terça-feira, 29 de maio de 2018

EUTANÁSIA


Votam-se hoje no parlamento propostas de lei sobre a eutanásia.

Depois do sucedido com o caso da despenalização da IVG (Interrupção Voluntária da Gravidez) voltam agora a repetir-se quase o mesmo tipo de argumentos a favor e contra a eutanásia enquanto a comunicação social difunde opiniões favoráveis (poucas) e contrárias (a maioria), confundindo mais do que esclarecendo, misturando, ou deixando misturar conceitos como eutanásia (acto de natureza exclusivamente médico praticado a pedido do doente no quadro duma doença incurável e numa fase de sofrimento físico e psicológico) e suícido assistido (situação em que o doente, com ou sem assistência médica directa, põe termo à própria vida).


Impera a incerteza no resultado da votação parlamentar – com o «CDS-PP e PCP, lado a lado, no voto contra», o BE e o PAN a anunciarem o voto favorável e PS e PSD a darem liberdade de voto aos seus deputados –, pouco se sabe da posição de Marcelo Rebelo de Sousa (o homem que tem sempre opinião sobre tudo, desta vez deixou apenas a ideia que poderá vetar uma lei que não resulte de uma votação expressiva) e a Ordem dos Médicos já fez saber a sua oposição mas um estudo de 2017 garante uma «Maioria dos jovens médicos a favor da eutanásia».

Estaremos aqui a assistir a uma espécie de divisão entre “novos” e “velhos” ou entre “católicos” e “não católicos”, como pode inferir-se de alguns argumentos invocados pelos opositores ou quando o «Cardeal patriarca pede aos deputados para votarem “não”», ou, tal como em 2007 aquando do debate sobre a despenalização da IVG, os que se opõem confundem apenas as suas convicções (éticas ou religiosas) com a liberdade dos restantes?

Fará sentido lançar no debate argumentos como a redução dos custos para o SNS que dele resultará, quando é cada vez mais evidente que os progressos médicos que levaram ao aumento da esperança média de vida não encontrou ainda correspondência na garantia da qualidade dessa mesma vida?

Criar um quadro legislativo que possibilite o acesso a um processo clínico que assegure o direito a morrer com dignidade a quem assim o entenda não equivale a impôr o sistema a quem a ele não queira recorrer (por príncipio ético ou religioso), mas o oposto significa impôr a quem sofre (e á rede de familiares e amigos que o rodeia) um processo de morte lenta e dolorosa, em nome de princípios que este não partilhará.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

VENTOS DE ITÁLIA


Quase três meses volvidos sobre as eleições italianas de 4 de Março e depois de fracassadas algumas tentativas de coligação, eis que parece encontrada uma solução governativa para o país, onde o Movimento «5 Estrelas e Liga propõem o desconhecido Conte para primeiro-ministro».

A grande dúvida é que a coligação agora formada junta a extrema-direita xenófoba (Liga) com os populistas anti-imigração (Movimento 5 Estrelas – M5S), no que aparenta uma união sustentada pela negativa e não pela positiva.


A estas duas forças políticas (as mais votadas nas últimas eleições) conhecem-se as posições anti-sistema e anti-europeias mas pouco ou nada do que significará dirigir o país que representa a 4ª economia europeia (3ª após o Brexit) a braços com uma crise de crescimento que se arrasta sem solução à vista e num contexto europeu pouco sensibilizado para esse tipo de problemas.

O resultado destas eleições – vitória do M5S seguido da Liga – é um claro reflexo duma crise financeira mundial que ajudou o discurso xenófobo e anti-imigração e a solução austeritária aplicada à chamada crise das dívidas soberanas, em lugar de a resolver, agravou a dívida pública italiana.

A ascensão de políticas populistas e xenófobas não é exclusivo da Europa e ainda menos da Itália; a prová-lo basta lembrar a situação da Áustria, onde a extrema-direita titula três importantes ministérios, da Alemanha, onde se assite a uma clara viragem à direita da CDU/CSU por pressão da xenófoba e anti-islâmica AfD, na Holanda e em França, onde a FN disputou voltou a disputar a segunda volta das eleições presidenciais, sem esquecer a gravidade da situação de governos como o polaco e o húngaro que à revelia das normas comunitárias aplicam políticas declaradamente anti-imigração e anti-refugiados.

A confirmar-se a composição do novo governo italiano em clara oposição às políticas europeias dominantes qual será a reacção em Bruxelas? Compreenderá a euro-nomenklatura que as derivas populistas e xenófobas são consequência da sua prórpia actuação ou continuarão a insistir no dogma da inexistência de alternativas?

quarta-feira, 16 de maio de 2018

ISRAEL 70 ANOS


Assinalando o 70º aniversário da criação do Estado de Israel foram inauguradas as instalações da nova embaixada dos EUA em Jerusalém, mudança decidida por essa luminária da política internacional que dá pelo nome de Donald Trump e à revelia duma comunidade internacional que continua a recusar a aceitação da ocupação ilegal daquela cidade e da sua conversão em capital indivisível do Estado de Israel.


Em simultâneo com este evento mediático, desde finais de Março que ocorrem manifestações diárias na fonteira da Faixa de Gaza em protesto contra a ocupação israelita e pelo direito de regresso dos milhares de palestinianos expulsos dos territórios ocupados. Contrariando o previsto no Plano de Partilha da Palestina proposto pela ONU em 1947, sucessivos governos israelitas transmutaram o povo judaico de vítima em algoz e têm vindo a apoiar a regular instalação de colonatos judaicos em territórios fora daquele plano, além da implementação de pretensas políticas securitárias, através da construção de muros e de postos de controlo militares que outra coisa não são que uma forma de inviabilizar o funcionamento da já de si incipente economia palestiniana e de infernizar a sua vida diária.

Para assinalar a data, que os palestinianos conhecem como Al-Nakba (a catástrofe), foi este ano decidido promover manifestações diárias na fronteira da Faixa de Gaza; assim, nas últimas semanas têm ocorrido regulares confrontos entre as forças militares israelitas e os manifestantes palestinanos, mas a dimensão e desproporcionalidade da reacção israelita já levou à morte de mais de uma centena de palestinianos desde o início do mês; só no dia do aniversário (14 de Maio) foram mortos cerca de 60 palestinianos e mais de 2.000 feridos no que facilmente se entende como uma absurda desproporção de violência, que já levou a própria ONU a pedir a Israel que cesse o uso desproporcionado da força contra os palestinianos.

Claro que a actual conjuntura num Médio Oriente minado pela questão palestiniana que se arrasta há 70 anos, dilacerado pela guerra civil síria e ainda não recuperado da destruição do Iraque, onde se confrontam três candidatos à liderança regional (Arábia Saudita, Irão e Turquia) e as potências internacionais (EUA, China, Rússia e UE) assumem um papel irrelevante ou abertamente favorável a um dos lados em confronto, em nada favorece outra perspectiva de solução que não a manutenção dum regime de apartheid, imposto por Tel-Aviv e tacitamente aceite por todos, salvo os palestinianos que se recusam a morrer em silêncio.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

O FIM DO ACORDO NUCLEAR COM O IRÃO


Não foi surpresa saber que o presidente «Trump anuncia que os EUA estão fora do acordo com o Irão». Esta foi uma decisão anunciada ainda durante a campanha eleitoral cujo real objectivo estará mais longe da questão nuclear do que aparenta. Os EUA não hesitaram em afrontar a opinião generalizada, ignoraram que a «Agência de Energia Atómica confirma que Irão cumpre o acordo» assinado em 2015 e naquele falajar hiperbólico a que nos vai habituando «Trump decide sair do acordo “podre” com o Irão e anuncia sanções “mais poderosas” de sempre».

No fundo e enquanto assegura que pretende alargar o âmbito de um novo acordo a outros tipos de armamento, pretenderá transmitir uma ideia de “durão” para o encontro que se avizinha com Kim Jong-un, mas para já tudo o que terá alcançado é um agrado aos seus amigos dos combustíveis fósseis, pois o «Divórcio entre EUA e Irão leva petróleo para máximos de quatro anos» e a oportunista «Arábia anuncia medidas para evitar escassez de petróleo».



No fundo tudo o que Trump já conseguiu foi alinhar ainda mais os EUA com os interesses duma Arábia Saudita, que pretende disputar a hegemonia regional com o Irão, e agravar as tensões num Médio Oriente onde Benjamin Netanyahu, o «PM israelita diz que é preferível enfrentar Irão agora do que mais tarde».

Repetindo o reiterado desrespeito pelas organizações internacionais, nomeadamente pelas que procuram regular o uso da energia nuclear, alinhando-se declaradamente a favor duma das nações que procura dominar uma região estrategicamente vital pela sua riqueza em hidrocarbonetos e alimentando os anseios bélicos do regime israelita (estado que nunca assumiu o facto de possuir um arsenal nuclear), bem pode agora dizer-se que a «Comunidade internacional tenta salvar acordo com o Irão» quando o cenário se avizinha cada vez mais negro quando a «Arábia Saudita diz que vai desenvolver arsenal nuclear se o Irão o fizer».

quarta-feira, 2 de maio de 2018

A UE NO LABIRINTO AMERICANO


Depois das recentes visitas a Washington do presidente francês, Emmanuel Macron, e da chanceler alemã, Angela Merkel, a administração norte-americana fez saber que Trump adia um mês guerra comercial com UE, o que está muito longe de resolver a cerne dos problemas que levaram os dois dirigentes europeus a atravessarem o Atlântico e ainda mais de evitar uma guerra comercial que já parece quase garantida.


Excluída desde o início de qualquer programa de isenções às tarifas impostas, a China retaliou com seus próprios direitos sobre algumas importações dos EUA, ao que a Casa Branca respondeu sugerindo mais tarifas contra a China, assim aumentando as tensões comerciais entre as duas maiores economias.

Não bastando isso, a ausência de algo mais palpável que a moratória de trinta dias agora anunciada, deve ser entendida do lado europeu como sinal para “preparar as armas”... e o pior é que os parcos resultados alcançados por Macron e Merkel não são apenas insignificantes, são também preocupantes pela divisão europeia que voltaram a revelar, quer por se apresentarem separadamente quer por insistirem em agendas nacionais.

Aqui o destaque vai principalmente para a posição alemã que vê seriamente condenada a sua política de excedentes comerciais que já colocou a Zona Euro em perigo e ameaça agora servir de justificação para uma estratégia de Donald Trump claramente orientada para consumo interno e que a prazo apenas se poderá virar contra si próprio.

Entretanto o populismo da Alt-right norte-americana vai-se inflamando enquanto a China continuará a tecer a paciente teia onde as grandes empresas transnacionais se enredaram e a UE arrisca continuar a desgastar-se até à insignificância, porque não tenhamos dúvidas que os tristes dirigentes europeus que não têm revelado capacidade para sobrevalorizar o que os devia unir, voltarão a soçobrar ante a ameaça do que possa prejudicar os lucros das empresas cujos interesses representam e que até agora os têm escorado. Franceses e alemães voltaram a dar uma tristérrima imagem de si e duma UE que por tibieza ou verdadeira incompetência dos seus líderes nunca tentou sequer constituir-se como um efectivo contra-poder à cada vez mais frágil hegemonia norte-americana.

terça-feira, 1 de maio de 2018

1º MAIO 2018

Provando que há sempre mais que uma forma de comemorar qualquer efeméride, deixo hoje uma proposta de reflexão em torno duma imagem; não uma qualquer, nem uma directamente alusiva à comemoração do Dia do Trabalhador (efeméride internacional que assinala a luta dos trabalhadores pela jornada de trabalho de 8 horas, que embora iniciada em 1866 só seria reconhecida pela OIT em 1919) mas um trabalho dum dos mais importante carticaturistas da actualidade: Michael Kountouris


Kountouris, grego de nacionalidade e caricaturista desde 1985 em várias publicações gregas, tem sido uma das mais importantes “vozes” no comentário à situação grega e europeia; vencedor de vários prémios internacionais no Irão, Espanha, Itália, Bélgica e Portugal, recebeu em 2013 o 1º Prémio do World Press Cartoon, deixa-nos hoje a sua visão duma sociedade dividida, não no essencial mas nos pormenores.

Para reflectirmos... TODOS!