domingo, 2 de outubro de 2005

O MITO SEBASTIÂNICO OU ALMA LUSA

Quase todos os dias surgem notícias, comentários ou artigos de opinião nos meios de comunicação nacional a propósito das eleições presidenciais e de Cavaco Silva.

Continuando a julgar a questão prematura e extemporânea (como ele próprio não se cansa de nos lembrar, compondo um ar quase beatífico) num momento da vida política nacional em que nos preparamos para eleger os poderes políticos que regularão algo tão importante como a nossa qualidade de vida (o urbanismo, os níveis mais elementares do ensino básico, o saneamento, as ligações rodoviárias próximas, etc. etc.), acto que deveria merecer a nossa melhor atenção e fomentar o debate de conceitos de vida, em vez das repisadas questões de política nacional (normalmente boa parte dos candidatos não sabe falar de mais nada).

Mesmo julgando que ainda há muito tempo para debater quem se candidata, porquê e para quê, confesso que começo a estar cansado de tanto ouvir falar sobre o tal candidato anunciado, de ouvir criticar ou louvar o seu silêncio, uma vez que não há dia em que o próprio (ou outro por ele) não surja a pronunciar-se sobre a dilacerante questão: SERÁ CAVACO SILVA CANDIDATO? ou mais simplesmente a ver estabelecidas comparações entre os candidatos assumidos e o candidato anunciado.

Eu sei que no nosso país há muitos séculos se cultiva o mito DAQUELE QUE HÁ-DE REGRESSAR PARA NOS SALVAR.

Recordando que os adeptos de uma confissão religiosa chamam-no de MESSIAS (nós, mais prosaicamente, chamamos-lhe apenas SEBASTIÃO), que por ele aguardam há milhares de anos (nós há apenas pouco mais de 400 anos), que nem por isso têm deixado de fazer pela vida, tendo no entretanto e com o beneplácito de muitos não-crentes construído um país (nós apenas nos temos esforçado para que este não funcione).

A propósito, convirá também recordar o triste destino que tiveram os primeiros que tentaram personificar o tal mito, não que deseje que algo de igual atinja o tal candidato anunciado, mas sempre lembro que aqueles que muito anseiam não costumam poupar os que os desiludem, e receio bem que, confirmando-se o aparecimento do tal candidato anunciado e a sua muito natural aclamação popular, este volte a repetir a forma pouco airosa (para não lhe chamar outra coisa) como saiu de cena quando, em 1995, a “vida” lhe começou a correr mal…

Sem comentários: