sábado, 28 de janeiro de 2006

DIA INTERNACIONAL DE COMEMORAÇÃO EM MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DO HOLOCAUSTO

Comemorou-se ontem este dia devido a uma iniciativa da ONU em resultado de uma proposta aprovada no dia 31 de Outubro de 2005 pela sua Assembleia Geral, apresentada por Israel e apoiada por cerca de um centena de países membros. Terá estado na génese de mais esta efeméride as recentes posições do presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, que em diversas oportunidades tem manifestado a opinião de que o holocausto poderá não ter tido a dimensão que se lhe atribui e que se teve as compensações aos judeus deveriam traduzir-se na oferta de terras na Europa, na América, no Canadá ou no Alaska em substituição das atribuídas na Palestina, cujo povo está a pagar por um crime que não cometeu.

No actual estado de ebulição que se vive no médio oriente, com o diferendo israelo-palestiniano, a ocupação do Iraque pelos americanos, a crise originada pela intenção do Irão reactivar o seu programa nuclear e o muito recente resultado das eleições na Palestina, tudo serve para as partes lançarem (ou acusarem os outros de o fazer) achas para a fogueira, que os órgãos de comunicação social ajudam a difundir e a ampliar.

Entre comunicados de rejeição, desmentidos baseados em erros de tradução e interpretação, o mundo vai assistindo a uma subida de tom na linguagem política e diplomática a propósito daquela conturbada região do planeta.

Sem querer aqui fazer eco das teses, muito discutíveis, de Ahmadinejad (que não será mais que o porta-voz das facções mais radicais do islamismo xiita), nem defender o lado oposto (aprendi há muito que nos conflitos não há lugar para os “santos”), sempre vou recordando que parte significativa da instabilidade naquela região resulta do facto desta constituir a principal origem dos hidrocarbonetos de que a indústria mundial necessita desesperadamente e de nela ter sido implantado um foco adicional de conflito, originado pela política norte-americana de apoio incondicional às teses judaicas, mais do que à implantação do estado de Israel que a ONU decidiu em 1947.

Mais do que o potencial conflito de interesses entre judeus e palestinianos, o grande problema reside no facto de nunca a comunidade internacional ter feito um verdadeiro esforço para a aplicação daquela resolução da ONU, antes optando invariavelmente pela defesa intransigente das teses e políticas judaica (invariavelmente escudada no horror do holocausto). Enquanto aos palestinianos continuam a ser feitas exigências de respeito pela existência de Israel e de abandono da luta armada, aos judeus continua a ser permitido o bombardeamento dos territórios palestinianos, o assassinato de militantes palestinianos, a ocupação de terras com colonatos judaicos e o desrespeito da decisão de partilha entre os dois povos da cidade de Jerusalém.

A política negacionista do Irão, sendo condenável, tem que ser entendida como mais uma peça nesta intrincada teia de interesses, não devendo ser utilizada como mais um argumento de arremesso e exaltação de mentalidades.

O holocausto e aqueles que o sofreram merecem melhor homenagem que a utilização da sua memória em prol de interesses muito duvidosos.

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