Tem-se revelado particularmente interessante a leitura das múltiplas opiniões que no espectro político nacional se têm feito ouvir a propósito das declarações do ministro dos negócios estrangeiros, Freitas do Amaral, sobre o episódio da publicação dos “cartoons” sobre Maomé.
Com matizes ou cambiantes ligeiramente distintos, no dia imediato à tomada de posição daquele membro do governo de José Sócrates, quase toda a oposição se pronunciou contra uma declaração que apenas condenava a referida publicação, sem qualquer referência às violentas manifestações que se estavam a produzir no mundo árabe.
Há medida que o tempo tem passado e alguma da potencial polémica tem vindo a ser esclarecida, nomeadamente a ausência de condenação dos assaltos a embaixadas europeias em alguns países árabes, e que o Presidente da República ou o próprio primeiro-ministro têm vindo a reafirmar a posição portuguesa, ainda se vão fazendo ouvir algumas críticas.
O que agora se revela interessante é analisar a respectiva origem.
Após uma primeira fase em que quase toda a oposição parecia afinar pelo mesmo diapasão, eis que agora apenas alguns sectores da direita nacional parecem preocupados em reavivar a polémica.
A este facto não é seguramente alheia a origem política do actual titular da pasta dos negócios estrangeiros.
Como fundador do CDS e seu ex-líder, Freitas do Amaral parece ter-se transformado numa espécie de alvo a abater pelos sectores mais conservadores e que aparentemente mais se preocupam com a polémica gerada em torno da questão das caricaturas e com um possível desfasamento entre a política externa nacional e a dos restantes parceiros europeus.
É precisamente neste sentido que vai o artigo de Proença de Carvalho, hoje inserto no DIÁRIO DE NOTÍCIAS, e no qual o autor manifesta a preocupação de ver o governo português desalinhado dos seus parceiros europeus no que entende ter sido a ausência de condenação dos actos violentos ocorridos durante as referidas manifestações.
Polémica à parte, estranho que o mesmo articulista não tenha manifestado idêntica preocupação quando o governo de Durão Barroso alinhou pela posição americana de invadir o Iraque, contra a opinião generalizada dos restantes parceiros europeus que se manifestaram em sentido contrário.
Será que nessa altura o prejuízo resultante do país ter alinhado por uma política de agressão gratuita e baseada em argumentos falsos (como aliás está sobejamente demonstrado) não foi muito mais prejudicial do que vir agora alguém (que por acaso até já foi presidente da assembleia-geral da ONU) condenar um acto que, sob a capa do inalienável direito de liberdade de expressão, na sua essência não foi mais que uma provocação?
Onde estava Proença de Carvalho no início de 2003? Também achava que Saddam Houssein dispunha de armas químicas (aquelas que os americanos lhe venderam para a guerra contra o Irão) e que era um perigo para a humanidade? Também será agora capaz de vir a terreiro defender as posições belicistas de Bush e Blair e a subserviência de Aznar e Barroso?
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