Não porque entenda que este tem andado minimamente bem, mas porque creio que muitos eleitores terão optado pela lógica adequada ao acto: a escolha do candidato que entendiam melhor adaptado à função da gestão autárquica.
Esta lógica terá porém que ser entendida com algum cuidado, para que ninguém retire a conclusão que candidatos como VALENTIM LOUREIRO, ISALTINO MORAIS e FÁTIMA FELGUEIRAS foram escolhidos por o eleitorado dos concelhos a que se candidataram os julgar magnificamente talhados para a função. Não nego que alguns tenham votado convictamente neles (seguramente os que esperam recolher dividendos pessoais da opção), mas creio que a maior parte foi simplesmente condicionada para o fazer.
Veja-se o “timing” perfeito que rodeou a encenação do regresso de FÁTIMA FELGUEIRAS; até a juíza foi particularmente “atenciosa”, libertando a “pobre senhora” a tempo de efectuar a saída do tribunal à hora dos telejornais nacionais – que maravilhoso sentido do dramático tem a nossa justiça.
No seu global todos os «candidatos-bandidos» mostraram um perfeito sentido da utilização da televisão (ou não fosse este o grande meio de difusão de mensagens publicitárias), tendo utilizado em seu benefício a atenção excessiva que lhes foi dedicada, até porque é sempre fácil repetir até à exaustão declarações de inocência perante “pacíficos” repórteres e operadores de câmara (a propósito, recordam-se da polémica que se viveu neste país a propósito da aplicação, ou da sua ausência, do princípio do contraditório aos programas televisivos de Marcelo Rebelo de Sousa e de António Vitorino) que em momento algum os confrontaram de forma directa com os crimes cometidos, ou mais simplesmente, os invectivaram pela ausência de outro tema que não a sua famigerada inocência.
Pelo contrário pouca, muito pouca, atenção foi dedicada pelas direcções dos grandes partidos a este fenómeno.
Em jeito balanço (é esse o mote) restarão para a história três factos:
- a percentagem de abstenção continua elevadíssima, com percentagens da ordem dos 40%;
- a eleição dos «candidatos-bandidos» nos círculos em que se recandidataram (só AVELINO FERREIRA TORRES falhou ao trocar Marco de Canavezes por Amarante);
- voltámos a assistir a uma campanha autárquica onde se discutiram (mal) alguns problemas nacionais e poucos ou nenhuns dos (muitos) problemas que afectam as comunidades locais;
a reacção do primeiro-ministro que não encontra na “derrota” do seu partido motivos para abandonar o governo, alegando (e bem) que a acção será julgada no seu tempo, nas próximas eleições legislativas e uma conclusão:
na clamorosa falta de sentido ético de bom número dos nossos políticos, há que introduzir alterações à legislação em vigor que minimize a hipótese de se voltar a repetir o fenómeno (quero continuar a crer que se tratou de um caso sem exemplo) de permitirmos a candidatura de indivíduos indiciados, arguidos e condenados por crimes de relacionados com o exercício de cargos públicos.
Felizmente já se começam a fazer ouvir algumas opiniões nesse sentido. João Cravinho defende isso mesmo num artigo no Diário de Notícias de hoje onde preconiza que a abordagem do problema não se quede pelas autarquias e se estenda a todos os níveis da vida pública nacional, embora me pareça que a hipótese de melhorar a situação mediante a introdução de maior celeridade processual neste tipo de processos judiciais peca por manifestamente optimista.
Por último uma referência para o primeiro-ministro José Sócrates que escolheu a opção correcta (distinguindo eleições autárquicas de eleições legislativas, mesmo sabendo que se fez sentir o efeito de desagrado pela sua política e em particular das medidas de austeridade que conforme o habitual continuam a recair sobre os sectores mais afectados pelo clima económico, das decisões contraditórias, como o lançamento de grandes investimentos simultâneos com a já referida política de austeridade, e ainda as relativas ao excessivo número de nomeações politicamente contestáveis), apenas lamento que fruto da promiscuidade existente na política nacional o primeiro-ministro também tenha participado na campanha autárquica (diz que na qualidade de secretário geral do PS), quando, para fazer valer o princípio que defende dela se deveria ter abstido.
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