sexta-feira, 3 de março de 2006

INICIATIVA LOCAL DE ORIENTAÇÃO ESCOLAR

Numa altura em que muitos concelhos do país se confrontam com os problemas resultantes do anunciado encerramento de escolas do primeiro ciclo do ensino básico (dados referidos na imprensa nacional apontam para o encerramento de 4500 escolas, com menos de 20 alunos, o que se traduzirá na deslocação de cerca de 70 mil crianças, até 2009), que se discutem as consequências imediatas e remotas (havendo quem defenda que esta opção irá acelerar a tendência para a desertificação dos concelhos mais rurais do interior) e a melhoria ou não da qualidade do ensino que irá ser ministrado a esses jovens, no concelho de Almeirim, debateu-se ontem outro tipo de problemática educativa.

Embora nenhuma das suas escolas se encontre abrangida (pelo menos para já) por este tipo de problema, nem por isso a comunidade deixa de enfrentar dificuldades no campo educativo.

Fruto de uma iniciativa da Escola Secundária Marquesa de Alorna está a decorrer uma mostra de ofertas e oportunidades de integração escolar, profissional e social, com a qual se pretende disponibilizar a alunos e encarregados de educação informação sobre opções e alternativas de escolaridade e formação para os jovens do concelho.

Paralelamente, realizou-se ontem um colóquio subordinado ao mesmo tema que contou com a participação de representantes daquela escola, da Câmara Municipal de Almeirim, do IEFP, da Associação de Pais de Alunos do Ensino Oficial de Almeirim e dos alunos (no caso um jovem do curso de formação pós-laboral).

De uma forma geral todos os intervenientes se debruçaram sobre as dificuldades na orientação dos jovens para a escolha de uma opção educativa e/ou de formação.

Na qualidade orador convidado pela Associação de Pais, centrei a minha intervenção no colóquio ao tema “Educar para Escolher”, cujas linhas gerais passo a enunciar:

«Não possuo qualquer experiência profissional na área pedagógica apenas arrisco como pai, algumas contribuições dispersas que, espero, possam contribuir para esta oportuna reflexão.

Quando se avizinha, no percurso formativo dos jovens a necessidade de fazer as primeiras opções, que preparação têm os Pais e Encarregados de Educação, oriundos de níveis culturais e económicos diferentes, para fazer face aos problemas que se avizinham?

Leram, debateram ou assistiram a programas especiais que os preparam para responder a problemas pedagógicos?

Que experiência têm? Quem os ensinou?

Se há famílias que revelaram capacidade para criar um ambiente familiar estável; estaremos de acordo que isso é uma base indispensável mas que não resolve tudo. Jovens há, infelizmente demais, que nem essas condições têm. E esses, estarão condenados a uma exclusão definitiva e sem alternativa?

São indispensáveis mecanismos de orientação pedagógica para os jovens, mas também de apoio aos Encarregados de Educação que os ajudem a compreender e a ajudar os jovens.

A orientação profissional não é uma actividade programada para o período de vida correspondente à escolha da profissão. Felizmente, esta perspectiva tem vindo a ficar para trás, considerando-se que a orientação profissional é um processo permanente disponível à criança, ao adolescente, ao jovem e até ao adulto. A escolha profissional não é uma solução rápida para um problema urgente para o qual o sujeito não teve preparação prévia.

Logicamente, isto coloca um desafio a Encarregados de Educação e Escolas pois a sua missão consiste em criar condições para que o jovem se vá preparando para a escolha da carreira e que tome um verdadeiro acto de autodeterminação. Para consegui-lo o jovem necessita de toda uma aprendizagem produzida ao longo de anos, e que ao mesmo tempo lhe sejam proporcionados uma série de:

- conhecimentos preparatórios;
- informação sobre o meio social, laboral e educativo;
- assim como vivências e reflexões sobre a sua personalidade e a sua afinidade (ou não) com as exigências da carreira que deseja construir.

Assim, as “visitas de estudo” regularmente organizadas pelas Escolas deveriam incluir, ao longo do processo formativo dos jovens, o contacto com empresas e escolas que lhes permitam acumular contactos, conhecimentos e experiências em áreas de actividades distintas.

A opção de escolha não deve ser determinada por critérios de natureza económica.

Quantos de nós, Encarregados de Educação, não nos questionámos algumas vezes sobre a nossa capacidade para proporcionarmos aos nossos filhos a formação que eles desejem?

Sem lhes escondermos as dificuldades, deveremos orientá-los para fazerem a escolha que julguem mais adequada.

Quantos de nós, Encarregados de Educação, não pensámos já que esta ou aquela opção parece mais adequada porque existe maior procura no mercado de trabalho?

Se aos jovens foram proporcionadas condições de informação e apoio familiar para poderem formar a sua própria opção, deveremos deixar-lhes a liberdade dessa mesma escolha

Encarregados de educação, alunos e professores (em maioria na assistência) terão terminado a sessão com, pelo menos, esta noção: trata-se de um problema de resposta delicada mas para o qual existem vontades de apresentar contributos e a comunidade (escola, pais e autarquia) parece empenhada em realizar novas iniciativas que ajudem no processo de orientação dos seus jovens.

Desta iniciativa, mais do que a esperança ressaltou a vontade de se trabalhar para melhorar o futuro.

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