sábado, 7 de janeiro de 2006

O QUE VALEM AS SONDAGENS?

O PUBLICO publicou hoje nova sondagem sobre as eleições presidenciais do próximo dia 22 de Janeiro, segundo a qual Cavaco Silva vencerá na primeira volta com 60% dos votos. Este trabalho foi realizado pelo Centro de Sondagens e Estudos de Opinião da Universidade Católica (CESOP), que já em finais de Novembro realizara um outro que atribuía a vitória ao mesmo candidato com 57% dos votos.

Outros órgãos de comunicação têm apresentado sondagens realizadas por diferentes empresas, as quais apresentam resultados ligeiramente diferentes. A SIC apresentou em 23 de Dezembro um trabalho da EUROSONDAGEM que também dava a vitória a Cavaco Silva, mas com 52% dos votos.

Também em meados de Dezembro a TSF e o DIÁRIO DE NOTÍCIAS publicaram um trabalho da MARKTEST que, dando a vitória a Cavaco Silva apenas lhe atribui 41,5% dos votos.
Apesar de existir alguma diferença temporal na realização destes três trabalhos (dois em Dezembro e outro já em Janeiro) e o único que não atribui uma vitória na primeira volta a Cavaco Silva ser o mais antigo, não me parece que se possa inferir que com o passar dos dias os três principais concorrentes tenham visto alterada de forma tão significativa as respectivas intenções de voto.

Será que estas diferenças apenas significam falta de fiabilidade (honestidade) nos trabalhos apresentados?

Será que, como pretende Mário Soares, existe uma campanha informativa orientada para favorecer Cavaco Silva em detrimento dos restantes candidatos?

Não creio que qualquer dos centros de sondagens se arriscasse a publicar um trabalho que ostensivamente e de forma grosseira beneficiasse um candidato em detrimento dos outros, até porque um comportamento tão pouco ético destruiria a imagem e reputação de empresas que vivem da produção de estudos de mercado. Assim, a diferença de resultados (em causa está a diferença de votação em Cavaco Silva e a questão de haver ou não lugar a uma segunda volta) deve ser explicada pelas metodologias utilizadas pelas três empresas. Embora não conheça em pormenor as fichas técnicas e os métodos utilizados para a obtenção das conclusões, estou em crer que o CESOP e a EUROSONDAGEM procederam a uma redistribuição das respostas não afirmativas (as do tipo “não sabe/não responde” ou “nenhum”) pelos candidatos em liça uma vez que o somatório das percentagens é de 100% ou muito próximo, enquanto que a MARKTEST apresenta a distribuição das intenções de voto pelos candidatos, mas contabiliza as restantes segundo a respectiva categoria, permitindo mesmo constatar que a percentagem de indecisos é maior que a do segundo candidato mais escolhido.

Numa situação em que as diferenças entre candidatos sejam reduzidas o método de redistribuição dos votos dos indecisos e outros não apresentará grandes desvios uma vez que todos os candidatos receberão um acréscimo idêntico. Porém, quando um deles apresenta quase o quádruplo das intenções de voto que o segundo (no barómetro MARKETEST Cavaco tem 41,5% e Alegre apenas 11,6%) da redistribuição resultará um adicional maior para aquele que já apresenta maior vantagem. Em termos práticos o que se está a assumir é que os indecisos votarão em função da vantagem que atribuída ao primeiro, asserção que poderá não se registar em termos práticos.

Não se tratando de uma manipulação dos resultados recolhidos no processo de sondagem, este método apresenta, no caso concreto o efeito perverso de atribuir uma vantagem ainda maior que a real, até porque de acordo com o sistema de contagem dos sufrágios os votos em branco não são contabilizados como voto válido, logo não contam para o cálculo final.
É por isto que não concordo com a ideia que os meios de comunicação nacionais têm vindo a propagar – já existe um vencedor antecipado das presidenciais e nem vai ser preciso recorrer a uma segunda volta.

Não nego o evidente favoritismo de Cavaco Silva, mas parece-me que não existem (ainda) razões suficientemente poderosas para admitir que este venha a alcançar uma votação suficiente para ser eleito à primeira volta. Ainda serão publicadas mais sondagens até ao final da campanha eleitoral e, para todos os efeitos, os resultados só serão conhecidos na noite de 22 de Janeiro.

2 comentários:

Carlos Gil disse...

O Manuel Fernandes falava em prognósticos só para depois do jogo... certo, mas também errado. É possível aferir em sondagem as grandes correntes de voto. Que, simultâneamente, são motivadores de voto aos 'indecisos' que apuram. São verdades manipuladoras...
No fundo, o que está em causa é haver ou não 'segunda'. A maioria absolutíssima de há um ano (PS+PC-BE)não foi só gerada pelo efeito "fuga do Durão + palhaçadas do Santana" que, em máximo, dariam uma vitória ao PS mas não a sua maioria, como a teve. Na hora das 'grandes decisões' existem 50+1 que votam esquerda. Numa segunda, tem de lá estar é o candidato mais propício a arregimentar vontades, despertar esperanças. Daí, as 'primárias' da sequerda serem tão importantes. Porque, se há 2ª...
Eu acredito. E muito Alegremente.
Abraço

A Xarim disse...

Apesar de já termos discutido isto de viva voz, continuo a pensar que mais importante que assumir a votação de dia 22 como umas "primárias" da esquerda (será que todos os candidatos não apoiados pelo PSD e pelo CDS são de esquerda?)é garantir que haverá uma segunda volta, porque eu continuo na mesma posição: não sei em quem irei votar, mas no Cavaco é que não é! DE CERTEZA!