segunda-feira, 21 de novembro de 2005

A POLÍTICA É FANTÁSTICA! MAS NÃO DEVEMOS EXAGERAR...

É o comentário que me sugere o artigo de opinião de César das Neves hoje inserto no Diário de Notícias.

Posso entender que o autor entenda fundamental a futura eleição de Cavaco Silva para o cargo de Presidente da República.

Posso entender que o autor entenda louvar (e louvável) o percurso político do candidato que apoia.

Comungo até da opinião do autor quando acha que foi Cavaco Silva que converteu o país naquilo que ele é.

Mas, aos benefícios imputados à governação de Cavaco Silva (não foi em nenhum dos seus governos que foi criado o Serviço Nacional de Saúde, nem alargado o período de escolaridade obrigatória e muitas das obras realizadas caracterizaram-se pelo faraonísmo do Centro Cultural de Belém e dos projectos da ponte Vasco da Gama e da EXPO98, ou pelo miserabilismo da qualidade como foi o caso do IP5) esqueceu-se o autor de referir alguns (apenas alguns) dos respectivos malefícios.

Entre estes contam-se:

- os acentuados aumentos da função pública (os actuais desequilíbrios do orçamento do Sector Público Administrativo datam desta época);

- a redução dos impostos (com particular relevância para os impostos sobre as empresas e as transacções de capitais) e concessão de avultados benefícios fiscais ao investimento estrangeiro (aproveitador de mão-de-obra barata e raramente estruturante);

- a aplicação de uma política de desnacionalizações (incorrectamente chamada de privatizações, porque o que se fez foi devolver à esfera privada sectores de actividade económica que anteriormente haviam sido nacionalizados) orientada, exclusivamente, para a constituição de grupos económicos;

- a gestão ruinosa dos fundos estruturais que o país recebeu da CEE, canalizados em parte para algumas das obras faraónicas, noutra parte para a realização de acções de formação, que de profissional apenas tiveram o nome, mas muito raramente para a modernização e reestruturação do paupérrimo tecido produtivo nacional, que era o que se impunha;

e se é certo, como diz César das Neves, que devemos a Cavaco Silva a conversão do nosso país naquilo que ele hoje é, tal deve-se apenas ao facto de ter sido durante o período da sua acção enquanto primeiro-ministro que “ascendeu“ à ribalta nacional (seja na esfera política, na social, na económica e até na cultural) a plêiade de arrivistas que hoje vemos campear em tudo o que é posição de destaque.

Como diz, e muito bem, César das Neves «Pode gostar-se ou não da personalidade, apoiar ou não as ideias, aplaudir ou não os resultados. Mas é preciso respeitar a verdade e admitir os factos»: a “italianização” da vida portuguesa não começou com o governo de Guterres mas sim com os de Cavaco Silva.

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