quarta-feira, 31 de maio de 2017

HÁ MALES QUE PODERÃO VIR POR BEM

Na sequência do rescaldo da última Cimeira da NATO, onde «Trump aponta dedo aos “23 dos 28” aliados da NATO que “não pagam o que devem”», e duma reunião onde «Questões climáticas dividem G7 em Itália», «Ao dizer que a Europa está sozinha, Merkel está só a ser sincera com os EUA» e talvez, por uma vez, com a própria Europa.

É que quando «Merkel sugere que a Europa já não pode contar com os EUA» poderá estar a abrir-se um cenário, agora que até a Inglaterra se afasta, onde finalmente a UE passe a assegurar a sua própria defesa. Esta questão não é nova – eu próprio a abordei em diversas ocasiões e a popósito de questões diferentes, como nos posts «O SMO, A UNIÃO EUROPEIA E PORTUGAL» ou «OS DEZ PROBLEMAS DO EURO» – mas o seu debate nunca foi assumido por uma numenklatura temerosa e subserviente a outros interesses que não aqueles que deveria efectivamente defender.


Felizmente a tacanhez estratégica e a visão estritamente economicista do novo inquilino da Casa Branca poderá estar a dar uma nova oportunidade à UE; não sei é se conseguirei ser tão esperançoso quanto hoje o foi Viriato Soromenho Marques quando escreveu no DN que «...no grande inverno do mundo, a Europa só terá o futuro que souber conquistar com as próprias mãos. Se isso ajudar a UE a sair da sua patológica menoridade, então talvez a história europeia acabe por registar Trump como uma imperdível oportunidade», porque receio bem que voltemos a cair no conto do vigário que tem sido o estafado argumento do papel dos EUA como “polícias do Mundo”, especialmente quando a realidade tem mostrado que as intervenções americanas servem exclusivamente os interesses das suas elites ou dos interesses económicos que as suportam.

terça-feira, 23 de maio de 2017

O ESTADO ISLÂMICO SEMPRE EXISTIU, É A ARÁBIA SAUDITA

No momento em que escrevo ainda se ignora como irá terminar o périplo entre o Médio Oriente e a Europa que Donald Trump está a realizar, mas a julgar pela imprensa nacional a sua breve passagem pela Arábia Saudita ficará assinalada pelo feito inédito onde «Trump faz as pazes com o islão e apela à luta contra a radicalização»; claro que também mereceu destaque a celebração dum acordo onde os «EUA vendem armas de 110 mil milhões de dólares à Arábia Saudita», mas isso não revestiu qualquer novidade nem a conhecida hipótese desse armamento acabar nas mão dos grupos jihadistas parece ter indignado ninguém.


Já o aparente retorno a uma sintonia de posições entre Washington e Riad, depois do muito propalado distanciamento praticado pela administração Obama, pode não passar disso mesmo, na linha aliás duma antevisão da deslocação a Tel-Aviv onde se anuncia que «Depois de visitar a Arábia Saudita, Trump chega a Israel com plano indefinido».

Como é sabido há décadas (cinco para ser mais preciso) o grande tema no Médio Oriente continua a ser a questão palestiniana, ou melhor a implantação de um estado judaico que recusa a existência palestiniana, e a histórica divisão dos estados árabes. Por isso mesmo e pelo histórico confronto com os persas, a monarquia saudita não hesitou na acusação de que o Irão é "ponta de lança do terrorismo mundial».

Mais estranho é ler esta e outras afirmações, como aquela onde «Trump acusa Irão de desestabilizar a região e apoiar os crimes de Assad», sem significativa referência à reconhecida interdependência entre a oligarquia saudita e o movimento wahhabita (movimento ultraconservador geralmente apontado como a “religião oficial saudita” e que a par do salafismo está na origem de organizações radicias como a Al-Qaeda e o Daesh), nem o facto de há décadas o reino saudita estar a financiar a maioria das mesquitas e madrassas (centros de difusão e divulgação corâmicos) que pelo mundo fora são associadas ao extremismo islâmico e ao recrutamento de jihadistas.

Claro que é fácil entender as motivações da administração Trump na crítica ao Irão (porque ainda não ultrapassou o fracasso que constitui o derrube do regime do Xá Reza Pahlevi ou que mais não seja para se mostrar diferente de Obama), na defesa intransigente do Estado de Israel ou até num possível apoio às pretensões hegemónicas dos sauditas no conflito latente que os opõe aos iranianos; o que não devemos é silenciar as verdadeiras razões que estarão por detrás de tudo isso, quando até bastaria ter recordado uma entrevista de Ziauddin Sardar, quando durante uma sua passagem por Lisboa deixou bem claro que «“O Estado Islâmico sempre existiu, é a Arábia Saudita”» e que sem um efectivo combate aos extremismos wahhabita e salafista não se erradicará o terrorismo islâmico.

domingo, 21 de maio de 2017

BRASIL E CORRUPÇÃO

Não sendo de temer, era de prever que após a forma pouco esclarecida (e esclarecedora) como Dilma Rousseff e o PT foram desapossados do poder o seu sucessor viesse a sofrer o mesmo destino, tanto mais que o seu círculo político estava há muito associado a esquemas de corrupção.


Isto mesmo já o tinha escrito no post «VERGONHOSO ESPECTÁCULO», que dediquei à destituição de Dilma Rousseff e às muitas dúvidas e incongruências então vividas, pelo que saber agora o seu sucessor Michel «Temer acusado de corrupção e organização criminosa» ou que «Michel Temer terá recebido 15 milhões de reais para a campanha. Um milhão ficou com ele», não pode ser encarado com espanto nem extemporânea a pronta reacção de quem contesta um sistema político desprovido de qualquer ética e profundamente minado pela corrupção que repetindo as manifestações levando a todo o Mundo uma imagem onde «Temer enfrenta milhares nas ruas» e se repete o apelo para a rápida realização de eleições directas.

Enquanto continuam a crescer as denúncias contra senadores, deputados e ministros cresce também um claro sentimento de repulsa contra uma elite política que nunca terá tido outro interesse em conta que o seu próprio benefício pessoal, que continua a levar «Milhares de pessoas em protesto nas ruas do Brasil», mas sem uma clara perspectiva de solução para um país que tarda em encontrar o antídoto para esta praga que o assola, agora que a «Economia brasileira volta ao terreno positivo e avança 1,12% no primeiro trimestre, segundo Banco Central», mas mais este «Escândalo põe Brasil em "stand-by" e bolsa afunda».

terça-feira, 9 de maio de 2017

A ÚLTIMA CRÓNICA DE BAPTISTA-BASTOS

Não é apenas o panorama literário nacional que fica mais pobre com a notícia da morte de Baptista-Bastos, é também um estilo de vida (e de viver) livre mas verticalmente comprometido com a dura realidade.


Com ele morreu a única razão que me levava a semanalmente percorrer uma página do CORREIO DA MANHÃ, aquela onde surgia a sua habitual crónica. Por ironia foi lá que saiu à estampa o seu último texto e sobre outro dos grandes nomes da nossa literatura:

«Um grande escritor

Para Manuel da Fonseca, a literatura era um sonho de viver.

Por Baptista-Bastos

Recordo muitas vezes o meu amigo, o seu sorriso triste, a palavra rápida, a percepção imediata das coisas, a coragem inaudita; e, também, a sua abalada ternura pelos companheiros, as melancólica confissões. Manuel da Fonseca, um dos maiores escritores de sempre da literatura portuguesa, o mais felino dos sarcastas e o mais generoso dos amigos.

Havia, nele, a placidez dos grandes sonhos e a nobreza de olhar os camaradas com o respeito que eles, muitas vezes, não mereciam. Para ele, a literatura era um sonho de viver, e feria-o quando, aparentemente, o ignoravam. Passou, há dias, o aniversário da sua morte, recolhido ao Alentejo que escrevera como ninguém, num fulgor magoado e com o olhar enevoado de desgostos.

‘O Fogo e as Cinzas’, admirável livro de contos, cuja organização se deve a Carlos de Oliveira, à mulher deste, Maria Ângela de Oliveira, e a José Gomes Ferreira, é um trabalho de amor e uma doação ao espírito daqueles tempos. Outros grandes títulos do grande autor; ‘Seara de Vento’, ‘Cerromaior’, filmado por Luís Filipe Rocha com a paixão devida, e outros mais.

Certo dia, sabedor de que o meu amigo andava de dinheiro em baixo, falei com Francisco Pinto Balsemão para a entrada de Manuel da Fonseca como colaborador do jornal onde eu era redactor. E assim nasceram crónicas admiráveis, que eu editava no suplemento de domingo, sob o título ‘Pessoas na Paisagem’, uma experiência que me deu grande felicidade. Pontualmente, o meu velho amigo publicou, durante anos, sem uma falha, um texto ímpar que falava do seu Alentejo com a grandeza imaculada de quem escreve sobre o que ama.

Estive, agora, a reler o grande escritor, com a emoção de quem está, de novo, a ouvi-lo e à sua voz pausada e lenta, revendo os seus olhos pequenos e vivos, recordando a sua lúcida atenção às coisas, aos homens e ao seu tempo. Mas, sobretudo, recordando a amizade e o afecto, de que sinto a falta.»

Adeus Baptista-Bastos, não foste apenas um «Cão Velho Entre Flores», nem lembraste somente um «Secreto Adeus» antes fizeste uma admirável «Viagem de um pai e de um filho pelas ruas da amargura»... vais-nos fazer muita falta!

quinta-feira, 4 de maio de 2017

AS PME NO DISTRITO DE SANTARÉM

O meu amigo José Pereira (Professor Especialista e Director Pós-Graduação Gestão do ISLA-Santarém) estará no próximo Sábado a apresentar um dos painéis do Seminário “As PME no distrito de Santarém” promovido por aquela instituição.


O trabalho na origem da apresentação de um breve enquadramento do eco-sistema PME no distrito de Santarém (para o qual tive o prazer de ter participado no tratamento estatístico) permite a apresentação dum conjunto de conclusões, das quais destaco:
·         O distrito caracteriza-se por apresentar poucas empresas e de pequena dimensão (micros), com especial destaque para o elevado número de empresários em nome individual (ENI), com elevado endividamento e baixo investimento;
·         O Comércio e Serviços são sectores dominantes num distrito que apresenta apetência por mercados externos (bons desempenhos);
·         Apresentando maioritariamente empresas pequenas e focadas no seu dono/gestor (o que ajuda a explicar o baixo número de certificações PME Líder/Excelência), mostarm-se disponíveis para tentar novos mercados;
·         Constatando-se que o endividamento é principalmente utilizado para o financiamento do fundo de maneio, podem melhorar performances operacionais e a dinâmica empresarial necessita estímulo;
que serão objecto de debate e de enriquecimento pelas opiniões dos participantes nos três paineis que se lhe sucederão:

1º Painel “A competitividade das PME e o desafio do crescimento económico, com a participação de Dr. Rui Brito, Diretor Financeiro da Companhia das Lezírias, SA (Samora Correia), do Sr. António Cruz Costa, CEO da INDUCOL - Indústrias de Peleteria Cruz Costa, SA (Abrã, Santarém), do Sr. António Gastão, Administrador da MAGOS Irrigation Systems, SA (Salvaterra de Magos), do Sr. Pedro Correia de Oliveira, CEO da PROSAÚDE, SA (Almeirim) e moderado pelo Professor Dr. Vasco Ribeiro Santos;

2º Painel “Como podem as instituições apoiar a competitividade das PME”, com a participação da Dra. Salomé Rafael, Presidente do NERSANT - Associação Empresarial da Região de Santarém, do Dr. Pedro Seabra, Administrador da GARVAL, Sociedade de Garantia Mútua, SA, do Dr. Tiago Leite, Diretor do Centro Distrital de Santarém do Instituto da Segurança Social, do Dr. Renato Bento, Diretor do Centro Emprego Formação Profissional Santarém, do Dr. Bernardo Maciel – Diretor-executivo da YUNIT Consulting, Lda e moderado pelo Professor Especialista Jorge Oliveira;

3º Painel “O financiamento das PME como alavanca para a retoma do investimento”, com a participação do Dr. Cláudio Sousa, Diretor Comercial do Ribatejo do Banco Santander Totta, do Engº Nuno Fazenda – Presidente da Comissão Executiva da CCAM – Alcanhões, do Dr. Dário Lopes, Coordenador do Gabinete Empresas de Torres Novas da CGD, da Dra. Anabela Frazão, Diretora do Centro de Empresas de Santarém do Millennium BCP e moderado pelo Professor Especialista José Alberto Pereira