terça-feira, 2 de agosto de 2005

FIM DA “GUERRA” NA IRLANDA?

O “Le Monde” anunciava na sua edição de ontem a intenção do governo britânico “normalizar” a situação na Irlanda do Norte. Passe o eufemismo, cabeçalhos de notícias como este não deveriam ter lugar nos nossos meios de comunicação, mas poderão ilustrar o que parece estar a acontecer com o crescente clima de “normalização” das relações entre o IRA e o governo britânico.

Independentemente do cada que cada um de nós possa pensar relativamente ao conflito que há séculos (o desembarque da primeira vaga organizada de colonos ingleses protestantes data de meados do século XVII, durante o consulado de Oliver Cromwell) vem dilacerando aquele território - a simples referência à oposição entre católicos e protestantes parece-me redutora e pouco esclarecedora do real fenómeno que ali ocorre(u) - tudo o que de positivo possa ser feito para acabar com um conflito que dividiu gerações e gerações de irlandeses e ingleses, deverá ser recebido com o aplauso de todos os que entendam a coexistência política e cultural como a base de todo o desenvolvimento.

Mesmo correndo algum risco de deixar mal resolvidas as contradições entre os participantes nesta contenda, tudo o que o governo britânico possa fazer (revisão do programa de normalização das medidas de segurança, a reforma da legislação antiterrorista vigente que permita o regresso dos muitos paramilitares refugiados, a redução de contingentes militares, a contenção das atitudes mais radicais do sector unionista do reverendo Ian Paisley) será um importante contributo para a normalização da vida dos cidadãos irlandeses.

As notícias da progressiva redução e visibilidade do contigente britânico no território irlandês devem ser encaradas de forma muito prudente quando, Peter Hain, o ministro britânico para o Ulster é o primeiro a declarar que não espera que o Partido Democrático Unionista (liderado pelo reverendo Ian Paisley) venha a considerar a hipótese de reatar as negociações com o Sinn Fein (braço político do IRA e liderado por Gerry Adams) até à confirmação de provas sólidas da desactivação do seu braço armado.

Perante esta evidente posição de apoio às teses protestantes radicais dificilmente a Comissão Internacional Independente de Desarme (entidade que procura garantir no terreno a existência de condições para a concretização das negociações) será ouvida e acatada por aquele grupo.

Mantendo-se o clima de desconfiança fácil será a qualquer das alas radicais (católica ou protestante) reacender o conflito num momento em que isso sirva melhor os seus interesses... ou os de terceiros.

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