segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

«HABEMUS CAVACUM»

Não foi, mas podia bem ter sido com estas palavras que ontem se anunciou a eleição do novo presidente da república portuguesa.

A avaliar pelas sondagens que os órgãos de informação foram divulgando ao longo da pré-campanha e da campanha eleitoral, nem mereceria a pena o incómodo, e o custo, de realização do acto eleitoral.

Afinal o “fumo branco” apresentou-se “muito sujo”, facto que o candidato eleito se apressou a branquear (aliás foi isso que fez ao longo de toda a campanha – branqueando a sua passagem de dez anos pelo governo) quando afirmou que a maioria que o havia eleito se esgotava nessa mesma eleição.

Tal como o disse aqui, nada mudou de relevante de ontem para hoje.

Apenas lamento que tenha sido escolhido para a mais alta magistratura do país alguém que apresenta muito poucas características e qualidades para a função. Não que para tal seja necessário alguém com especiais qualidades, salvo a necessidade de muito bom senso e uma enorme capacidade para saber ouvir (os conselheiros de estado), entender o sentir e o pulsar do conjunto dos cidadãos e manter-se à margem de polémicas; ora isso mesmo é o que Cavaco sempre demonstrou não possuir (quem esqueceu que ele nunca se engana e raramente tem dúvidas, o seu natural impulso interventivo, autoritário e autocrático) e não acredito que o tenha adquirido nestes últimos dez anos.

Cabe igualmente referir que a vantagem atribuída a Cavaco Silva (meros 0,59%) poderá ser o seu primeiro calcanhar de Aquiles e a sua primeira intervenção após o conhecimento dos resultados não deverá ter sido do particular agrado dos líderes dos partidos que o apoiaram, que não só se viram afastados da glória dos vencedores como terão que enfrentar a breve trecho a pressão dos respectivos militantes perante o inevitável distanciamento entre as promessas eleitorais de Cavaco e a sua prática diária.

A fragilidade da vitória de Cavaco Silva (é certo que por um voto se ganha, por um voto se perde) torna-se ainda mais evidente quando se constata que caso os votos em branco fossem contabilizados como votos válidos (é tão válido não escolher qualquer candidato como escolher um deles), o seu resultado seria de 50,05%.

O resultado ontem registado e o perfil do novo presidente, levam-me a formular muito fracos augúrios ao mandato presidencial que em Março se vai iniciar.

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