sábado, 26 de novembro de 2005

O EUCALIPTO E O SEMEADOR

Depois de lida a entrevista a Miguel Cadilhe, inserta na última edição da VISÃO e disponível aqui, o que mais me impressionou não foi a sua relativa oposição a Cavaco Silva (o eucalipto que tudo seca à sua volta) mas sim dois pormenores que aqui deixo.

Primeiro, se Miguel Cadilhe advoga, como parece, a aplicação de medidas económicas de natureza contra cíclica como é que ao longo de todos este anos nunca surgiu a dizê-lo e, enquanto ministro das finanças de um dos governos de Cavaco Silva nunca o praticou?

Segundo, se Miguel Cadilhe abandonou um governo de Cavaco Silva em oposição às políticas por este praticadas porque é que só agora surge a dizê-lo com tanta frontalidade?

O país de brandos costumes que a todos tem (de)formado não responde cabalmente a estas questões.

Honestamente, mais que os avisos/informações ao conjunto dos sectores mais conservadores (nomeadamente o do risco de derrota de Cavaco Silva, o da defesa de menos Estado e mais iniciativa privada e o da regionalização) o que me parece de reter desta entrevista é que Marques Mendes, depois de António Borges, tem mais um sério candidato ao seu lugar.

Tudo o indica quando Miguel Cadilhe diz que o partido «…não reencontrou o seu caminho nem a sua liderança desde há dez anos. Isto tem a ver com a própria atitude de Cavaco Silva. Que é como um eucalipto: provoca aridez à sua volta. Depois, repare, Durão Barroso foi o líder que esteve com o poder e, a meio do mandato, faz aquilo que é inqualificável do ponto de vista da democracia e da história: sair para ir para presidente da Comissão. Isto tem os seus efeitos sobre a própria credibilidade da democracia e dos partidos. Como é que é possível um primeiro-ministro, a meio do mandato, virar costas aos seus compromissos eleitorais que são os mais nobres?!», e porque estrutura um outro tipo de discurso em torno dos valores, diverso do de António Borges que parece privilegiar a relação entre os partidos e o poder.

Se Cavaco Silva não ganhar, como espero, Marques Mendes que se cuide porque as “areias” (terrenos particularmente adaptados aos eucaliptos) vão-se começar a mover…

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