sexta-feira, 28 de outubro de 2005

OPINIÕES PERIGOSAS

Seguidor atento do que vai passando pelo mundo, e pelo Médio Oriente em particular, li hoje com especial interesse a opinião de Luís Delgado no Diário de Notícias.

No essencial concordo com a indignação do autor quanto às recentes declarações do presidente iraniano sobre a extinção do Estado de Israel. Este é o tipo de declarações que não se podem ter quando o que se pretende é alcançar soluções (negociadas) para os problemas.

Porém do texto de Luís Delgado ressalta precisamente aquilo que mais abomino na mentalidade ocidental (a tal de matriz judaico-cristã) – NÓS OS PROTEGIDOS DO SENHOR (antigamente dizia-se ungidos) TEMOS O DIREITO, E O DEVER, DE FAZER PREVALECER A NOSSA FÉ (os nossos interesses) E DE DESTRUIR OS NOSSOS INIMIGOS.

Esta é precisamente a linha de pensamento, fundamentalista, que após o 11 de Setembro (9/11 como dizem os anglo-saxónicos) ditou as invasões do Afeganistão e do Iraque e que, dando ouvidos (e satisfação) ao colunista, determinará futuras invasões: Irão, Síria e todos os demais estados árabes que não mostrem uma completa complacência perante a política americana (e os interesses sionistas).

É óbvio que Luís Delgado tem razão quando chama a atenção para o perigo potencial que representa o programa nuclear iraniano, mas é inadmissível que silencie o perigo (ainda maior, porque é actual) de Israel possuir armamento nuclear.

Ou será que as armas são qualificadas, de boas ou más, consoante quem detém o seu controle?
É óbvio que Luís Delgado tem razão quando condena a intenção de um estado destruir outro, mas é inadmissível que silencie a realidade que é a existência de um estado (Israel) que aniquila outro (Palestina) pela fome.

Ou será que a destruição só é condenável e lamentável quando atinge os nossos “amigos”?
Sendo Luís Delgado um dos que parece querer transformar o conflito com o terrorismo numa guerra religiosa (cristãos contra muçulmanos) onde está a sua quota parte de tolerância cristã?
Como espera opor-se à intolerância islâmica?

Ou também advoga o primitivo conceito de “olho por olho, dente por dente”?

Sendo assim, a única coisa que parece distingui-lo dos terroristas que tanto abomina é o facto de escrever da esquerda para a direita!

Mas, o mais grave é que raciocínios desta natureza não são apenas expendidos por comentadores políticos, mas também por chefes de governo. Para além de Mahmoud Ahmadinejad (o presidente iraniano) também o chefe do governo israelita - Ariel Sharon - se propõe lançar uma guerra até à neutralização da Jihad Islâmica (terrorismo palestiniano).

Vendo bem, talvez este dois personagens estejam muito bem um para o outro (tanto que os seus percursos políticos são idênticos – ambos foram membros de forças paramilitares que recorreram a práticas terroristas (os Guardas Islâmicos no caso de Ahmadinejad e a Haganah no caso de Sharon), ambos preconizam o uso da força como primeira forma de resolução de conflitos), lamentando-se apenas que as respectivas insanidades venham a fazer recuar quaisquer perspectivas de paz para um tempo demasiado longínquo, sacrificando a vida e o bem estar de milhões, para servirem os interesses de quem continua a lucrar com este estado de coisas.

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