Avolumam-se artigos de imprensa e opiniões sobre o funcionamento deste governo e de anteriores. Alinham-se os intervenientes, afinam-se os argumentos, procuram-se aliados, enfim parece tudo pronto para o início de mais uma batalha (afinal a sempre propalada “rentré” política está para breve) em torno da qualidade deste governo “versus” a do anterior.
Não gostaria de alinhar por nenhum dos campos (nem de fazer o papel de Salomão), parece-me é que argumentos pró e contra podem sempre ser avançados sem que ninguém lucre, efectivamente, com eles.
Dizer deste governo que ultrapassou a barreira do aceitável no processo de satisfação da sua clientela, não constitui, infelizmente, nada que não se tivesse já dito de anteriores; dizer que a opção do aumento do IVA para equilíbrio do deficit é no mínimo muito discutível (quer pelos efeito em cadeia sobre a retracção do mercado interno, o investimento privado, o crescimento do mercado paralelo, em último caso pela queda do PIB e da matéria colectável, logo, das receitas esperadas) não é nada que não tenha sido ouvido em anteriores aumentos; dizer que projectos como a OTA e o TGV são meramente despesistas e não constituem mais que obras de regime, também não é novidade. Que dizer então de outras realizadas já na vigência da 3ª República?
Recordando só os últimos 20 anos constata-se que nenhum governo passa incólume na avaliação; foram os de Cavaco Silva com a febre da asfaltagem portageira e da magnificência do Centro Cultural de Belém, foram os governos de António Guterres com a EXPO 98 e a Ponte Vasco da Gama (ambas iniciadas nos tempos de Cavaco Silva) e a realização do EURO 2004, que se concluiria já com Durão Barroso. Todos, de uma forma ou outra, foram coniventes na sua realização quando não no seu lançamento.
Esta constatação leva-me a colocar uma simples questão: Quem, sinceramente, esperava algo de novo?
Não se verificando em qualquer dos dois principais partidos o mais pequeno indício de crítica a todo aquele arrazoado de “obras” (antes pelo contrário, cada um deles tenta fazer-se ouvir apenas nas críticas às do outro, como se em momento algum tivessem tido a mínima das responsabilidades perante o conjunto, e qual paladino impoluto as suas fossem ”obras santas”) nem às respectivas práticas políticas, que podíamos nós esperar se não mais do mesmo (onde é que eu já ouvi isto?).
Creio que o verdadeiro grande problema reside na incapacidade das estruturas partidárias nacionais, 30 anos após a queda do Estado Novo, terem concretizado um processo de efectivo rejuvenescimento dos seus programas, ideais e mentalidades. Não basta fazer eleger jovens deputados ou jovens autarcas, é preciso que estes tenham capacidade para pensar por si próprios e não funcionem como meras correias de transmissão da vontade das cúpulas partidárias.
É curioso que ao escrever isto veio-me à memória uma das grandes críticas que pós 25 de Abril se fazia ao PC, por manter em funcionamento a sua estrutura de “controleiros”. Não será que PS e PSD reciclaram e refinaram esses mesmos princípios, garantindo agora a existência de grupos de seguidores cordatos? Sendo óbvio que já nos tempos das velhas monarquias havia que pagar os gastos das cortes, porque estranhamos agora as benesses distribuídas aos novos “cortesãos”?
Não será esta, entre muitas outras, uma das razões que também está a contribuir para o crescente afastamento entre os jovens e a vida política?
Ou será que a resposta é ainda mais maquiavélica e esta é uma prática estrategicamente concertada para, por esta via, as estruturas partidárias garantirem a sua própria sobrevivência (criando cortes carreiristas e dependentes) e simultaneamente, ao contribuírem para o desinteresse das populações garantirem a sua perpetuação no poder?
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