Após uma tentativa infrutífera para que o Parlamento Britânico desse provimento a uma proposta de destituição de Tony Blair, apresentada por um grupo de 23 deputados em 2004 e na sequência do avolumar de notícias que confirmavam a falta de fundamentação para a invasão do Iraque, noticiou este fim-de-semana o “MAIL ON SUNDAY” que o “CHANNEL FOUR” irá difundir no próximo dia 13 de Janeiro uma entrevista com o ex-comandante das forças britânicas na Bósnia, que defende a responsabilização dos políticos em situações como a que originaram o envolvimento do Reino Unido naquela operação militar.
O general Michael Rose adianta mesmo que o primeiro-ministro deveria ser destituído por ter envolvido o país numa guerra baseado em evidências muito fracas e que ele próprio (militar) nunca teria tomado semelhante decisão em face das evidências disponíveis.
Além do provável sensacionalismo da notícia importa reter dois factos: 1) o entrevistado não integra o “grupo” dos partidários do não-intervencionismo até porque, finalizada a sua missão na Bósnia, considerou que os resultados da intervenção militar da NATO poderiam ter sido francamente mais eficazes se não tivesse existido uma manifesta tibieza política na condução do processo; 2) este pode ser um franco sinal de que se começa a avolumar a pressão pública no sentido da responsabilização dos decisores políticos.
Mesmo correndo o risco da generalização deste tipo de atitude poder conduzir a algum excesso inicial, tal actuação teria o benefício de minimizar o risco de leviandade ou de decisões “de favor” como poderá muito bem ter sido o caso desta.
Em qualquer das situações parece-me mais do que apropriado que a opinião pública se faça ouvir na exigência da responsabilização dos políticos (nacionais ou locais) por decisões cujo grau de controvérsia seja elevado ou cujos resultados se venham a revelar profundamente negativos para o conjunto dos seus eleitores. A existir este tipo de cultura de responsabilização muitos dos políticos que por aí abundam e se apresentam em sucessivos processos eleitorais como se nada de errado alguma vez tivessem praticado e tudo o que eventualmente possa ter resultado de prejudicial tenha sido obra do acaso ou dos seus predecessores ou sucessores, talvez ponderassem melhor as suas decisões ou já não tivessem mais lugar nos respectivos panoramas políticos.
Numa época em que tanto se fala em padrões de excelência e de qualidade (chavão de que os políticos usam e abusam) e se defende a aplicação de critérios de rigor e eficiência é mais que chegado o momento de aplicar esses padrões não apenas aos cidadãos submetidos a cadeias de direcção (tantas e tantas vezes redundantemente ineficientes) mas aos próprios decisores de topo, entre os quais se contam os responsáveis pelos próprios governos.
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