Vários órgãos nacionais de comunicação social, entre os quais o PUBLICO e a TSF, fizeram hoje referência a um relatório do Tribunal de Contas no qual se conclui que as transferências de fundos de pensões ordenadas pelos ministros das finanças dos governos de Durão Barroso e Santana Lopes representarão um encargo para as contas públicas de 198,6 milhões de euros, no corrente ano. O mesmo documento afirma ainda que este valor registará acréscimos anuais até um máximo de 303,1 milhões de euros em 2014.A conclusão do Tribunal de Contas resulta de uma análise que terá efectuado ao património dos fundos transferidos – RDP, INCM, ANA, NAV, CTT e CGD – e ao cálculo das responsabilidades que a CGA (Caixa Geral de Aposentações) terá que assumir para pagamento das respectivas pensões, concluindo que estas responsabilidades se encontram subfinanciadas em 33,5%, no mínimo.
Perante este cenário conclui-se que:
- os gestores das empresas donde foram transferidos os fundos (a excepção do da CGD que o Tribunal de Contas afirma ser único que se encontrava devidamente financiado) não asseguraram a respectiva solvabilidade, fosse por insuficiente dotação financeira ou por inadequada capitalização dos fundos aplicados;
- os ministros (Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix) que ordenaram aquelas transferências, preocupados exclusivamente com o financiamento do déficit anual, descuraram o facto de estarem a contribuir para o agravamento da situação financeira da CGA e, consequentemente, a contribuírem para a degradação a prazo das contas públicas ( a menos que pensassem deixar de pagar as pensões futuras). A actuação daqueles ministros é ainda mais condenável por se terem apresentado como os campeões dos processos de transparência, de rigor e de equilíbrio financeiro e sempre se terem manifestado contrários a encargos que pudessem onerar as “gerações vindouras”;
- o relatório apresentado pelo Tribunal de Contas vem, tardiamente, provar a razão dos trabalhadores da CGD que contestaram a medida de transferência do seu fundo de pensões, chamando a atenção para o agravamento do risco de incumprimento das responsabilidades (pensões) até então garantidas pelo respectivo fundo;
pelo que me parece de exigir a responsabilização política e cível dos gestores das empresas envolvidas e dos ministros, estes porque tomaram uma decisão manifestamente lesiva do erário público e aqueles por não terem assegurado o correcto financiamento dos seus fundos de pensões.
Como hábito neste país, a ex-ministra Manuela Ferreira Leite já veio aos microfones da TSF pôr em dúvida o relatório do Tribunal de Contas e declinar qualquer responsabilidade, reafirmando que não se arrepende de nenhuma medida que tomou enquanto titulou o Ministério das Finanças (esta impressionante certeza de que “nunca me engano”). Também ex-ministro Bagão Félix afirmou àquela estação de rádio que, apesar de consciente dos inconvenientes (coisa pouca, apenas cerca de 2 mil milhões de euros), se refugiou no argumento de que não dispunha de alternativa.
A falta de humildade política e técnica dos governantes que têm enxameado os sucessivos governos do PSD e do PS, de que Manuela Ferreira Leite é apenas mais um exemplo, mais que justifica que à população portuguesa (pagadora dos actuais impostos e dos futuros que serão necessários para a reposição dos valores em falta nas pensões a pagar) e por maioria de razões aos trabalhadores da CGD (duplamente lesados pelo agravamento fiscal e pelo risco de quebra de rendimento após a aposentação) seja devido um esclarecimento que em caso algum pode deixar de passar pela efectiva responsabilização dos gestores das empresas envolvidas e dos ministros que ordenaram aquelas transferências, sob pena de continuarmos a assistir a casos semelhantes onde à irresponsabilidade e incompetência se soma uma impunidade colectiva de que os políticos que temos conhecido se julgam merecedores.
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