Mais um atentado suicida em Israel - perpetrado por um jovem de 16 anos - justifica toda a atenção que possa ser dada à questão palestiniana.
As partes em conflito (judeus e palestinianos) têm-se envolvido desde meados do século passado em confrontos que a comunidade internacional nunca logrou mediar de forma eficiente. Sendo certo que esta não é uma situação inédita, a verdade é que o conflito não tem uma génese natural, os seus intervenientes não se encontram em posição minimamente equitativa, nem a comunidade internacional tem revelado uma actuação que conduza a uma solução aceite pelas partes.
As raízes do conflito remontam a 1947, data em que a ONU aprovou uma resolução criando um estado judeu num território sob administração inglesa, e às acções terroristas perpetradas por organizações judaicas como a “Haganah” para a obtenção da independência. Em 1949, um ano após a independência, eclode o primeiro conflito israelo-árabe com o qual começa o processo de ocupação de territórios. Seguir-se-á em 1956 a Guerra do Suez e em 1967 a Guerra dos Seis Dias, que Israel aproveita para ocupar os Montes Golã (à Síria), a parte oriental de Jerusalém, a Cisjordânia, a Faixa de Gaza (aos palestinianos) e a península do Sinai (ao Egipto). Com a ocupação de todos estes territórios a sua área cresceu quatro vezes em relação ao território que detinha em 1949.
A estas seguiram-se a Guerra do Yom Kippur, em 1973, e a Guerra do Líbano, em 1982, ano em que Israel completou a sua retirada da península do Sinai, ocupada desde 1967. Aproveitando estes conflitos com as vizinhas nações árabes, Israel foi ocupando a totalidade dos territórios que a ONU destinara ao povo originário da região: os palestinianos. Estas violações determinaram que até esta data o Conselho de Segurança da ONU já tenha emitido 57 resoluções proibindo toda e qualquer ocupação feita por Israel desde a sua criação em 1947, as quais porém nunca foram cumpridas, graças à sempre pronta intervenção dos EUA que bloquearam qualquer hipótese para que o estado judaico fosse punido internacionalmente, como o foi o Iraque quando em 1991 invadiu o seu vizinho Kuwait.
A política expansionista do estado judaico determinou o êxodo de milhares de palestinianos para os países vizinhos e a formação de diversos movimentos de resistência armada que em 1969 acordam concertar esforços para a libertação dos territórios ocupados, nascendo assim a OLP (Organização de Libertação da Palestina) que foi chefiada por Yasser Arafat até à sua morte em 2004. Actuando inicialmente como movimento guerrilheiro foi responsável por inúmeras acções contra alvos judaicos; porém a acção que maior sucesso alcançou foi a Intifada iniciada em 1987 (que muitos atribuem a um movimento espontâneo e que consistiu na expressão da revolta palestiniana por meio do lançamento de pedras sobre as tropas ocupantes e numa rígida aplicação de boicotes a produtos israelitas), que em 1988 conheceria a aceitação de o Plano de Partilha da ONU que viria a permitir, em 1993, com o Acordo de Paz de Oslo, a constituição da Autoridade Palestiniana e a definição de territórios (Faixa de Gaza e Cisjordânia) sob a sua administração. Esta etapa marcou uma certa alteração na forma como a comunidade internacional encarava o problema palestiniano, mesmo não tendo respondido na íntegra às suas pretensões, saldou-se com um número de baixas estimado de 1.160 palestinianos e 160 judeus, números que diz bem da desproporção dos meios e da vontade colocada no confronto.
Com o assassinato em finais de 1995 do primeiro-ministro israelita Yitzhak Rabin (uma das figuras do Acordo de Oslo), a chegada ao poder das facções judaicas mais conservadores, em 2000 e em resposta a uma deslocação provocatória de Ariel Sharon (então líder do partido conservador judaico, Likud) à esplanada da Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém Ocidental, inicia-se a segunda Intifada, também conhecida por Intifada de Al-Aqsa. Eleito em 2001 para o cargo de primeiro-ministro de Israel, Sharon pretextando necessidades de segurança contra atentados palestinianos volta a ocupar territórios Palestinos e inicia a construção do Muro da Cisjordânia. Após a morte de Yasser Arafat, em 2004, e sob pressão americana (os EUA estavam particularmente empenhados em melhorar o seu relacionamento com os países árabes após as invasões do Afeganistão e do Iraque), Sharon inicia em 2005 a retirada de colonatos da Faixa de Gaza e Cisjordânia (sobre esta matéria existem algumas incertezas uma vez que sectores palestinianos alegam que o que se verificou foi uma concentração de colonos em zonas de maior segurança). No início de 2006 Sharon sofre um acidente vascular que o incapacita definitivamente e o Hamas, movimento rival da Fatah (principal força que integra a OLP), de orientação mais fundamentalista, vence as eleições legislativas realizadas nos territórios ainda ocupados.
Actualmente assiste-se a um braço de força entre Israel (conjuntamente com os seus aliados EUA e EU), e o Hamas para que este movimento renuncie à luta armada e reconheça o estado de Israel. Os EUA e restante países ocidentais decidiram suspender a ajuda financeira à Autoridade Palestiniana, atitude que além de deteriorar a qualidade de vida dos palestinianos está a contribuir para reforçar a posição política do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, que é membro da Fatah.
É neste cenário de crescente incerteza e de rápida deterioração das já muito precárias condições de vida de uma população forçada a viver num território paupérrimo de recursos naturais, enclausurada por um muro de betão armado que a converte em virtual prisioneira na sua própria casa, na ausência de vislumbre de solução (ou mesmo de tratamento equitativo) que ocorreu ontem o atentado em Telavive.
Num cenário de conflito como o que ocorre entre judeus e palestinianos, onde os primeiros desenvolvem uma guerra de ocupação e repressão, suportada por uma moderna e bem equipada máquina de guerra que inclui armamento nuclear, e os segundos uma guerra de libertação, recorrendo aos meios de que dispõem, mais dramático do que o inevitável número de mortos e de feridos é o facto deste conflito continuar a arrastar-se, sem vislumbre de solução e sem que a comunidade internacional logre vencer as peias em que tem sido manietada por uma bem montada campanha de propaganda pró-judaica que, meio século volvido sobre a última grande perseguição de que foram alvo, ainda persiste em agitar os fantasmas do anti-semitismo perante toda e qualquer manifestação de crítica ou hipótese de sanção.
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