de antemão se conhecia.
A vitória do recém-criado Kadima de Ehud Olmert (Ariel Sharon está “morto” há já muito tempo) terá desenhado um sorriso amarelo em muitos rostos, pela sua reduzida expressão. Não só os 28 lugares alcançados no Knesset (parlamento judaico) são manifestamente poucos, como os 22% dos votos dificilmente poderão ser reivindicados como uma validação à proposta política de Sharon.
Facto notável foi a elevada abstenção (cerca de 43%) e a relegação do Likud para o lugar de quarta força política. A cisão de Sharon e Olmert fez profundos estragos e até o Israel Beitenu (extrema direita) conseguiu alcançar mais lugares (13 contra 12) no parlamento.
Tanto quanto os meios de comunicação noticiam, Olmert já iniciou o processo de negociações (por enquanto limitado ao interior do seu próprio partido) com vista à constituição do próximo executivo que deverá incluir os trabalhistas de Amir Peretz e os extremistas do Israel Beitenu, indispensáveis para alcançar uma maioria tangencial.
Fruto desta correlação de forças, como aconteceria com qualquer outra, as relações com a Autoridade Palestiniana e os territórios ocupados deverão continuar a pautar-se pela aplicação da política judaica do «QUERO, POSSO e MANDO» de que aliás Olmert nunca fez segredo durante a campanha eleitoral. A este propósito refira-se que a esta última campanha foi a primeira onde o tema central não foi o relacionamento com os palestinianos (segurança) mas sim questões de natureza económica e social; desconheço se o motivo se encontra na progressiva desvalorização do problema palestiniano (talvez a esmagadora maioria dos judeus já dê o problema como resolvido, ou pelo menos significativamente atenuado com a subida ao poder do Hamas, na Palestina), se em crescentes dificuldades originadas pela estagnação da economia mundial que não deixará de afectar (por muito pouco que seja) os poderosos e ricos financiadores do Estado de Israel. Seguro é quem qualquer caso o Estado de Israel não vai deixar de contar com o apoio dos EUA, pelo menos enquanto houver uma crise (real ou imaginária) no Médio Oriente, enquanto as economias ocidentais dependerem do petróleo e enquanto existir qualquer espécie de ameaça (real ou imaginária) sobre o estado judaico.
Nesta perspectiva (que é a que tem vigorado desde a implantação de Israel nos territórios Palestinianos) estarão reunidas todas as condições para a manutenção do processo de expulsão ou genocídio dos Palestinianos dos territórios que o futuro governo judaico (ou qualquer outro que lhe suceda) entender como necessários à sua segurança.
Nos territórios ocupados o Hamas, vencedor das recentes eleições palestinianas, apresentou o seu governo que hoje mesmo prestou juramento ao presidente Mahmud Abbas. Tudo poderá parecer normal, excepto o facto de parte do novo executivo se ter visto obrigado a recorrer a um sistema virtual para proceder à cerimónia de tomada de posse por se encontrar sequestrado numa parte do território (Faixa de Gaza ou Cisjordânia) em virtude do governo de Telavive impedir a circulação dos membros do Hamas entre as diferentes zonas do território palestiniano.
Quando perante um cenário desta natureza a comunidade internacional, com os EUA e a UE à cabeça, exige ao partido que legitimamente governa os territórios palestinianos o reconhecimento do Estado de Israel (o mesmo que constrói muros de separação e encerra estradas impedido a livre circulação entre os territórios de pessoas e bens) tudo que se pode concluir é que quem tanto reivindica a aplicação dos princípios de igualdade de tratamento e oportunidades tem um conceito perfeitamente enviesado de liberdade. Contrariamente ao que pretendem George W Bush & friends a LIBERDADE não é fazermos o que queremos, mas sim não fazermos aos outros o que não queremos que nos façam a nós.
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