terça-feira, 25 de abril de 2006

O MEU 25 DE ABRIL

Mais de três décadas após o 25 de Abril de 1974, já tudo (ou praticamente tudo) terá sido dito sobre ao assunto. Para os que o viveram foi sem dúvida um marco importante nas suas vidas (quer o tenham abraçado ou rejeitado), tanto mais que pouco voltou a ser como era.

Apoiando ou contestando, defendendo ou criticando, toda uma geração cresceu e amadureceu à sua sombra. Sinal dos tempos ou revolta de um povo… golpe militar ou revolução… parece-me difícil negar a relevância do acontecimento, em especial para aqueles, como eu, que o viveram na alvorada da maturidade.

Haverá algo mais arrebatante que a sensação de escrever a história? Mesmo quando mais tarde a realidade nos atinge de modo brutal e nos derruba, a forma como nos erguemos não é igual há de milhões de outros que não foram derrubados, mas também não o viveram!

Para os que estivemos com um «pé cá» e outro «pé lá» (fosse por causa da guerra colonial ou outro motivo), termos ficado, rido e chorado, ajudarmos a construir uma democracia que só conhecíamos de «ouvir falar», pode ter sido um momento alto nas nossas vidas, que temos a obrigação de ensinar aos mais novos. Assim, o debate sobre as modificações da sociedade portuguesa seria tema interessante mas cuja extensão e polémica ultrapassa em muito a intenção de um breve post sobre o 25 de Abril, mas para o futuro (e espero que com a concordância de todos) ficaram as importantes mudanças de natureza cultural. Enterrado o ruralismo retrógrado e bacoco tão glorificado pelo Estado Novo, foram abertos caminhos para a exploração de outras realidades; o «lá fora» deixou de ser uma miragem para muitos e naturalmente foram-se criando oportunidades para os de «cá de dentro» ensaiarem perspectivas culturais diversificadas (com sucessos proporcionais ao empenhamento dos seus mentores) e potenciadoras de novos caminhos e novas experiências.

Com tudo o que de bom e de mau teve o período que se seguiu ao 25 de Abril de 1974, deverão a actual e as futuras gerações entendê-lo como uma época em que após meio século de ditadura e repressão, a liberdade chegou à rua...

E que melhor forma de a recordar e de a preservar que com as palavras de José Régio:
«Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
Sei que não vou por aí
»

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