quinta-feira, 29 de junho de 2017

2019 A RECOMPOSIÇÃO DUMA NOVA EUROPA? (PARTE II)

Vimos no post anterior que a estratégia múltipla de Theresa May:
  •          reforçar a sua maioria parlamentar para avançar com a opção do hard Brexit;
  •          assegurar que até Maio de 2019 (data limite para o período de negociação com a UE), nada iria prejudicar a sua liderança;
  •          travar as tendências autonomistas da Escócia (que no referendo rejeitou o Brexit) e da Irlanda do Norte

assentou numa certa leitura sobre a opinião pública britânica e num esperado efeito dominó no continente que não se concretizou.

O mau resultado pode, ainda assim, traduzir-se num alívio das tendências separatistas porque na Escócia a descida do SNP (Partido Nacional Escocês, pró-independência) e na Irlanda a subida do Sinn Fein (a expensas dos separatistas) poderão atenuar aquelas tendências, ficando para avaliar os efeitos da aliança com os unionistas irlandeses do DUP (Partido Unionista Democrático, cujas origens remontam a Ian Paisley e ao Partido Unionista Protestante) que permitirá a sobrevivência política de Theresa May.

Resultado igualmente importante das eleições britânicas foi o claro afastamento dos defensores internos do hard Brexit, expresso no afastamento do UKIP do novo parlamento.

Claro que permanecem grandes incógnitas sobre o futuro do Reino Unido e da UE, que irão sendo respondidas à medida que avancem as negociações sobre o Brexit ou que resista a aliança dos tories (conservadores ingleses) com o DUP irlandês.


Duma forma ou outra o governo de Theresa May apresenta-se agora numa posição negocial bem mais frágil e se a hipótese dos britânicos procurarem um hard Brexit parece menos plausível ela não desapareceu de todo, passando a depender de algo não menos preocupante... a nomenklatura de Bruxelas que tão fracas provas tem dado na gestão de crises.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

2019 A RECOMPOSIÇÃO DUMA NOVA EUROPA? (PARTE I)

Depois dos resultados das recentes eleições na Europa (Austria, Holanda, França e Reino Unido), se a crise grega demonstrou a necessidade de mudar a Europa, o Brexit abriu essa possibilidade. Dito isto, durante um ano, foi difícil perceber como tudo poderia terminar: à moda inglesa (conduzindo-nos a uma recomposição das alianças) ou à maneira continental (mantendo os principíos unificadortes mas recuperando, de alguma forma, o controlo das intituições).

O sinal de mudança não derivou da votação britânica, antes das votações nos estados europeus que reafirmaram a sua lealdade aos princípios da comunidade europeia que obrigará um Reino Unido  que tinha apostado na fragmentação da UE a repensar a estratégia para encontrar uma forma de se manter ligado ao continente sem perder a face e salvar a sua própria união.

A intenção de Theresa May com a antecipação das eleições seria uma espécie de segundo referendo e um reforço da estratégia duma negociação dura com a UE, mas o resultado acabou por lhe ser desfavorável (à sua estratégia e aos interesses do sector financeiro que vêem no hard Brexit uma hipótese de manutenção de algum do actual poder da City), havendo até quem já levante a hipótese de ter colocado em dúvida o próprio Brexit.

Na ânsia de reforçar o seu peso político, Theresa May acreditando nas sondagens e na repetição dos resultados das últimas eleições locais que ditaram uma derrota dos nacionalistas do UKIP e dos trabalhistas, criou uma situação poticiamente instável ao nível interno, dificultou as negociações com a UE e ficou muito longe de acalmar os ventos autonomistas que sopram da Escócia e da Irlanda do Norte.


Quase certo é poder estar a criar um novo cenário, onde se assista à integração da Islândia e da Noruega, desde que este rompa com a tradição centralista de Bruxelas e venha a ser democraticamente validado pelos cidadãos europeus.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

ELEIÇÕES EM FRANÇA

Realizou-se ontem a segunda volta das eleições legislativas em França onde o resultado foi um «Recorde de abstenção e maioria para Macron»; nada de inesperado, salvo talvez o reconhecimento de que os «Franceses recusam dar cheque em branco ao Presidente Macron».

A já esperada vitória da nova formação política liderada por Emmanuel Macron poderá explicar em parte aqueles resultados, mas a generalização da tendência de aumento crescente da abstenção não pode ser explicado apenas pela antecipação dos resultados pois este é um fenómeno que parece cada vez mais generalizado.


Para comentar uma abstenção superior a 57% - um novo record, como escreveu o LE MONDE – é preciso ir além do óbvio (como a longa maratona de eleições regionais, das primárias dos partidos e das recentes presidenciais) e lembrar que entre a 1ª e a 2ª volta os votos brancos e nulos aumentaram 400%, algo que reforça a questão sobre a real legitimidade da consulta eleitoral ou, como escreveu aqui o semanário francês “L’OBS”, a falta dum candidato mobilizador...

Em resumo, os franceses foram às urnas escolher uma Assembleia Nacional favorável a Macron, mas desprovida do cheque em branco que este desejaria.

Não fosse a enorme abstenção, que graças aos sistemas eleitorais em pouco ou nada penaliza os partidos do poder, e talvez estivéssemos agora a comentar o sinal de maturidade dos eleitores franceses; assim, continuamos a tentar compreender o que está a levar ao alheamento dos eleitores e aqueles que o fomentam continuam a beneficiar do “crime”.

terça-feira, 13 de junho de 2017

A CAMINHO... DE QUÊ?

Como previsto, lá se vão sucedendo os actos eleitorais por essa Europa fora e assim, uns dias depois de ter chegado a notícia que do outro lado da Mancha «Theresa May ganha eleições sem maioria», deixando antever dificuldades acrescidas na negociação do Brexit, a grande notícia do fim-de-semana foi a de que «Macron é o grande vencedor da primeira volta das legislativas francesas», parecendo tranquilizar assim os que receavam a Frente Nacional e os que continuam a acreditar na estabilização do eixo Paris-Berlim.


É verdade que a generalidade da imprensa tece loas ao novo inquilino do Eliseu, mas ao contrário do que assegura aos seus leitores este tem ainda tudo para provar no campo da política e a incerteza que rodeia a sua eleição (reforçada agora com uma maioria parlamentar) contém todos os ingredientes (não fosse ele um produto da fileira Rothschild) para continuar a mergulhar o projecto europeu no marasmo em que vive.

domingo, 4 de junho de 2017

TRUMPWORLD

Depois de confirmado que «Trump retira os EUA do acordo de Paris sobre alterações climáticas», muitas foram as reacções críticas, acentuando-se ainda mais a ideia do crescente isolamento internacional dos EUA.

Esta decisão (promessa de campanha de Donald Trump), a par com aquela onde «Trump volta a exigir aos aliados da NATO mais gastos com defesa» e que pareceu abrir uma brecha entre as principais potências ocidentais não são apenas sinais da congruência do actual inquilino da Casa Branca, antes evidências duma certa maneira americana de ver o Mundo... Preconceituosa, estreita, mas determinada.


Tão determinada que não deve ser encarada de forma leviana nem displicente. Quando Trump ameaçou – porque o que na realidade fez foi ameaçar retirar ao Resto do Mundo hipóteses de concertação em matérias de segurança, confirmando que com ele os EUA só agirão em exclusivo benefício próprio – abandonar os restantes membros da NATO à sua sorte e estes não lhe manifestaram objectivamente a sua indisponibilidade para pagar mais para verem defendidos apenas os interesses dos EUA deixaram um sinal duma certa tibieza.

Como que em aparente ligação,ocorreu uma semana depois um ataque contra a zona das embaixadas em Cabul, aquela onde se diz que o nível de segurança é mais elevada, onde esta é assegurada principalmente pelo exército americano e onde, curiosamente, ninguém reivindicou o atentado.
Aliás,o que não tem faltado nos últimos anos são atentados – invariavelmente atribuídos a extremistas islâmicos – perpetrados em oportunidades particularmente adequadas a outros interesses que não os dos grupos que os reivindicam ou a quem são atribuídos. Exemplo disso mesmo foi o atentado de ontem em Londres, sobre o qual existem notícias contraditórias que começaram por falar em vários “ataques”, e que ocorre a poucos dias dumas eleições antecipadas, desendadeadas por um partido conservador que parece cada vez menos seguro de alcançar o resultado que antecipava.

Por um motivo ou por outro, inegável parece ser que o Mundo pós-Trump (ou pró-Trump) se está a transformar num lugar cada vez menos agradável.