quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

AGRAVAM-SE AS TENSÕES NO IRAQUE

Notícias chegadas do Iraque dão conta de mais um atentado (qual foi o último dia em que não houve um atentado). Desta feita o alvo foi a mesquita de al-Askari, que viu a sua cúpula dourada destruída à bomba.

Tratando-se de um santuário xiita implantado numa cidade maioritariamente sunita, não tardou que ao atentado ontem perpetrado se sucedessem represálias. As últimas notícias reportam mais de uma centena de sunitas mortos, apresentando a maior parte evidentes sinais de execução sumária.

Sabendo-se que:

- a mesquita de al-Askari é um dos lugares mais santos para a corrente xiita (maioritária no Iraque), que se situa na cidade de Samarra onde a população é predominantemente sunita (facção religiosa minoritária no país);

- nos últimos tempos se têm multiplicado as referências à existência de grupos paramilitares, ligados ao Ministério do Interior de um governo controlado pelos xiitas, que se dedicam ao assassinato de activistas ou membros relevantes de origem sunita;

- as dificuldades para a formação de um novo governo, em resultado das últimas eleições legislativas, se encontram longe de resolvidas;

- os governos americano e inglês têm vindo a intensificar as pressões para uma rápida resolução da crise governativa;

- os exércitos americano e inglês continuam a debater-se com grandes dificuldades no controlo de zonas particularmente sensíveis, como é o caso das regiões produtoras de petróleo, onde os atentados e as emboscadas se sucedem a elevado ritmo;

quem poderá ter maior interesse no agravamento das, cada vez mais tensas, relações entre as comunidades xiita e sunita?

Os curdos (terceiro grupo, com origem étnica distinta) que controlam a zona nordeste do território e cujo principal anseio à a constituição de um estado curdo que unifique os seus territórios, actualmente distribuídos entre o Iraque e a Turquia?

Os xiitas que beneficiando da sua predominância dispõe de uma maioria de lugares no parlamento iraquiano e fizeram referendar e aprovar uma constituição aparentemente favorável?

Os sunitas, alvo da perseguição dos xiitas e antigos apoiantes de Saddam Hussein, que numa posição minoritária (em número efectivo e no parlamento) poderão entender o recurso à violência como forma de forçar alterações no panorama político?

As potências ocupantes, que além dos elevados gastos financeiros, começam a dar crescentes sinais de impaciência face às inesperadas dificuldades?

Embora possa parecer simplista (e é certo que existem outros factores de natureza religiosa e étnica) não me espantaria que no futuro venhamos a ser confrontados com provas que demonstrem a “intervenção” dos serviços secretos ocidentais nestes acontecimentos. Tanto mais que a administração americana debate-se com três complicados problemas em relação ao Iraque:

- a crescente contestação interna à presença de soldados americanos no Iraque;

- as dificuldades no alistamento de novas tropas que permitam “refrescar” as que se encontram actualmente no terreno;

- a impossibilidade de contemplar um cenário de intervenção no Irão (em consequência da questão nuclear) por manifesta escassez de efectivos militares.

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