Pela 11ª noite consecutiva e numa mancha que se estende já por todo o país, grupos de jovens (maioritariamente desempregados e de origem magrebina) continuam a espalhar a revolta e a destruição à sua volta.
Na sequência de uma reunião de emergência do executivo francês foram anunciadas medidas de reforço da acção policial; quase simultaneamente o governo alemão anunciara as medidas que iria tomar para combater o desemprego dos jovens a que se seguiram os primeiros incidentes no seu território e numa área da cidade de Bremen que em princípio não apresenta padrões sócio-económicos idênticos aos dos subúrbios parisienses.
Depois de França, começam a registar-se “réplicas” na Alemanha e na Bélgica. As autoridades locais procuram não inserir os incidentes numa estratégia de deliberada expansão, mas são cada vez mais as vozes que por essa Europa fora vão referindo a possibilidade de idênticos desacatos noutros países e apelando à necessidade de novas políticas sociais e económicas. A sequência de acontecimentos começa a movimentar a classe política, mas sobretudo a aumentar a premência de um debate sobre as políticas que poderão ter conduzido a esta situação.
Alguns meios de comunicação, sobretudo anglófonos, salientam a evidência do fracasso do modelo de integração social francês (os ingleses têm aplicado um modelo orientado para a diversidade cultural) e os riscos do prolongamento dos motins.
Do ponto de vista da política interna francesa têm-se multiplicado os apelos à calma e serenidade, mas um número crescente de autarcas das áreas mais atingidas tem chamado a atenção para a redução ou supressão dos sistemas sociais de apoio (parte integrante das políticas económicas restritivas) e para a situação preocupante que constitui a falta de oportunidades (de estudo e trabalho) que afectam aquelas comunidades.
Com o passar dos dias e o agravar dos incidentes começam a reduzir-se as hipóteses de ver encerrar este triste capítulo sem recurso a medidas demasiado “pesadas”, as quais podendo resultar no curto prazo dificilmente constituirão uma solução duradoura e harmoniosa.
No conjunto poderá dizer-se que a situação que se vive em França, sendo previsível, não pode deixar de constituir um sério aviso para os restantes estados europeus (a confirmá-lo temos os recentes acontecimentos na Alemanha e na Bélgica) e um sinal de evidente fracasso das políticas económicas neo-liberais. Mais do que a rejeição dessas políticas (impossível de escamotear perante o prolongamento das desordens e da crescente contestação ao ministro francês do interior, Nicolas Sarkozy), a actuação dos jovens dos bairros suburbanos deverá ser encarada como um evidente sinal do descontentamento popular perante a ineficácia do aparelho de Estado na garantia de condições de vida decentes e perspectivas de futuro às populações (jovens e menos jovens).
Mas verdadeiramente importante será não esquecer o problema após a resolução desta crise, começando desde já a fomentar-se a pesquisa de soluções e a sua implementação no terreno de forma a reduzir os danos já provocados, no caso francês, e a minimizar as hipóteses de idênticos actos noutros países e cidades.
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