Continua acesa a polémica em torno da publicação por um jornal dinamarquês - Jyllands-Posten - de um conjunto de caricaturas do profeta Maomé.
Apesar da publicação já datar de Setembro do ano passado, a polémica reacendeu-se quando publicitada em diversos países islâmicos. Na actual conjuntura mundial aquilo que não deveria ter ultrapassado as fronteiras de um país e o debate entre a liberdade religiosa e liberdade de expressão acabou por se transformar num problema de dimensão internacional que está a afectar os países islâmicos (cujas populações se sentem indignadas com o ultraje), a Dinamarca (país onde se originou a crise e no qual muitas empresas já começam a sentir os efeitos do boicote aos seus produtos aplicado pelas populações dos países árabes) e a comunidade internacional em geral.
As razões por que tal aconteceu devem-se a factores distintos, que vão desde a crescente politização das correntes islâmicas fundamentalistas, o clima anti-ocidental gerado pelas invasões do Afeganistão e do Iraque e pela facilidade de circulação da informação permitida pelas novas tecnologias.
Quando grande número de fiéis do Islão vêem países árabes invadidos, se vêem nos discursos do ocidente sistematicamente associados a práticas terroristas, fácil se torna a um pequeno grupo de activistas agitar mais um “incidente” para acicatar os ânimos e obter resultados como os hoje registados em Damasco onde as embaixadas da Dinamarca e da Noruega foram incendiadas.
No ocidente a discussão em torno da liberdade de expressão já permitiu à administração americana e ao governo britânico assumirem o papel de “virgens pudicas” vindo dizer que as caricaturas publicadas são incendiárias, constituem uma ofensa para as crenças muçulmanas e uma inaceitável incitação ao ódio racial e étnico, talvez na expectativa que os muçulmanos esqueçam por uns dias que são eles os principais responsáveis pela actual situação de conflito aberto no Médio Oriente e é o presidente Bush que sistematicamente justifica as suas opções belicistas com a necessidade de lutar contra o Mal.
Analisada de forma fria não creio que a publicação das referidas caricaturas merecesse muito mais que alguma acesa polémica e alguns discursos religiosos mais inflamados (como aconteceu entre nós há uns anos quando foi publicada uma caricatura do Papa João Paulo II com um preservativo no nariz), porém, no estado em que se encontram os ânimos no Médio Oriente, qualquer coisa serve de pretexto para fazer crescer o descontentamento contra os países ocidentais, tanto mais que estes se têm pautado por comportamentos muito pouco dignos e isentos quando tratam de abordar os problemas daquela região, como recentemente pudemos comprovar com os resultados das recentes eleições palestinianas.
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