Ao ler hoje uma notícia no DIÁRIO DE NOTÍCIAS sobre a dissolução do executivo da autarquia espanhola de Marbella, em consequência de um escândalo de corrupção de cuja investigação já resultou a detenção de duas dúzias de pessoas entre as quais a presidente da câmara, a totalidade da vereação e outros quadros da autarquia, ocorreram-me algumas comparações.
Como é fácil de prever, o esquema de corrupção funcionava em torno do licenciamento da urbanização e construção, que naquela localidade balnear espanhola registou nos últimos anos um crescimento exponencial. Tanto quanto os investigadores já conseguiram apurar o esquema remonta aos tempos em que Gil y Gil (ex-presidente do clube de futebol Atlético de Madrid) foi eleito para um primeiro mandato à frente da autarquia, no ano de 1991. Como nos últimos 15 anos a equipa autárquica tem conhecido mais ou menos a mesma composição o esquema tem perdurado, garantindo substanciais ganhos a corruptos e corruptores, de tal forma que no culminar das investigações foram efectuadas 17 buscas, apreendidos 3,5 milhões de euros em dinheiro, 14 carros de luxo, cerca de 300 obras de arte, mais de uma centena de cavalos avaliados em mais de três milhões de euros, e foram congeladas mil contas bancárias.
Segundo fontes ligadas à investigação o cérebro da rede de corrupção será Juan Roca, empresário que Gil y Gil levou para Marbella, que actualmente desempenhava as funções de assessor urbanístico, mas era tido como o homem que efectivamente mandava na autarquia.
Lá como cá existem zonas com idênticas características – zonas turísticas com elevada especulação imobiliária e executivos autárquicos que há dezenas de anos se perpetuam de mandato em mandato – e são bem conhecidos os tortuosos circuitos burocráticos que proporcionam as indispensáveis adaptações aos PPM´s e as licenças camarárias indispensáveis para a construção.
Lá como cá a tentação é demasiadamente grande para que acontecimentos desta natureza constituam espanto ou casos isoladíssimos que tenham resultado de mentes particularmente vocacionadas para práticas criminosas.
Lá como cá se verificam demasiadas coincidências em situações de corrupção, tráfico de influências e abuso de poder que envolvem os meios autárquicos e futebolísticos.
Diz a sabedoria popular que «a ocasião faz o ladrão»...
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