Para além das muitas razões já existentes para fundamentar o eclodir de uma guerra civil no Iraque – rivalidades étnicas, religiosas, políticas e económicas – vem agora juntar-se mais uma.
O julgamento de Saddam Hussein, eivado de todos aqueles problemas, agravado pela presença e influência norte-americana, poderá constituir apenas o factor de inflamação que faltava e as até agora pacíficas manifestações a favor e contra a condenação podem, a qualquer momento degenerar em algo muito pior.
A aparente calma que se registou durante a primeira sessão do tribunal, foi rapidamente abalada por um dos advogados de defesa que não se coibiu de publicamente por em dúvida a credibilidade e isenção do julgamento.
O assassinato de Sadoun Nasouaf al-Janabi, um dos advogados de defesa envolvidos no julgamento, cujo corpo foi hoje encontrado é um sinal de leitura particularmente difícil, uma vez que o acto pode ser atribuído a qualquer das partes, mas constitui um seguro sinal da instabilidade e da relevância do julgamento.
Esta iniciativa, louvável à luz dos princípios ocidentais mas de oportunidade profundamente duvidosa (mesmo à luz desses mesmos princípios), nunca deveria ser desencadeada numa fase ainda muito rudimentar de normalização do território e ainda menos durante o período de ocupação militar norte-americana.
Aos muitos erros cometidos pela administração Bush, começando pelo deflagrar de uma invasão justificada na existência de armamento que nem após a ocupação foi encontrado, junta-se agora mais um pretexto para cimentar a união dos muçulmanos (sunitas e xiitas) contra a sua presença e a sua política.
Na ausência de efectivas medidas que demonstrem aos muçulmanos a inexistência de dualidade de critérios na gestão do médio-oriente em geral e do conflito israelo-árabe em particular, é de recear que a situação na região continue a agravar-se diariamente e que as notícias de regulares baixas entre as tropas ocupantes (os EUA já terão perdido perto de 2000 homens desde o início da invasão) não consigam mais ser mitigadas pelos pretensos sucessos das operações de “limpeza” realizadas.
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