Um artigo da edição de hoje do PUBLICO refere que no ano lectivo de 2003/2004 cerca de 16% dos alunos matriculados no ensino regular (básico e secundário) chumbaram ou desistiram nesse ano lectivo.
Podendo não parecer um número muito elevado, ainda assim representa um valor idêntico ao registado há cerca de 10 anos atrás e confirma a ineficácia do muito dinheiro gasto com a formação das gerações mais novas, assume outro tipo de proporções quando da análise dos dados disponíveis se constata que ao nível do ensino secundário o insucesso atinge quase 34% (mais 7 décimas que em 1995/1996), o que significa que em média 1 em cada 3 alunos do ensino secundário precisa de quatro ou mais anos para o concluir.
Poderia continuar este tipo de apresentação estatística sobre outras realidades escolares nos diferentes níveis de ensino básico, mas o que me importa aqui referir, mais que a dura realidade dos números, é a ineficácia das políticas e práticas educativas que temos vindo a ver aplicadas. Apesar de dura esta conclusão parece-me totalmente ajustada, tanto mais que é corroborada quando os alunos, concluído o secundário ingressam no ensino superior.
Aqui são os próprios professores que se queixam do baixo nível de preparação com que os alunos atingem aquele nível de ensino, que no dizer dos nossos governantes (actuais e anteriores) é fundamental para dotar o país dos meios humanos adequados às novas tecnologias e a uma maior competência profissional.
Na qualidade de antigo dirigente de associações de pais, onde acompanhei diferentes níveis de escolaridade, repito aqui o que há mais de uma dúzia de anos venho reclamando dos responsáveis pela educação dos nossos jovens (professores, conselhos directivos das escolas e responsáveis pelas Direcções Regionais de Ensino e do Ministério da Educação): é indispensável acabarmos com o falso conceito de que a aprendizagem é um processo fácil, lúdico e automático para toda os alunos, pelo que os jovens terão que prestar provas regulares dos conhecimentos adquiridos nos anos terminais dos diferentes ciclos de formação.
A realidade, em qualquer parte do mundo, demonstra que o processo de aprendizagem envolve trabalho, esforço e dedicação e que estas qualidades têm que ser valorizadas pelas escolas e os jovens têm que ser conduzidos através de um processo de aquisição de conhecimentos onde sintam (desde o primeiro dia de aulas no 1º ano de escolaridade básica) essas dificuldades e nele adquiram as competências para as ultrapassar.
A prática de facilitismo que tem vindo a ser seguida e que em nome de resultados estatísticos de nível europeu permite que jovens impreparados e sem um mínimo de competências adquiridas vão transitando de ano escolar em ano escolar até à conclusão do período de escolaridade básica, traduz-se nos baixos níveis de aproveitamento no ensino secundário (que mesmo assim estão longe de traduzir a realidade do pobre panorama de conhecimentos que os alunos realmente adquiriram) e nos ainda piores resultados no nível superior.
A aquisição de competências sociais e profissionais não é apenas um dever das camadas mais jovens da nossa população mas também do poder político para com os cidadãos (encarregados de educação daqueles jovens) que os elegeram; mas não será com propostas de paliativos (o que na maior parte dos casos se tem feito para minimizar os maus resultados escolares é baixar cada vez mais os níveis de exigência) que alguma vez teremos uma sociedade melhor preparada para enfrentar os desafios da modernidade (mesmo que eles sejam os de uma economia exclusivamente orientada para a produção de artigos em vias de obsolescência) e nem através da proliferação de cursos cuja adequação à economia real é mais que duvidosa, ministrados em escolas com meios de ensino inadequados, lograremos melhorar de forma real as capacidades e competências das novas gerações.
Sem comentários:
Enviar um comentário