domingo, 2 de novembro de 2008

LOUCAS... MAS ACEITÁVEIS!

Por estranho que possa parecer as notícias difundidas sobre um presumível plano para o assassinato de Barack Obama[1], fizeram-me recordar, além de outras de idêntico conteúdo mas um pouco mais antigas[2], alguns comentários que li sobre a recente chamada ao território norte-americano de uma brigada de combate colocada no Iraque.

No início de Outubro a 1ª Brigada da 3ª Divisão de Infantaria do Exército norte-americano, designada por BCT (Brigade Combat Team) especialmente treinada para a guerrilha urbana foi intencionalmente reposicionada numa base aérea em Colorado Springs, com a anunciada missão de defesa do território nacional e como força de resposta para emergências naturais ou provocadas, incluindo os actos de terrorismo, segundo referiu o ARMY TIMES.

Tudo isto já levou o movimento de direitos cívicos ACLU (American Civil Liberties Union) a solicitar explicações às entidades oficiais sobre o assunto, mas para já no contexto do processo eleitoral em curso e NO do agravamento da situação financeira e económica global, como se poderão interpretar estas notícias?

Estará a administração Bush tão receosa de um levantamento popular anti-crise que preveja a antecipada necessidade de recurso a uma medida – o uso das forças armadas no território nacional – que lhe está formalmente interdita pela legislação em vigor[3]?

Ou a origem dos seus receios é outra bem diversa e tudo o que pretende é apenas um pretexto para a imposição da lei marcial, algo possível se atentarmos no enorme empolamento que foi dada à notícia da tentativa de assassinato de Obama, especialmente se tivermos em conta uma leitura atenta do teor da própria notícia. Alguém de bom senso e na posse plena das suas faculdades acredita que dois jovens, dotados de um vasto arsenal constituído por uma caçadeira de canos serrados e equipados com um plano estruturalmente perfeito como o de após um assalto a um armeiro usarem uma viatura a alta velocidade para dispararem sobre o candidato, constituem uma verdadeira ameaça? ou pretende apenas que alguém acredite porque a notícia circulou nas televisões?

É que a reconhecida tradição entre o público americano de atribuir enorme credibilidade às suas cadeias de televisão pode bem ser usada, à semelhança do que ocorreu na sequência do 11 de Setembro de 2001, como meio ideal para manipular o mínimo incidente no período eleitoral e permitir à clique neoconservadora perpetuar-se no poder.

Esta ideia, impensável em qualquer país da actual UE, pode muito bem constituir não apenas uma jogada desesperada daquela facção mas até uma reacção aceitável para o caso de insucesso da estratégia de manipulação eleitoral que já começa a ser exposto em alguns círculos americanos, como é o caso deste artigo publicado na revista ROLLING STONE onde são denunciadas manobras para inviabilizar o voto nas comunidades consideradas como tradicionais apoiantes dos Democratas[4].

Nem estes casos constituem novidade absoluta nem estará ainda ultrapassada aquela que se poderá revelar como a grande barreira que ainda separa do seu objectivo o candidato favorito nas sondagens; não é apenas o ainda muito arreigado sentimento racista – em caso de vitória Obama será o primeiro não branco a ocupar a Sala Oval da Casa Branca – cujo efeito final nas urnas ainda não pode ser quantificado[5] que mantém viva a incógnita, porque ainda se encontra bem fresca na memória de todos os logro (e a farsa) que foi o processo eleitoral em 2000, quando a “maior democracia do Mundo” não conseguiu eleger o seu presidente e acabámos por assistir à nomeação do candidato cujo pai tinha escolhido a maioria dos juízes do Supremo Tribunal.

Posto isto, todas as conjecturas são aceitáveis!

Loucas… perigosamente loucas, mas aceitáveis.
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[1] Entre muitas outras possíveis, destaco esta da BBC por me parecer uma das mais equilibradas.
[2] Destas a primeira que localizei foi publicada pelo TELEGRAPH.
[3] As leis em questão são o Posse Comitatus Act e o Insurrection Act que limitam o poder do governo federal no que respeita ao recurso às forças armadas (Guarda Nacional aparte) para desempenho de missões no interior do território da União.
[4] Este não foi o único caso de tentativa de manipulação do acto eleitoral; recentemente saiu na imprensa a notícia de que associações cívicas (apoiantes de Obama) estavam a recensear cidadãos sem capacidade eleitoral (nos EUA não é reconhecido o direito de voto a condenados e ex-condenados) e até pessoas fictícias; é este o caso desta notícia da ASSOCIATED PRESS que refere o caso concreto de membros da ACORN (Association of Community Organizations for Reform Now), associação que defende os direitos das famílias de mais baixos rendimentos, serem acusados de encher as listas de recenseamento com eleitores fictícios. Este não foi o único caso polémico durante a campanha que envolveu a ACORN, pois o próprio candidato John McCain a acusou da responsabilidade directa na crise do “subprime”, por a associação defender o direito dos mais pobres acederem ao crédito.
[5] Cabe aqui recordar o chamado efeito Bradley, assim designado a partir da data em que Tom Bradley perdeu a eleição para Governador da Califórnia em 1982 para um candidato branco que todas as sondagens diziam derrotado. Na prática o efeito Bradley resume-se na discrepância observada entre as intenções anunciadas de voto (sondagens) e o resultado final da votação quando nesta se confrontam um candidato branco e outro negro, a qual poderá ser justificada pelo facto dos eleitores sondados não manifestarem a sua real preferência por receio de crítica ou acusação de racismo.

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