sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

O WINDOWS EM CÓDIGO ABERTO?

Pelo menos era esta a notícia difundida ontem pelo JORNAL DE NOTÍCIAS.

Não se trata, infelizmente, de nenhuma iniciativa benemérita de Bill Gates, o senhor Microsoft, mas sim de uma imposição da regulamentação europeia anti-trust. Esta comissão fixara o prazo à Microsoft, empresa detentora dos direitos do sistema operativo “Windows”, até 15 de Fevereiro próximo para a disponibilização dos códigos e informação indispensável para que outras “software-houses” possam livremente desenvolver programas naquele ambiente, findo o qual lhe seria aplicada uma multa diária de 2 milhões de euros.

Reagindo à notícia a comissária Neelie Kroes, veio lembrar que o código fonte pode não ser o bastante para uma correcta informação, tanto mais que normalmente os programadores disponibilizam informação adicional aos códigos que desenvolvem.

A esta realidade a que aludiu a comissária europeia há que juntar o facto de que o código fonte do “Windows” deverá ser composto por largos milhares de linhas, pelo que os seus potenciais utilizadores terão que despender milhares de horas de trabalho até conseguirem entendê-lo na íntegra e assim habilitarem-se ao desenvolvimento de programas genuinamente compatíveis com aquele sistema operativo.

Para se ter uma ideia da dimensão do “negócio”, recorde-se que 90% dos computadores pessoais em funcionamento utilizam o “Windows” como sistema operativo, facto que tem motivado inúmeras queixas de muitos programadores uma vez que os seus produtos encontram normalmente problemas de compatibilidade com aquele sistema, os quais não podem ser resolvidos de forma expedita por desconhecimento do respectivo código fonte.

Esta situação, originada pela Microsoft com o lançamento do “Windows 1.0” em 1985 (versão que não conheceu grande sucesso), foi-se agravando à medida que o sistema operativo se foi tornando mais popular (em 1992 com a versão 3.1) até culminar com a actual “Windows XP”, sendo o seu sucesso resultado do facto de ter combinado as virtualidades de um sistema operativo (indispensável em qualquer computador para suporte de outros programas e gestão dos periféricos) com as vantagens de um ambiente gráfico.

Esta ideia não foi, como muita gente pensa, desenvolvida apenas pela Microsoft, mas também por outras empresas como a Digital Research e a Apple, sendo mesmo correcto afirmar que o sistema de ícones e janelas, que popularizou o “Windows”, consiste numa cópia descarada do sistema MAC-OS desta última.

Enquanto se mantém a troca de apreciações entre os serviços da comissão europeia e os da Microsoft, no sentido de determinar se esta está ou não a cumprir os princípios mínimos de divulgação técnica do seu produto, recordo que desde o princípio dos anos 90, do século passado, que existe um sistema operativo de utilização livre (desenvolvido inicialmente por Linus Torvalds) que pouco a pouco tem vindo a “roubar” o monopólio da Microsoft, precisamente pela sua característica de programa aberto (qualquer pessoa pode aceder ao código fonte e desenvolver novas rotinas ou programas específicos) baseado no projecto GNU - sistema operacional totalmente livre, que qualquer pessoa tem o direito de usar e distribuir sem ter que pagar licenças de uso – lançado em 1984. Com o passar dos anos o sistema Linux está a granjear um número crescente de utilizadores, seja pela sua flexibilidade, pela sua qualidade e estabilidade (menos sujeito a “crashs” e “bugs” tão frequentes no Windows), pela segurança nas ligações com a Internet, pelo número crescente de aplicações que têm sido desenvolvidas e pelo baixo custo (zero quando descarregado directamente da Net, sem manuais).

Em resumo, seja pela pressão da comissão europeia seja pela dos utilizadores do Linux, a Microsoft parece condenada a ter que “abrir” um jogo que até agora tem mantido fechado para seu exclusivo lucro (e que lucros… Bill Gates é há vários anos considerado o “homem mais rico do mundo” pela revista Fortune).

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