Da leitura de alguns dos “posts” anteriores, muitos poderão ter-se interrogado sobre a lógica (e a real existência) de uma corrente de pensamento que defende (e pratica) o princípio da criação dos factos políticos de forma a originar (e justificar) as acções militares. Esta tem sido a prática do círculo interno dos conselheiros da administração Bush, a qual consiste na utilização de uma técnica comum no campo publicitário – induzir a necessidade para alcançar a venda do produto.
Este tipo de actuação, eticamente condenável e de duvidosos resultados para o conjunto da sociedade, tem-se vindo a estender do âmbito publicitário para o campo político (com os resultados que vemos noticiados no dia-a-dia) e foi recentemente denunciado como prática corrente também no campo da saúde.
Na passada semana, marquei para leitura e posterior pesquisa um artigo no DIÁRIO DE NOTÍCIAS que referia o teor de um estudo divulgado durante uma conferência médica que decorria na Austrália. Entre os oradores participantes encontravam-se David Henry e Ray Moynihan, autores de um estudo que denuncia a existência de uma teia de influências entre a indústria farmacêutica e grupos de publicidade, visando a produção de campanhas orientadas para a criação de necessidades para depois aquela indústria apresentar a solução milagrosa.
Os autores (o médico David Henry – professor na Universidade de Newcastle, na Nova Gales do Sul - e o jornalista Ray Moynihan – especializado em assuntos médicos) defendem a tese de que cada vez mais o mercado da saúde se encontra subordinado à lógica do crescimento das vendas (e dos lucros) da indústria farmacêutica, que para o conseguir recorre muitas vezes à técnica da indução da doença na opinião pública.
Para fundamentarem a sua tese citaram:
- o facto das campanhas de sensibilização sobre as doenças financiadas pela indústria farmacêutica serem regularmente mais orientadas para a venda de medicamentos que para o esclarecimento, informação ou educação sobre a sua prevenção;
- o crescente número de “doenças dos tempos modernos” de difícil comprovação (com particular destaque para as disfunções de carácter sexual), mas para as quais os laboratórios já estão a desenvolver medicamentos “adequados”;
e referiram o acréscimo do risco resultante de diagnósticos incorrectos por força das campanhas que condicionam médicos e consumidores a sobrevalorizarem sintomas normais, como é o caso de comportamentos hiperactivos e perda de atenção nas crianças.
Em jeito de conclusão aqui ficam dois locais (http://www.plos.org/disease-mongering/ - http://www.diseasemongering.org/) onde podem encontrar informação mais detalhada sobre o tema, e ainda o alerta para a necessidade de combatermos este e qualquer outro tipo de comportamento induzidos.
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