Foi anunciado esta manhã que o governo francês desistia do polémico artigo 8º da nova lei de igualdade de oportunidades, que consagrava a possibilidade de despedimento sem justificação durante os primeiros 24 meses de trabalho dos jovens até aos 26 anos.
Foi o próprio primeiro-ministro, Dominique de Villepin, que fez o anúncio formal da decisão tomada conjuntamente com o presidente da república, Jacques Chirac, a qual inclui a substituição do referido artigo por outro prevendo um mecanismo de inserção no mercado de trabalho adequado aos jovens.
Não tardaram as reacções, que naturalmente vão desde o clamor pelo “atentado ao estado de direito”, subscrito pelo ultra-direitista Jean Marie Le Pen, até à satisfação das organizações estudantis e sindicais que mesmo assim mantiveram o apelo à manutenção da mobilização, tanto mais que o teor da alteração apresentada ainda é desconhecido.
Mesmo ignorando-se o teor concreto da nova proposta, parece um dado adquirido que os opositores ao CPE lograram uma vitória e, mais importante que isso, mantiveram a tradição e a importância das acções populares em França. Independentemente das muitas reacções críticas à proposta de Villepin, foi sem sombra de dúvidas a capacidade de mobilização e resistência das organizações estudantis que asseguraram, após 10 semanas de encerramento das escolas e de constantes manifestações de rua, o recuo do governo. Sem esquecer o papel das associações sindicais, que numa segunda fase também contribuíram com greves e avolumaram as manifestações, não há dívida que esta foi mais uma vitória dos estudantes franceses.
Não se trata aqui de estabelecer qualquer paralelo com o célebre Maio de 1968, nem reavivar “velhas glórias” ou saudosismos serôdios, mas tão só vincar que apesar das muitas limitações que a pouco e pouco têm vindo a ser criadas para desincentivar as movimentações populares, estas ainda podem conseguir fazer ouvir a sua “voz” e impor a sua vontade à dos governos.
Resta agora aguardar para ver como se efectuará o realinhamento de posições no interior do governo de Villepin e do UMP (partido da coligação governamental liderado pelo ministro do interior, Nicolas Sarkozy), qual o teor concreto da nova proposta e das consequências para as sociedades francesa e europeia, sabendo-se que noutros países da UE os respectivos governos acompanhavam com indisfarçado interesse os desenvolvimentos em torno do polémico CPE, enquanto as estruturas estudantis parecem determinadas a manter o encerramento das escolas e as manifestações agendadas até completo esclarecimento das intenções governamentais.
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