quarta-feira, 9 de novembro de 2005

APELO À SOLIDARIEDADE

Num extenso artigo inserto no último número de “O Ribatejo” e disponível na versão “online, José Niza vem a terreiro defender a actuação do governo de José Sócrates, lembrando que não é a primeira vez que governos do PS se confrontam com situações financeiras delicadas herdadas do PSD.

Polémica à parte, o que realmente me parece de reter do artigo que inteligentemente exemplifica com a situação em alguns sectores de actividade (Banca, Seguros, Petrolíferas, Gasolineiras, Medicamentos e Farmácias) a necessidade de «…uma moralização de procedimentos escandalosos…» é o apelo à nossa solidariedade como contributo para a melhoria da nossa própria condição de vida.

Este apelo não me mereceria significativo reparo se o governo que José Niza defende não fosse precisamente aquele mesmo que recentemente lançou uma iniciativa legislativa visando a introdução de alguns conceitos de ética e moralidade na vida política local (limitação do número de mandatos dos presidentes e câmara), mas que alguém da sua “entourage” se esqueceu na gaveta, atrasando a data da respectiva publicação e comprometendo a sua aplicação aos autarcas agora eleitos.

Com razão, ou sem ela, o que qualquer pessoa de imediato pensa é que foi encontrada uma habilidade para adiar por mais quatro anos uma medida de inegável moralização da actuação do conjunto da classe política nacional.

Já agora, uma vez que José Niza me parece sinceramente empenhado em contribuir de forma positiva para a correcção de muitos dos desequilíbrios da nossa sociedade, talvez pudesse ser porta-voz, mais eficaz que eu, junto de José Sócrates para a necessidade deste começar por aplicar algumas medidas de austeridade a si próprio (entenda-se governo e correligionários do PS) e à classe política em geral. Uma vez por outra gostava de ver um político deste país vir anunciar novas medidas de austeridade começando por anunciar, por exemplo que sob o seu governo iriam ser reduzidos o número de deputados; o número de acessores e conselheiros políticos dos ministros; o número de viaturas e a sua utilização indiscriminada pelos mais variados agentes do Estado.

Sem querer ser demasiado exigente, até porque compreendo que estamos em clima de restrições, também seria muito boa ideia se José Sócrates conseguisse fazer um esforço para explicar, de forma clara e eficiente, a necessidade de muitas das medidas em vigor e das que se prepara para implementar, porque saber governar não é apenas aplicar as políticas que se consideram correctas é também saber explicá-las.

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