sábado, 28 de janeiro de 2012

A MENTIRA TEM PERNA CURTA

Em novo costumava ouvir um aforismo, citado para contrariar a prática de desculpas fáceis e sem sustentação; dizia-se então que «a mentira tem perna curta», algo que bem podia hoje servir de guia aos nossos governantes e que me veio prontamente à memória ao ler que «Afinal não havia desvio colossal na despesa em 2011».

Esta afirmação apenas vem confirmar a má-fé com que o executivo de Passos Coelho tem abordado a delicada situação económico-financeira do país, ao mesmo tempo que elimina os últimos resquícios de qualquer tentativa justificadora das reais intenções daqueles que se escondem por detrás das dificuldades do país. Passos Coelho, o seu governo e os partidos que o apoiam (PSD e CDS) têm desde há muito uma agenda que cuidadosamente vêm escondendo dos cidadãos, incluindo aqueles que neles votaram. A afirmação atribuída ao primeiro-ministro não constitui afinal mais que uma etapa na estratégia terrorista que está a ser implementada para conduzir o país para uma “solução final” à semelhança de que está em vias de ser aplicada à Grécia, relativamente à qual o EXPRESSO noticiava hoje que a «Alemanha quer controlo directo do orçamento de Atenas».


Da mesma forma que o pedido de resgate ao FMI e ao FEEF, feito por Sócrates, surgiu a pedido e por necessidade dos “banqueiros” (como tive oportunidade de afirmar em Abril do ano passado, no “post” «FMI»), também agora as políticas ditas de austeridade (redução de salários na Função Pública e no Sector Empresarial do Estado, redução de prestações socias, aumentos generalizados de taxas e de impostos) surgem com o fito de agravar ainda mais o já desequilibrado processo de redistribuição da riqueza que há décadas vem privilegiando os rendimentos do capital (lucos e mais-valias) em detrimento dos do trabalho (salários) e que, a par com a gradual redução da cobrança de impostos sobre os primeiros, está na origem das dificuldades orçamentais dos Estados que contribui para a situação de sobreendividamento.

Para melhor entendimento leia-se a notícia inicialmente referida, quando afirma que a «…despesa fechou o ano a cair mais 440 milhões de euros do que o previsto no OE 2011, enquanto a receita ficou 2332 milhões abaixo do estimado»; segundo a fonte da notícia, a UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental, ou seja, a entidade que dá apoio aos deputados da Comissão de Orçamento e Finanças) explica a redução das receitas «…com a não contabilização, no exercício de 2011, da receita prevista com a emissão de licenças 4G” e com um crescimento abaixo do esperado das contribuições para Segurança Social», mas principalmente conclui que o imposto especial lançado sobre o subsídio de Natal de 2011 era desnecessário!

A confirmação da inexistência do famigeradoo desvio orçamental ganha ainda mais impacto por ter origem numa entidade oficial, não podendo ser simplesmente apodada de partidária e descartada como mero exercício de luta política, constitui uma clara evidência das mentiras que rodeiam a questão dos défices e da dívida pública nas quais o actual governo mergulha de forma tão convicta que mesmo quando os seus patrões do FMI afirmam que «Portugal pode aliviar ritmo de redução do défice» persiste na afirmação de que «Não pediremos mais tempo nem mais dinheiro».

O pior, para nós cidadãos contribuintes, é que tanto num caso como no outro tudo não passa de afirmações vazias e destituídas que qualquer fundamento ou convicção, pois da mesma forma que Passos Coelho anunciou antes das eleições que não procederia a aumentos de impostos, também sobre a reestruturação da dívida dará o dito por não dito, mergulhando-nos de cabeça no vórtice da crise.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

ESTREITOS

Enquanto Portugal e uma parte crescente da Europa se afundam numa tempestade financeira fabricada e alimentada a contento dos credores, o Mundo continua a girar, enquanto alguns problemas se resolvem e outros se avolumam.

Nos EUA as atenções da opinião pública parecem centradas nas próximas eleições presidenciais, mas a verdadeira preocupação da Casa Branca deve continuar orientada para o Golfo Pérsico e para a questão nuclear iraniana. A prová-lo está não só o regular manancial de notícias, comentários e análises publicadas na imprensa americana, sobre as intenções iranianas de desenvolver um arsenal nuclear (nada que não relembre de imediato a campanha de “informação” sobre a existência dum alegado arsenal químico iraquiano que precedeu a invasão daquele país), mas também a acção diplomática que recentemente resultou numa decisão da UE e da Austrália de virem a impor um embargo petrolífero ao Irão.

Embora Washington e Teerão continuem a trocar ameaças e se façam sentir até algumas mobilizações militares (muito localizadas e centradas no ponto nevrálgico que é o Estreito de Ormuz), a confirmação da abertura de hostilidades parece muito pouco provável antes da realização das eleições americanas de Novembro, tanto mais que quando ainda se desconhece o concorrente republicano nada indica que a reeleição de Obama dependa duma declaração de guerra.
 

A subida de tom das declarações americanas e iranianas e uma eventual tentativa de encerramento do Estreito de Ormuz, estarão a agradar de sobremaneira ao vizinho Estado de Israel cujo primeiro-ministro não se coibiu de tornar pública a congratulação do seu governo pela decisão europeia, mesmo quando se encontra sob forte suspeita de estar a alimentar uma de guerra não declarada ao Irão, sob a forma de assassinatos selectivos de especialistas ligados ao programa nuclear iraniano (como se infere da notícia de que o «Irão perde quatro cientistas nucleares em dois anos») ou através da propagação do vírus informático STUXNET, que o I ONLINE garantia que «Vírus que atingiu centrais nucleares no Irão teve origem em Israel e nos EUA», desenvolvido especificamente para atrasar aquele programa.

Outra importante peça no “puzzle” geopolítico local é a Arábia Saudita cuja capacidade militar e financeira é reconhecida, constitui um dos tradicionais opositores ao Irão (que mais não fosse por razões de natureza religiosa, pois os sauditas são maioritariamente wahhabitas, seguidores do ramo sunita mais radical, enquanto os iranianos são maioritariamente xiitas), escoa grande parte da sua produção petrolífera pelo estreito, continua a ser um dos aliados preferenciais (petróleo obriga) dos EUA e não esconde qual dos “lados” no conflito beneficiará do seu apoio, podendo mesmo vir a constituir peça vital numa futura “aliança” anti-iraniana apesar do grande número de bases aéreas e navais de que os EUA já dispõem naquela região.

Duas últimas e tristes razões para acompanharmos com preocupação a crescente tensão no Golfo Pérsico: é que, contra a passividade da China e da Índia (dois dos principais clientes do petróleo iraniano), Irão e EUA poderão encontrar na deflagração dum conflito solução para os problemas internos que os afectam, ou seja, o Irão poderá apresentá-lo como justificação para a manutenção do actual regime teocrático e os EUA como via para atenuar os efeitos económicos da crise global. Duma forma ou da outra, a evolução da situação estará sempre profundamente condicionada à estreiteza dos pontos de vista dos intervenientes.

sábado, 21 de janeiro de 2012

PROCELAS E OUTRAS MAZELAS

Continuam a não faltar as mais díspares e alarmantes notícias sobre a perigosa situação da UE, da sua moeda única e da dívida soberana.

É óbvio que navegando mares tão procelosos algum pequeno dano poderá ocorrer, mas assegurada a fidelidade absoluta dos líderes políticos e garantido que estes não revelem o mínimo rebuço no processo de esbulho aos cidadãos eleitores, o risco será mínimo e logo que retorne a acalmia será chegado o momento de voltar a agitar e a estimular a sempre latente voracidade esbanjadora daqueles para que seja iniciado novo ciclo de endividamento geral, ainda e sempre em benefício dos prudentes e sábios “investidores”.
 

Depois de no final da semana passada termos sido “brindados” com a notícia de que a «S&P baixa rating da França para AA», ou de forma mais esclarecedora que a «S&P corta rating a nove países, França perde AAA e Portugal passa a “lixo”», foi a vez esta semana de ficarmos a saber que a «Moody´s mantém triplo-A da França com perspectiva estável» mas a «Standard & Poor’s garante nota AAA para a Alemanha», enquanto Mario Draghi, o «Presidente do BCE diz que situação actual é “muito grave”», pôde ler-se que Wolfgang Schaüble, o ministro das finanças alemão, afirma que «Precisamos reduzir influência das agências de rating» e correm notícias de que «Agência de “rating” europeia avança este ano».

Se não é de estranhar que após de se ter noticiado que «Banco Mundial  prevê recessão de 0,3% na zona euro este ano», ou numa avaliação mais suavize quando se diz que o «FMI prevê uma recessão “ligeira” na Zona Euro em 2012», até o presidente do Eurogrupo, o luxemburguês Jean-Claude Junker, avise que a «Zona Euro está “à beira” da recessão», já a muito divulgada presença em território nacional do Nobel da Economia e antigo vice-presidente do Banco Mundial, Joseph Stiglitz ganhou foros de sensação quando se pronunciou no sentido de que a «”Europa tem de perceber que a austeridade não é resposta”» e de forma ainda mais clara criticou a opção por políticas de reduções salariais e de privatizações por considerar que as primeiras contribuem para a contracção das economias e as segundas representam a escolha dum momento errado para alienar activos a um valor justo.

Siglitz não afirma nada que constitua novidade nem que um experiente gestor não reconheça como conselho avisado, mas em plena tormenta financeira, quando a situação se revela cada vez mais desesperada e são cada vez mais comuns as contradições entre os principais actores (políticos e económicos), uma tão variada difusão de informação pode até acabar por não produzir qualquer efeito, tal tem sido o “ruído” e a desinformação. Exemplo disso mesmo são declarações como as do ex-economista chefe do FMI, Kenneth Rogoff, que «vê possibilidade de 80% de um ou dois países saírem do euro», assegura que “Grécia, Portugal, Irlanda e possivelmente também a Espanha estão insolventes e precisam de reestruturar a sua dívida”, mas recusa que a solução passe por aumentar o recurso ao BCE por considerar que isso representa um “esquema Ponzi, que eventualmente entraria em colapso”; a medonha desonestidade intelectual que rodeia os críticos daquela opção é de explicação fácil, bastando lembrar que se o recurso a um mecanismo de financiamento público directo (leia-se junto do banco central) origina criação de moeda, o mesmo sucede, para pior, quando os Estados se financiam junto do sistema financeiro, pois neste caso há lugar à alavancagem proporcionada pelo multiplicador do crédito (cada unidade monetária adquirida a taxas reduzidas junto do banco central é multiplicada pelo inverso da taxa de reserva) mas principalmente ao lucro elevado, proporcionado pela diferença entre os juros reduzidos a que se financiam e os mais altos que cobram aos Estados, e seguro, pois tudo está a ser feito para assegurar que em caso algum os bancos não deixem de os receber.

Este raciocínio simplista pode porém vir a registar uma significativa alteração, caso, como tudo o indica, a crise actual seja muito mais grave e profunda que os analistas “oficiais” têm admitido. Se afinal não estivermos a atravessar mais uma pequena crise de liquidez mas a caminhar no sentido do aprofundamento da crise despoletada pelo rebentamento da bolha do “subprime” e previsões como as que o LEAP, o “think tank” europeu, tem apresentado (vejam-se os boletins mensais de Dezembro de 2011 e Janeiro de 2012), indiciando que a tão propalada crise da dívida pública europeia não passa duma manobra desesperada para ocultar a enormidade que constitui uma possível insolvência da dívida inglesa e norte-americana, hipóteses bem reais face aos recentes desenvolvimentos políticos na Europa (o isolamento do governo britânico nas decisões da última cimeira europeia, confirmado pelo anúncio de que fica o «Reino Unido proibido de utilizar o Mecanismo de Resgate Permanente») e às mais recentes previsões de Nouriel Roubini que alerta claramente para «A enganadora retoma da América», num ano em que os EUA vão enfrentar mais uma longa campanha eleitoral.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

DA EUROPA À SCML

Seria de esperar que face aos recentes anúncios de revisões das notações de “rating” atribuídas pela Standard & Poor’s que se podem sintetizar, dizendo que «S&P corta rating a nove países, França perde AAA e Portugal passa a “lixo”», e a comentários, como o do ministro das finanças alemão, Wolfgang Schaüble, assegurando que «Precisamos de reduzir influência das agências de rating», voltasse este a ser tema dominante, dada a predominância que as classificações de risco (“ratings”) têm assegurado no sistema financeiro global.

Porém, outra notícia relativa ao sistema financeiro, desta feita de âmbito restrito à dimensão nacional, referindo que «Governo negoceia com banca condições especiais de crédito às instituições sociais» prendeu-me a atenção.


Ainda que possa parecer desproporcionado comparar a dimensão (e a gravidade) da situação que atravessa a Zona Euro com a discussão dum modelo de financiamento às IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social), talvez no fundo o problema seja idêntico. Por outras palavras, os Estados europeus atravessam uma crise financeira alimentada pelas crescentes dificuldades no financiamento dos seus défices orçamentais parcialmente alimentada pela leitura que dessas mesmas dificuldades fazem as agências de “rating” que a cada “downgrading” fazem subir as taxas de juro tornando a dívida cada vez mais difícil de liquidar; do mesmo modo as IPSS encontram grandes dificuldades em obterem financiamento num sistema financeiro cujos modelos de avaliação privilegiam os lucros em detrimento doutros ganhos de difícil ou impossível mensuração.

Do mesmo modo que há muito venho defendendo neste espaço que a solução para a crise das dívidas públicas, denominadas em euros ou não, passa por uma alteração radical no modelo de financiamento dos Estados, que deveriam financiar-se junto do BCE a custos inferiores aos que este pratica no financiamento aos bancos, mas que o absurdo do dogma da supremacia dos “mercados” tem impedido que se resolva, também no caso das IPSS – entidades de carácter social não orientadas para o lucro mas para a satisfação de necessidades e carências sociais – e por razões análogas às dos Estados apenas uma solução diversa dum sistema alicerçado no puro lucro, que passe pela conversão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (entidade que detém o monopólio dos jogos sociais) numa entidade financiadora de primeira instância das restantes IPSS, poderá responder cabalmente às necessidades que o sistema financeiro tradicional nunca conseguirá responder.

sábado, 14 de janeiro de 2012

NEM PARA VELHOS, NEM PARA NOVOS

A ideia que este país (Portugal) não é para velhos tem vindo a ser reforçada com o aumento da idade da reforma e com as políticas de cortes nas pensões de aposentação e de aumentos das taxas moderadoras no acesso à saúde; o despautério é tal que até já se pode ler no PUBLICO que a ex-líder do PSD, Manuela «Ferreira Leite defende que doentes com mais de 70 anos paguem hemodiálise», suportando na íntegra o custo dos cuidados médicos que lhes permitem sobreviver.

A sanha neoliberal de garantir as melhores condições para investidores e credores é tal que já se terá perdido a própria noção de dignidade; a dignidade humana dos semelhantes e a própria dignidade intelectual dos “iluminados” que opinam e decidem como se se encontrassem rodeados de mentecaptos ou meros zombies. Este fenómeno poderá não ser estranho à quase apatia com que pelo país fora têm sido recebidas as notícias e os anúncios de mais e mais medidas que sempre penalizam os mesmos.

A permanente necessidade de agradar aos “mercados” (leia-se, aos credores) ameaça tornar inviável a existência de todos quantos não sirvam os interesses dos poderosos ou a criação de valor para os accionistas, a ponto de se poder já afirmar que o país também não é para jovens, como já no-lo demonstraram governantes que sem pejo nem nojo os “aconselham” a saírem da sua zona de conforto e a emigrarem.

Eliminados os velhos à míngua de sustento e de cuidados de saúde, excluídos os jovens obrigados a procurar futuro noutras paragens, restam os que ainda têm trabalho e as crianças… acorrentadas a uma pobreza endémica, a mais triste e alienante das pobrezas… a de espírito!


Quanto a estas, a atestar pelo que actualmente se vive na Grécia (o primeiro dos estados europeus a ser objecto de resgate pelo FMI e pelo BCE e o mais próximo balão de ensaio das políticas neoliberais) e a crer nas notícias da BBC e do DINHEIRO VIVO estará para breve um assustador aumento de abandonos infantis, faltando apenas voltarmos a assistir a fenómenos de adopção forçada como aqueles que foram patrocinados por regimes fascistas e nacional-socialistas há 70 anos atrás.

Quando as referências sociais são diariamente espezinhadas por aqueles que supúnhamos ter escolhido para defenderem a sua perenidade, quando as perspectivas e os estímulos que estes proporcionam aos mais jovens são o desenraizamento e uma aculturação forçada, a indignação e a revolta apenas me autorizam o comentário de que este será mais um ano para sentirmos vergonha do nosso país!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

G.∙.A.∙.U.∙. ou GRANDE AMIGO URDIDOR

Há dias assim… depois de tanto ouvir falar no dilema maçónico (dizer ou não dizer…), acho que acordei hoje irónico!

Irónico e profano, tanto quanto o pode ser alguém que não respeitando as obediências próprias dos seguidores do Grande Arquitecto do Universo…


…permito-me a ironia descomprometida que tantas vezes justificam azares e demais infortúnios – como os que parecem abater-se sobre a maioria deste povo que há décadas sofre a desdita de ser governado por conformistas incompetentes (para usar uma feliz expressão de Boaventura Sousa Santos) – e à semelhança da pouca sorte própria dos apostadores na Lotaria Nacional, apenas logrei a terminação.


Ao contrário, quem parece ter acertado num verdadeiro jackpot do Euromilhões (para mantermos a comparação com os jogos da Santa Casa) foi o “velho” conhecido Eduardo Catroga, que contemplado com a prebenda dum lugar de chairman na EDP pode encarar o futuro com uma tranquilidade que a crise e a parca reforma de aproximadamente 20 salários mínimos nunca poderiam assegurar.

Para que o “velho” senhor se não sinta demasiado desacompanhado, o primeiro-ministro, que prometeu não repetir o vergonhoso processo de nomeações partidárias em que o seu antecessor (e os antecessores deste) se envolvera, qual Grande Amigo Urdidor, propõe-se fazê-lo acompanhar de um naipe de honoráveis desconhecidos composto por Celeste Cardona, Paulo Teixeira Pinto, Rocha Vieira, Braga de Macedo e Ilídio Pinho, personalidades que se a priori não parecem associadas ao fenómeno maçónico nem por isso deixam de apresentar outras ligações, quase tão nebulosas quanto aquela (Paulo Teixeira Pinto com a Opus Dei e Braga de Macedo com a Trilateral), ou pior, de uma simples lógica partidária e de claro favorecimento (a ex-ministra e ex-administradora da CGD Celeste Cardona, o ex-governador de Macau Rocha Vieira, o ex-ministro Braga de Macedo, o ex-secretário de estado Paulo Teixeira Pinto e Ilídio Pinho, o ex-“patrão” de Passos Coelho) que novamente revelam a estatura moral e ética de nomeadores e nomeados.

Claro que prontamente se fizeram ouvir algumas vozes e nem todas tão polidas quanto a de António Seguro (o líder do PS) que apenas recordou um possível conflito de interesses entre quem negociou a venda da EDP e quem agora irá representar o novo dono.

E a propósito doutras vozes, ainda e sempre por mera ironia, estou a recordar-me que o ex-primeiro-ministro Francisco Pinto «Balsemão defende esclarecimento sobre as sociedades secretas», esquecendo-se que ele próprio é membro (e bem antigo) do não menos secreto e inconfessável Clube Bilderberg [1].
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[1] Sobre o Clube Bilderberg ver os “posts” «NÃO DIGAM A NINGUÉM…» e «BILDERBERG 2009».

domingo, 8 de janeiro de 2012

EURO BOMBA


A aparente bombástica novidade transmitida pela notícia do PUBLICO de que a «Grécia admite entrada em bancarrota se não tiver avaliação positiva da troika» merece mais do que uma leitura superficial.


Além da óbvia ideia de que o discurso político parece estar a sofrer alguma mutação, facto que não deixa de ser especialmente curioso por surgir dum governo sem legitimidade eleitoral e formado por tecnocratas, e que esta poderá estar a ser fomentada pela clara oposição das populações à continuação das políticas de austeridade, merece igual ponderação a hipótese das declarações de Papademos não constituírem mais que uma manobra táctica para quebrar a oposição popular grega com o fantasma da falência do Estado.

Em qualquer dos casos continua a merecer destaque a novidade (seja esta de natureza estratégica ou táctica), até porque esta configura uma evidente negação da famigerada tese apocalíptica da inexistência de alternativas.

Além dos esforços que aqui ou ali vão furando o bloqueio informativo[1], particularmente eficaz no âmbito nacional onde jornais, rádios e televisões têm primado por um silêncio cúmplice e cobarde, cabeçalhos como este do NEGÓCIOS onde claramente se diz que a «Grécia avisa que pode sair do euro se não houver acordo com a troika» constituem o máximo que se pode ler ou ouvir entre nós.

Enquanto isto, outros órgãos de informação citam ou abrem espaço para comentários ou textos de opinião autênticas bombas para os ortodoxos) que de forma cada vez mais clara vão desmontando e desmascarando as propostas neoliberais que insistem que a panaceia consiste em sangrar o doente… até à morte, se tal for necessário. Entre aqueles cito o excelente exemplo do LE MONDE, que no início desta semana publicou um artigo de opinião assinado pelo antigo primeiro-ministro francês, Michel Rocard, e o economista, Pierre Larrouturou, cujo título é especialmente esclarecedor ao deixar a interrogação: Porque é que os Estados pagam 600 vezes mais que os bancos?[2]

Nele os autores, além da denúncia, deixam hipóteses de actuação imediata – como seja o financiamento público através do BEI e dos bancos públicos (entidades que ao abrigo dos tratados europeus se podem financiar directamente junto do BCE) e a do refinanciamento da dívida a taxas próximas de 0% - que contrariam abertamente o desgastado argumento da inexistência de alternativas.

O artigo, importante enquanto proposta de actuação alternativa, ignora algumas questões tão determinantes quanto as que aborda. De fora ficaram questões como a do exercício do poder político e a do poder financeiro. A primeira lacuna pode-se considerar parcialmente colmatada com a leitura do artigo que Manuel Maria Carrilho publicou no DN, onde sob o mote de «Uma ponte para lado nenhum» retoma o texto de Rocard e Larrouturou ligando-o às realidades política e ideológica subjacentes aos princípios neoliberais, já a segunda – e tanto ou mais importante que as anteriores, por ser o epicentro da crise sistémica que atravessamos – raramente é mencionada.

A generalidade dos especialistas e analistas que têm abordado a questão da crise das dívidas soberanas, fazem-no na óptica da inevitabilidade das políticas de austeridade ou na da contraposição de algumas alternativas mas sem nunca mencionarem a verdadeira origem do problema. Por vezes lá surge uma referência à distorção que as políticas de distribuição do rendimento têm registado nas últimas décadas, originando uma redução das receitas fiscais e uma maior tendência para o endividamento público mas raramente é mencionado que o verdadeiro malefício resulta do facto dos Estados terem livremente abdicado do poder de criação da moeda, entregando-o em exclusividade ao sistema financeiro.

Uma excepção, a última com que me deparei, são as declarações de Emmanuel Todd[3] numa entrevista ao LE POINT quando defende que a dívida pública não foi originada pelos devedores (Estados) mas pelos credores (bancos e grandes investidores) que vêem esse tipo de dívida como uma segurança acrescida, raciocínio que complementa referindo que «…os super-ricos beneficiaram duma redução nos impostos que lhes permitiu emprestar ao Estado os recursos de que ele próprio se privou. Para não mencionar a auto-proibição do Estado emitir a sua própria moeda, instituído pela lei Pompidou em 1973, e tornada ideologicamente importante pelo mito suplementar dum Banco Central Europeu em Frankfurt, supostamente fora do alcance do Estado...».


[1] Destaque para uma entrevista a Éric Toussaint, historiador e politólogo belga que é o presidente do COMITÉ POUR L'ANNULATION DE LA DETTE DU TIERS MONDE (CADTM) da Bélgica, que pode ser lida aqui.
[2] O texto integral, em francês, pode ser lido aqui.
[3] Demógrafo, historiador, sociólogo, politólogo e ensaísta francês, reputado por em 1976 ter publicado "La chute finale: Essais sur la décomposition de la sphère Soviétique", obra onde antecipou o colapso da União Soviética.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A ALIANÇA IBÉRICA


Ano novo, vida nova!, proclama o aforismo popular que sempre me custou a entender e ainda mais agora, depois de ler no NEGÓCIOS, que o novo governo de «Espanha reforça austeridade e abre portas à recessão».

Numa clara “colagem” à estratégia seguida em Portugal pelo governo da mesma área ideológica, pese embora a ausência nefasta de qualquer acordo com o FMI, também o governo de Mariano Rajoy anunciou a descoberta dum desvio orçamental e prontamente proclamou a necessidade de novas medidas de austeridade e de aumentos de impostos.


Quer os partidos que integram o governo português, o PSD e o CDS, quer o que dirige o espanhol, o PP (Partido Popular), são membros da mesma família política europeia, o PPE (Partido Popular Europeu), e não terminam por aqui as semelhanças, pois ambos venceram eleições no ano que terminou com base em programas e promessas eleitorais onde constava, como grande factor diferenciador face aos adversários socialistas, o compromisso de não aumentarem impostos e, logo que alcançado o poder, ambos rapidamente esqueceram os compromissos, factos que apenas podem levar os observadores a concluir que afinal, a estratégia comum nunca contemplou a hipótese de não agravarem a carga fiscal e que ambos partiram para um processo eleitoral com uma agenda política diversa – diametralmente oposta – da anunciada. A verdade desta afirmação pode ser confirmada agora que foi conhecido um recente estudo da Comissão Europeia sobre as políticas seguidas entre 2009 e 2011 e que ao concluir que «Portugal é o único país onde a austeridade exigiu mais aos mais pobres» desmascara a verdadeira intenção da recente invenção que constitui a “austeridade expansionista”, que mais não é que a de aumentar os proveitos dos mais ricos em detrimento dos mais pobres.

Como se não bastasse a gravidade da situação na Grécia, o primeiro dos países da Zona Euro a solicitar a intervenção do FMI e do BCE, e da Itália, outros dos países da Zona mais ameaçado pela crise das dívidas soberanas, já disporem de governos não-eleitos, eis que na península Ibérica vigoram dois governos que além de se fazerem eleger com base em promessas que nunca terão pensado cumprir ainda pugnam pela aplicação prática duma teoria cuja aplicação na Grécia tem apresentado os piores resultados a ponto de já ser público que o «Governo grego pede aos credores que perdoem 75% da dívida».

O insucesso da estratégia da nova “aliança ibérica” é algo tão certo quanto o confirma o resultado na Grécia, patente nas notícias regulares sobre dupla degradação das condições de vida dos seus cidadãos e da sua capacidade para saldar uma dívida crescente, e cada vez mais inegável até perante as afirmações da Comissão Europeia.