sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

PRESIDENCIAIS VI

Ao longo desta semana tenho dedicado todos os dias ao mesmo tema – as eleições presidenciais – como se este acontecimento fosse o “centro do mundo” e nada mais estivesse a acontecer por esse mundo fora.

Felizmente a realidade é bem diferente, tanto que seja qual for o resultado no próximo Domingo nem Portugal nem o Mundo vão passar a ser um melhor lugar para vivermos.

Ao contrário do que têm apregoado os candidatos, com particular destaque nesta matéria para Cavaco Silva, não vai ser com a eleição do Presidente da República que os muitos problemas deste país se vão resolver. Seja porque o presidente não dispõe de poderes executivos (que ao abrigo da nossa constituição estão reservados aos governo), seja porque se os tentar utilizar vai seguramente abrir um confronto com o governo (qualquer que fosse a sua cor política não acredito que quem for governo aceite semelhante intromissão), mais, durante a campanha, pelo menos numa ocasião, Mário Soares teve a lucidez de lembrar que ninguém (nem Cavaco Silva) tem uma varinha mágica para resolver a nossa vida.

Ninguém não! Nós temos! Todos nós temos o poder para participarmos activamente na vida política local e nacional e é dessa participação, desse empenho, da manifestação da nossa vontade e querer que poderemos ajudar a conduzir este país pelo caminho que julguemos mais adequado. Há que não temer manifestar o que pensamos (se alguém demonstrar que estamos errados, nós aprendemos e todos ganharemos uma melhor solução); fazendo-o estaremos a contribuir para a construção do caminho e com o empenho de todos havemos de encontrar (ou construir) um melhor.

Votar, numa eleição para a autarquia, para a assembleia legislativa ou para a presidência da república não é apenas a manifestação de uma vontade ou de uma opção, é também uma forma de estar e de viver em sociedade. A opção inversa (não votar) traduz geralmente uma atitude de laxismo e de desinteresse que poderá traduzir-se na escolha de um candidato ou de uma política que se venham a revelar desastrosas para todos.

Independentemente da maior ou menor motivação pessoal para o exercício do voto (e muito se poderá dizer acerca do acto, do seu conteúdo, do seu significado e do seu aproveitamento) este deve ser sempre encarado como a manifestação de uma vontade pessoal e do empenho no futuro.

Apesar do esforço feito em sentido contrário, chegamos ao final do período oficial de campanha com um quadro de previsões muito interessante. As sondagens da Universidade Católica, da EUROSONDAGENS e da AXIMAGE, parecendo unânimes na vitória à primeira volta de Cavaco Silva acabam, na realidade por revelar resultados diferentes e bem pouco credíveis quanto à exclusão peremptória de uma segunda volta, uma vez que as votações projectadas rondam os 50% depois de descontadas as respectivas margens de erro e anunciam valores de indecisos e de abstencionistas muito elevados.

Há uns anos lançou-se o “slogan” de que não votar era votar no que não se queria, desde então os valores da abstenção têm crescido e não apresentam tendência de inversão. Não acalento grandes esperanças de que no próximo domingo seja diferente, até porque as campanhas dos candidatos também pouco terão tido de muito motivador, nem que este meu apelo tenha maior eficácia que muitos outros, com a pequena diferença (e ao contrário da generalidade dos políticos da nossa praça) que eu não apelo apenas ao exercício do direito de votar, mas à criação de uma consciência colectiva que, pouco a pouco, transforme cada cidadão num elo político de uma cadeia de vontades – A NOSSA VONTADE – que assim se sobreponha ao princípio actualmente em vigor de que existem candidatos iluminados (que por acaso se candidatam a uma função não executiva com um programa de acção executiva e que quando desempenharam funções executivas não conseguiram mais que contribuir para o desperdício de oportunidades de desenvolvimento e crescimento económico) a quem iremos confiar a resolução de todos os nossos problemas.

2 comentários:

Carlos Gil disse...

puxa, seis posts fora os ameaços e o homem não se descose...

A Xarim disse...

É tudo uma questão de princípio. Não é apenas pelo facto do voto ser secreto, é porque entendo que devo contribuir para ajudar os outros a reflectir e não a decidir por eles.
Lembre-se daquele velho ditado chinês: «Se virem alguém com fome ensinem-no a pescar!»