quarta-feira, 19 de abril de 2006

O QUE TERÃO EM COMUM A FRANÇA E O NEPAL?

Quando as teses relativas à globalização parecem começar a criar raízes, mesmo nos locais “a priori” menos prováveis, eis que novas áreas da actividade humana começam a aproveitar os conceitos subjacentes àquela.

Para quem duvide, veja o que se passa no Nepal, onde a população, importando o modelo francês de sublevação contra o CPE, iniciou há cerca de duas semanas uma greve geral e continua a realizar diariamente manifestações a favor da instauração de um regime democrático. O Nepal, monarquia sobejamente conhecida pela curta duração dos seus governos (o mais prolongado durou dois anos), vive desde Fevereiro de 2005 sob o estado de emergência, declarado pelo monarca na sequência da destituição do governo liderado por Sher Bahadur Deuba, acusado de inoperância com a guerrilha maoísta, viria ser colocado em prisão domiciliária, julgado e condenado por corrupção em Agosto e libertado em Fevereiro deste ano.

Tal como em França, o governo do rei Gyanendra, alvo principal de todas as críticas, tem respondido com acções policiais contra os manifestantes, feito uso do recolher obrigatório e procedido a algumas detenções. Nada que na prática esteja a fazer baixar o entusiasmo e o empenho das populações que parecem ter aprendido uma importante lição com os recentes acontecimentos naquele país.

A própria comunidade internacional já deu início a procedimentos de natureza diplomática com vista à resolução desta crise; os omnipresentes EUA já terão feito sentir ao regime nepalês a necessidade proceder a algumas mudanças e a vizinha Índia já enviou um emissário para contactos com o governo, o qual também deverá defender a urgência na introdução de mudanças. ONG’s como a Amnesty International, a Human Rights Watch e a Commission Internationale des Juristes, têm vindo a denunciar a violência e as detenções arbitrárias (fala-se em milhares de opositores detidos) e a defender a aplicação de sanções internacionais.

Entretanto a população continua a sair à rua exigindo eleições para uma assembleia constituinte, em consonância com a posição de sete dos partidos nepaleses que recusaram uma recente proposta do monarca para a realização de eleições, defendendo a necessidade de uma nova constituição.

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