A administração americana persiste e na sua política de “dois pesos e duas medidas”.
Enquanto no final da semana passada o Congresso aprovou uma resolução proibindo o tratamento cruel ou degradante de prisioneiros, o presidente George W Bush ameaça vetar o projecto de lei e destacados elementos ligados aos sectores da “inteligência” (espionagem e informações) persistem em declarações escamoteando as evidências sobre o uso de armas químicas e sobre os maus-tratos infligidos a prisioneiros.
Na ausência de conceitos deontológicos (os EUA continuam a não reconhecer o Tribunal Penal Internacional) subsistem as atitudes discricionárias e a aplicação de uma política do tipo “quero, posso e mando” que, contrariamente ao que muitos pretendem, continua a conduzir a política americana para um crescente isolamento.
É certo que “mesmo que seja santa, a guerra é a guerra”. Atrocidades em cenário de guerra sempre se cometeram e, infelizmente, hão-de cometer, mas a realidade regularmente dada a conhecer sobre a actuação americana no Afeganistão e no Iraque, nomeadamente no tratamento dado aos prisioneiros (veja-se Guantánamo e Abu Ghraib), no número demasiado elevado de jornalistas atingidos (alguns em situações muito pouco claras), na recente divulgação do emprego de armas químicas (bombas de fósforo branco) deixa compreender porque é que a administração americana persiste em preservar os seus militares de eventuais acções do TPI.
Esta perigosa dicotomia não é patente apenas neste caso, mas sim observável na generalidade das acções americanas. Assim, fruto das contradições e falta de argumentação justificativa da invasão do Iraque os americanos partiram para a aventura à revelia da ONU, suportados apenas por um número reduzido de países que acreditando nas razões invocadas nunca questionaram o acto, a forma e as consequências que dele iriam advir.
Com o prolongar do conflito, a confirmação da fragilidade (para não dizer da instrumentalização) das provas apresentadas, a constatação da inexistência de um plano minimamente elaborado para o período do pós-invasão e o incremento dos actos terroristas cresce o número daqueles que no território dos EUA, ou fora dele, contestam a manutenção da presença de tropas no Iraque.
A conferência patrocinada pela Liga Árabe saldou-se, como era de prever, por mais um fracasso na tentativa de estabelecimento de pontes de entendimento entre as diferentes facções iraquianas; os participantes mostraram-se de acordo, apenas, com a necessidade de ver as tropas estrangeiras abandonarem o Iraque.
Avolumam-se as críticas e as probabilidades de uma resolução equilibrada deste conflito esfumam-se com o tempo e o crescente número de actos moral e politicamente condenáveis que as tropas no terreno vão praticando.
Após um período em que os alvos preferenciais pareciam ser os jornalistas que cobriam a guerra (confirmados agora pela notícia que esteve previsto o bombardeamento das instalações da cadeia de árabe de televisão Al-Jazeera) confirma-se agora que estão a ser as populações (sunitas, xiitas e curdas) o alvo das diferentes forças no terreno. Não há dia que não surjam notícias de mais mortes entre a população civil, seja em consequência dos atentados terroristas seja fruto do “nervosismo” dos militares ocidentais, agora agravadas pelas recentes descobertas de prática pela polícia iraquiana de sevícias sobre iraquianos detidos.
Como se não bastasse este cenário muito pouco digno que se vive no Iraque, começa também a tornar-se notícia a situação de instabilidade que atravessa o Afeganistão, podendo-se questionar cada vez os efeitos práticos da guerra contra o terror desencadeada pela administração americana.
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