Num artigo, publicado no Diário de Notícias, intitulado O Estado e a Rede, o Prof. Adriano Moreira reflecte sobre o extremismo islâmico, o modelo organizacional das “redes”, a capacidade de resposta dos estados modernos e aquela que parece ser a mais recente linha de actuação (publicamente revelada pelo primeiro ministro britânico, Tony Blair, logo após os atentados de 7 de Julho em Londres): o estabelecimento de pontes (linhas de contacto) entre os estados ocidentais e o islão (leia-se líderes islâmicos moderados).
Esta crescentemente sentida necessidade de diálogo lembra-me antigas tentativas de síncrese religiosa de que a ordem religiosa-militar do Templo foi estandarte maior. Fracassada essa, outras tentativas surgiram, personificadas por múltiplos movimentos, quer na natureza religiosa quer filosófica, mas geralmente marcados por características iniciáticas ou secretas (1).
Esta nova tentativa, apresentada de forma tão aberta, não invalidará outras movimentações bem menos visíveis (a diplomacia internacional transborda de movimentos desta natureza) ficando reservada à opinião pública as notícias sobre questões acessórias como as futuras movimentações de tropas ou a oscilação do preço do petróleo.
A propósito já alguém se interrogou sobre as razões que originaram a invasão do Iraque? Alguém de boa fé acredita que a preocupação da coligação (EUA e RU) era o perigo de virem a ser utilizadas armas de destruição massiva (quem ninguém encontrou) pelo regime de Saddam Hussein?
Tudo não terá passado de uma conjugação de interesses – eliminação de um potencial desequilibrador na geo-política regional, que simultaneamente representava algum perigo para Israel, apoio a um estado (Arábia Saudita) crescentemente sujeito a pressões (internas e regionais) face à sua política demasiadamente pró-norte americana e controle do petróleo iraquiano – cuja passagem à prática não foi suficientemente avaliada (veja-se os crescentes problemas que a administração americana está a encontrar para explicar a situação no território) e cujos principais resultados são: aumento das tensões que estão a conduzir ao crescimento dos actos de terrorismo (tornando cada vez mais fácil a sua justificação a uma comunidade fanatizada mas também profundamente marginalizada) e o aumento do custo do petróleo, dificultando por esta via o rápido crescimento industrial do continente asiático, a recuperação das economias europeias e tornando cada vez próxima a rentabilização da extracção de petróleo do Alasca (talvez a real grande reserva petrolífera norte-americana).
Por tudo isto iniciativas de aproximação aos grupos islâmicos moderados (localizados no médio oriente ou em qualquer outra parte do globo) pode ser uma boa via para o “arrefecimento” de um conflito que provavelmente (como acontece com a generalidade deles) apenas existe na cabeça de certos grupos ou apenas representa inconfessáveis interesses de outros. Mas para que esta iniciativa possa conhecer um mínimo de sucesso parece-me igualmente indispensável que parte das nações ocidentais abandonem a política dualista (os “bons” contra os “maus”, sendo eles, obviamente, os “bons”) que vêem seguindo e a cujos frutos estamos agora a assistir.
O recrudescimento do terrorismo é, em boa parte, a resposta à política intervencionista da coligação (EUA e RU) que enquanto se mantiver pouco espaço deixará a outras iniciativas; neste cenário pouco optimista torna-se ainda mais estranha a posição do governo de Tony Blair (manutenção da aliança com os “falcões” americanos e aceno ao diálogo com os moderados islâmicos) que podendo não traduzir mais que uma grande confusão para os lados de Downing Street, pode igualmente traduzir o efeito que estará a ter na sociedade inglesa os recentes atentados em Londres.
(1) – Intencionalmente não referi as chamadas iniciativas ecuménicas da Igreja Católica por considerar condenadas ao fracasso (quiçá iniciativas de mero efeito propagandístico) aquelas onde dominem estruturas de ordem dogmática.
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