segunda-feira, 10 de outubro de 2005

BALANÇO AUTÁRQUICO LOCAL


A nota de maior destaque nos 21 concelhos que constituem o distrito de Santarém continua a ser o elevado nível de abstenção registado, da ordem dos 40%.

Olhando para os resultados das eleições de ontem constata-se que dos 388.249 eleitores inscritos no distrito de Santarém apenas 239.019 deles se deslocaram às diversas assembleias de voto a fim de participar na escolha de quem iria gerir a localidade onde vivem. Tenho dificuldade em entender como é que um tão grande número eleitores se mostram indiferentes a quem vai decidir sobre planos urbanísticos, redes viárias, sistemas de recolha de lixo, de abastecimento de água, de saneamento básico, etc. etc.. Numa palavra, sobre a qualidade de vida que todos iremos ter nos próximos quatro anos.

Prosaicamente registe-se a repetição da vitória de Sousa Gomes (PS), com nova maioria absoluta, em Almeirim. Nos concelhos à nossa volta todos os vencedores lograram alcançar maiorias (PS em Alpiarça, no Cartaxo e em Coruche, CDU na Chamusca e o BE em Salvaterra de Magos) com excepção de Santarém, onde o PSD cantou vitória (vamos ver se não se trata de um presente envenenado uma vez que PSD e PS têm o mesmo número de eleitos e ainda se adiciona a incógnita da qualidade do trabalho que Moita Flores estará disponível para executar).

Mas mais importante que a avaliação das equipas eleitas, fica a constatação que os partidos políticos continuam a não conseguir revelar-se suficientemente atractivos para mobilizarem parte significativa dos eleitores.

Momentos há em que me chego a interrogar se eles fazem um real esforço para contrariar a tendência abstencionista que se vem instalando nos eleitores.

É certo que muitos dos abstencionistas o terão feito de forma convicta, por entenderem que nenhuma das listas candidata (isto é, nenhum dos partidos que apresentou candidatos) reuniria as condições que entendiam necessárias, ou porque, mais prosaicamente, nenhum deles se apresentou falando sobre os problemas locais de forma convincente. Mas também terá havido um número igual ou maior que simplesmente entende não se justificar o esforço de eleger alguém que depois pouco ou nada vai fazer de positivo.

Para mim mantenho que o problema do persistente alheamento dos eleitores, devendo-se a múltiplas causas, deverá ser combatido com múltiplas iniciativas, as quais deverão passar por incentivar, para as eleições autárquicas, a constituição de listas de cidadãos locais em detrimento das listas partidárias contribuindo assim para um maior debate dos respectivos problemas e por esta via para estimular a participação dos eleitores.

Sendo seguro que este tipo de actuação (de matriz local) forçaria os candidatos partidários a melhor prepararem as suas candidaturas em vez do mais fácil apelo ao voto “clubista”, existe a forte probabilidade de assistirmos a uma total inversão do “status quo” partidário instalado.

A título de mero exemplo vejamos o que sucederia aos resultados ontem registados em Almeirim na eleição para a Câmara Municipal: como já referi o PS venceu, com 5.313 votos (55,17%), mas caso existisse uma lista local que colhesse apenas 60% dos votos dos abstencionistas, esta passaria a liderar com 40,63%, aquele partido desceria para 37,49% com um nível de abstenção de 25%.

Por mais aberrante que seja a hipótese, NÃO SERÁ DISTO QUE OS PARTIDOS POLÍTICOS TÊM EFECTIVO RECEIO? Se não é porque persistem em arquitectar campanhas autárquicas como a que acabámos de assistir?

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